(SUBSÍDIO TEOLÓGICO) LIÇÃO 13/2017- A FAMÍLIA E A SUA NATUREZA

          
 
O tema “família” é vasto e complexo porque abrange a diversas áreas do saber humano. No contexto religioso, envolve a área bíblica, teológica e doutrinária; no campo social, envolve sociologia, antropologia, psicologia e o campo jurídico. Desde a Antiguidade, os judeus tinham uma legislação específica sobre o assunto, a interpretação dos diversos preceitos sobre da Lei de Moisés relativos à família na sua amplitude. É a terceira parte da Mishná, intitulada, Nashim, “mulheres”, que legisla sobre noivado, casamento e divórcio. A Mishná é a segunda parte do Talmude, antiga literatura judaica, a Lei Oral identificada no Novo Testamento como a “tradição dos anciãos” ou “dos antigos” (Mt 15.2; Mc 7.3).

         Muitas obras sobre o tema aqui em tela já foram publicadas com grande sucesso, trazendo bênçãos para as igrejas, e vários seminários sobre a família são promovidos pelas igrejas, e têm sido uma bênção. Não se pretende aqui repetir o que os outros já disseram com clareza e muita propriedade, nos seus escritos e seminários. O enfoque do presente estudo se restringe a alguns pontos já conhecidos dos crentes, como reiterar e reafirmar alguns aspectos da tradição cristã com respeito ao conceito de família, reiterando os princípios do casamento estabelecido por Deus na criação: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2.24), da monogamia, da heterossexualidade e de sua indissolubilidade.
A Igreja, como um povo especial, zeloso e de boas obras, está muito distante de tais práticas, e os crentes em Jesus jamais terão formadores de opinião como referência.

O CONCEITO DE FAMÍLIA
         Os dois principais termos hebraicos para “família” no Antigo , â, “família, clã, parentes”, e bayît. Testamento são mishpah “casa, lar, templo, família”. Mas o termo “família” na Bíblia tem significado amplo; pode indicar o lar, o clã, a tribo e a própria nação, como também uma dinastia e até a Igreja. Mas o sentido que nos interessa aqui é família composta de pai e mãe ou pai, mãe e filhos, a família nuclear (Gn 35.2; Hb 11.7).
         No entanto, a família nuclear é também identificada como “casa” nas Escrituras Sagradas: “Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Js 24.15); “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (At 16.31). Está claro em Josué 7.14-18, no â. O significado de mishpah caso do pecado de Acã, na ordem para determinar por sorteio o ( â. shebet), depois a família [mishpah culpado, primeiro a tribo [ em seguida a casa [bayît] (vv. 14, 17, 18).
         Essa mesma ordem reaparece mais adiante: “Fazendo chegar a tribo de Benjamim pelas suas famílias, tomou-se a família de Matri; e dela tomou Saul, filho de Quis” (1 Sm 10.21); “Não sou eu o menor da tribo de Benjamin? E a minha família, a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim?” (1 Sm 9.21). A tribo é a shebet de â de Matri, de onde a família ou clã é a mishpah Benjamim, procedeu o pai de Saul, Quis. A ordem é a seguinte: tribo, clã e família nuclear.
          O clã é a família estendida. A palavra bayît indica geralmente os moradores de uma única casa, ao passo que é uma subdivisão da tribo. â. mishpah A família no contexto deste capítulo é a nuclear, composta de pai, mãe e filhos (Sl 128.1-4). Nem todos os casais têm filhos, ou seja, não é sempre que a família tem filhos. Abraão e Sara só tiveram Isaque já avançados em idade e em cumprimento das promessas de Deus (Gn 18.9-15); da mesma forma, Zacarias e Isabel só tiveram João Batista na velhice (Lc 1.5-25). O termo “família” expressa em si mesmo a ideia de que o homem não foi criado para viver só, isolado e na solidão, mas em amor, companheirismo e responsabilidade de pacto (Gn 2.18).13 Família é um conceito de pacto, que une um homem e uma mulher (Ml 2.14). O casamento é o início de uma nova família, um novo lar, uma nova vida que começa como realização dos sonhos dos noivos.
         O casamento é uma instituição estabelecida pelo Criador (Gn 2.18-24) e sancionada pelo Senhor Jesus Cristo, com sua presença nas bodas de Caná da Galileia (Jo 2.1-6). Consiste na união de um homem e uma mulher que se amam e se respeitam.
É a melhor e a mais sólida estrutura social que Deus estabeleceu, com três propósitos, a saber: a) para que o casal edifique um altar de adoração a Deus em seu lar; b) para a felicidade humana; c) para conservar a raça humana sobre a terra – a procriação. O apóstolo Paulo ressaltou a pureza e a santidade do ato conjugal ao compará-lo com a união mística entre Cristo e a sua Igreja (2 Co 11.2; Ef 5.22-33).
         A família não é invenção humana; ela é sagrada e foi instituída por Deus na criação: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1.27, 28) e ratificada e sanificada pelo Senhor Jesus com a sua presença no casamento de Caná da Galileia (Jo 2.111).
         As palavras “macho e fêmea os criou” mostram que o homem, ’adam, em hebraico aqui, significa ser humano. A recente edição da Bíblia, Nova Versão Transformadora (NVT), traduz assim o v. 27: “Assim, Deus os criou seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou”, explicando no rodapé o significado ’adam.
Sem dúvida, o relato da criação aqui remete à igualdade ontológica de ambos (Gl 3.28), pois ambos são portadores da imagem divina; a diferença é em sexualidade (1 Pe 3.7).
         A Bíblia ilustra essa união entre um homem e uma mulher com a comunhão de Deus com seu povo Israel (Is 54.5) e de Cristo com a sua Igreja (2 Co 11.2; Ef 5.22-33). Deus instituiu a família para a procriação do gênero humano sobre a terra, para a multiplicação da espécie humana: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra”, e para o bem-estar espiritual, emocional e físico, o companheirismo e a felicidade do casal, isto é, do homem e da mulher (Gn 2.18-25). Ao unir esse casal, Adão e Eva, estava Deus instituindo o casamento. É de Myer Pearlman essa declaração: “A natureza dessa união foi instituída por Deus com o primeiro casal humano, Adão e Eva, lá no jardim do Éden; seu propósito foi proporcionar felicidade à raça humana. Desde então os seres humanos a têm praticado, e, para dar-lhe consistência, a têm legalizado. Pode dizer-se que o matrimônio é o contrato legal de uma união espiritual” (PEARLMAN, 1987, pp. 6, 7).
         A família é um dos temas importante da Bíblia. A atenção que Deus dá a família não deve passar despercebida. A família consta desde o relato da criação. O Gênesis é o livro das origens de todas as coisas: dos céus e da terra, do homem e do pecado, do sacrifício e da promessa de redenção, do casamento e da família, do homicídio, das nações, das línguas e da nação de Israel. A historicidade dos seus três primeiros capítulos é confirmada em toda a Bíblia. Há no Decálogo pelo menos três preceitos em defesa da família – o quinto: “Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12; Dt 5.16), o sétimo: “Não adulterarás” (Êx 20.14; Dt 5.18), e
o último: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Êx 20.17; Dt 5.21). A Lei de Moisés dispõe de diversos preceitos para proteger a família. O Antigo Testamento traz diversos conselhos e orientações para a harmonia e a alegria no lar. O Novo Testamento não é diferente. Quando o Senhor Jesus Cristo trata do assunto do divórcio, condenando o adultério e toda a formação de prostituição, e mencionando os preceitos do Decálogo, está na mesma linha do Antigo Testamento. O apóstolo Paulo é mais específico no aconselhamento de casais e no relacionamento de pais e filhos (1 Co 7.1-40; Ef 5.22-33; 6.1-4; Cl 3.18-21; 1 Tm 2.9-15; 3.4, 5, 8-16; Tt 2.1-8). O apóstolo Pedro também aconselha os casais (1 Pe 3.1-7).
         O ensino transmitido pelas famílias cristãs aos filhos é uma contribuição importante na construção de uma sociedade justa e solidária. Mas o mundo espera uma solidariedade sem Deus, e paz e justiça sem Jesus; o modelo mundano é uma afronta a Deus, por isso os expoentes ateus e incrédulos veem na família uma ameaça e assim procuram eliminá-la com suas leis. Tudo o que é de Deus ou provém dele é odiado pelo reino das trevas. Jesus disse: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim” (Jo 15.18). Daí esse desprezo pela família cristã.


PRINCÍPIOS BÁSICOS
         São três os princípios básicos originais do casamento estabelecido pelo Criador: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2.24). O fato de o homem deixar pai e mãe e “apegar-se-á à sua mulher” remete a dois princípios fundamentais: a heterossexualidade, pois o casamento é entre um homem e uma mulher; e a monogamia, porque está escrito “à sua mulher” e não “às suas mulheres”. O homem deve se casar com uma só mulher.
O terceiro princípio original é o da indissolubilidade, “e serão ambos uma carne”.
         A heterossexualidade é o relacionamento conjugal com aprovação divina dentro do casamento. Quando Deus disse:
“Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1. 28), estava se referindo ao casal “macho e fêmea” (v. 27). Isso diz respeito à procriação, que só é possível pelo ato conjugal entre um homem e uma mulher. Com o avanço dos recursos científicos, é possível o invento de muitas coisas, mas esses princípios são invioláveis, a heterossexualidade e dentro do casamento, numa relação sexual responsável. Ninguém tem o direito de fazer o que quiser com o seu corpo, pois está escrito que ele pertence a Deus e não a nós mesmos (1 Co 6.20; 7.23), e nem a outrem sem responsabilidade.
A ideia gnóstica é de que o corpo é por natureza mau, mas não danifica a pureza do espírito; assim pode-se fazer dele o que quiser é completamente falsa, pois Deus veio ao mundo num corpo (Jo 1.14; Hb 10.5), o nosso corpo é a morada de Deus e do Espírito Santo (1 Co 3.16; 6.19) e Deus irá ressuscitá-lo (1 Co 15.42). Assim, o corpo deve ser conservado em santidade (1 Ts 5.23). A heterossexualidade é pecado fora do casamento; isso se chama adultério ou fornicação.
         A prática homossexual é condenada de ponta a ponta na Bíblia (Gn 19.4, 5; Lv 18.22; 20.13; Jz 19.22; Rm 1.24-28; 1 Co 6.10; 1 Tm 1.9, 10; Jd 7); mesmo assim, há um esforço concentrado de eliminar essa condenação exarada no Livro de Deus, até mesmo por alguns “teólogos”. Eles podem até convencer as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde, os parlamentares do mundo inteiro, todos os governantes da terra, mas jamais poderão convencer o Deus do céu, autor da Bíblia.
         A monogamia é o sistema que estabelece o casamento de um homem com uma única mulher e vice-versa, estabelecido por Deus na criação: “apegar-se-á à sua mulher” (Gn 2.24). O texto não diz “às suas mulheres”; este é o princípio original. O vocábulo vem de dois termos gregos: monós, “único”, e gamos, “casamento”. O sistema monogâmico é o oposto da poligamia e da poliandria.14 O modelo divino original é resgatado no cristianismo, a começar pelo Senhor Jesus ao ratificar a instituição no relato da criação (Mt 19.4-6). O apóstolo Paulo também reafirma esse princípio: “Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido” (1 Co 7.2). E, mais adiante, nos requisitos para os presbíteros, cujo ensino vale para todos os cristãos, o apóstolo afirma: “marido de uma só mulher” (I Tm 3.2). Havia no começo do cristianismo muitas famílias polígamas, provenientes tanto dos judeus como dos gentios. Eram situações que não podiam ser facilmente resolvidas. Essas pessoas abraçaram o evangelho de Jesus, nasceram de novo. O que deviam fazer com suas mulheres e filhos? Muitos ficaram assim, nessa condição, mas não podiam exercer cargos na Igreja.
         O termo “poligamia” vem de duas palavras gregas: polys, “muito”, e gamos, “casamento”. Trata-se do sistema social que permite a um homem se casar com mais de uma mulher ao mesmo tempo, e isso foi introduzido pelo pecado (Gn 4.19). No antigo Oriente Médio, era mais uma ostentação de poder (1 Rs 11.1-3). A poligamia nunca foi um mandamento; simplesmente aparece na legislação mosaica (Êx 21.9, 10; Dt 21.15). Os judeus abandonaram essa prática, mas os muçulmanos ainda a mantêm.
         Ela não aparece no Antigo Testamento depois da monarquia, exceto no caso de alguns reis, como Davi e Salomão, isso mostra que nesse período não era estilo de vida do povo, mas exceção.
         A indissolubilidade do casamento está no propósito divino desde o princípio da criação, como disse Jesus: “Não tendes lido que, no princípio, o Criador os fez macho e fêmea e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem” (Mt 19.4-6). O Senhor Jesus está dizendo que a vontade de Deus expressa nas palavras de Gênesis 2.24 é a indissolubilidade. Isso é da natureza do casamento, independentemente da confissão religiosa dos nubentes. Deus está presente no voto solene durante o pacto do casamento, a cerimônia, qualquer que seja o regime, cultura regional ou época. Essa verdade está presente numa repreensão divina à falta de fidelidade conjugal: “Porque o SENHOR foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher do teu concerto” (Ml 2.14). Assim, o casamento é mais que um contrato jurídico; é uma união espiritual e indissolúvel.
         O divórcio é um remédio amargo para uma solução inglória. A Bíblia não incentiva nem encoraja o divórcio (1 Co 7.10, 11); apenas o permite em situações específicas por causa da pecaminosidade humana (Mt 19.7, 8). Em termos genéricos, pode-se afirmar que casamento só termina pela morte de um dos cônjuges (Rm 7.4), pela infidelidade conjugal (Mt 5.31; 19.7) ou pela deserção por parte do cônjuge descrente (1 Co 7.14, 15). A nota de rodapé sobre 1 Coríntios 7.8-16 da Bíblia de Estudo Apologia Cristã, publicação da CPAD, conclui assim o assunto:
         Paulo não estava contradizendo o ensinamento de Jesus, nem fazendo acréscimos a ele, mas aplicando-o a um contexto particular. As Escrituras apresentam duas claras infrações ao concerto do casamento (Gn 2.24; Mt 19.5): a deserção (que infringe a instrução de “apegar-se”) e o adultério (que infringe a instrução de ser “uma só carne”); em minha opinião, estas infrações são motivos legítimos para o divórcio (e, portanto, um novo casamento). Onde esta ruptura não tiver ocorrido, o novo casamento depois do divórcio não é opção aceitável. Quando possível, todavia, a reconciliação é o ideal.
         O cônjuge vítima de traição e de deserção não estará em adultério se contrair novas núpcias.
Pacto é o mesmo que uma aliança, um concerto; o termo vem do hebraico berît e do grego diatheke, é uma obrigação entre pessoas, como amigos, marido e mulher; entre grupos de pessoas; ou entre divindade e indivíduo ou um povo. O verbo “fazer” presente em “fazer aliança, pacto, concerto” corresponde ao hebraico karat berît, que literalmente significa “cortar aliança, pacto ou concerto”. Isso porque sua origem está no sacrifício de animais que são partidos ao meio durante a cerimônia de um pacto (Gn 15.9-18; 31.44-54).
         A poliandria é o sistema social e familiar que inclui a pluralidade de maridos; é a poligamia às avessas, quando uma mulher pode ter mais de um marido ao mesmo tempo. Não é muito comum, mas ainda pode ser visto na região do Tibet.

EXTRAÍDO DO LIVRO CUJA INFORMAÇÕES ABAIXO.

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