LBA- LIÇÃO 7 – SUBSÍDIO TEOLÓGICO - A NESSECIDADE DO NOVO NASCIMENTO .

A fidelidade a uma religião nem sempre significa fidelidade a Deus. Saulo de Tarso é o exemplo clássico disso.  Religiosidade e novo nascimento são distintos. Quando alguém se converte ao cristianismo, essa pessoa precisa de cuidados espirituais, de um domicílio espiritual. Assim como um membro do corpo não pode se manter separado dele, o mesmo é válido para os que foram regenerados pelo Espírito Santo. Isso significa que todos os cristãos são religiosos, muitos já eram antes, outros não, mas agora trata-se de uma nova experiência com Cristo. Todos os que são transformados e regenerados pelo Espírito Santo são religiosos, pois estes são geralmente membros de igrejas e no mínimo participam dos cultos, fazendo-se presentes na adoração coletiva. Mas nem todos religiosos são cristãos e, mesmo pertencendo a uma religião cristã, isso não significa necessariamente que sejam regenerados.

RELIGIÃO
         A palavra “religião” chegou à língua portuguesa pelo latim. Veio de religare ou religere, cuja etimologia não lança muita luz sobre o termo, no sentido em que se emprega hoje. Segundo Richard A. Muller (1993), o termo latino religio significa:
         “Religião; religião verdadeira é mais simplesmente definida por eruditos protestantes com a ideia correta do conhecimento e da honra a Deus (recta Deum cognoscendi et colendi ratio), envolvendo conhecimento de Deus (cognitio Dei), amor de Deus (amor Dei...) e temor de Deus (timor Dei), dirigindo para a honra ou a veneração (cultus ...) de Deus”.
         Jerônimo usou o termo latino religio na Vulgata Latina para traduzir a palavra grega threskéia, “religião, culto, piedade”, que aparece quatro vezes no texto grego do Novo Testamento:
“Conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu” (At 26.5); “com pretexto de humildade e culto dos anjos” (Cl 2.18); “Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã. A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1.26, 27).
         O termo threskéia se refere a uma expressão externa de crença. É verdade que muitas vezes o cristão hesita em usar a palavra “religião”, pois prefere substituí-la por “minha fé” ou pela “igreja à qual pertenço”, em vez de “minha religião”. Isso acontece pelo fato de ser o cristianismo diferente de todas as religiões do mundo! Está acima de todas, principalmente porque o seu Fundador é vivo!
         No Antigo Testamento usa-se com frequência a palavra hebraica ‘avôdâ, que significa “trabalho, serviço, serviço sagrado, culto religioso”; por exemplo: “Ao SENHOR teu Deus temerás e a ele servirás” (Dt 6.13). A Septuaginta traduziu esse termo por latreusis, também usado pelo Senhor Jesus na tentação do deserto: “Ao SENHOR, teu Deus, adorarás e só a ele servirás” (Mt 4.10) ou “Ao SENHOR, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (ARA). O substantivo latreia significa “serviço sagrado, culto, adoração”.
         A palavra dát, que aparece no Antigo Testamento, é de origem semítica e usada nas línguas aramaica e hebraica. A ideia em aramaico é de “lei, ordem, decreto”. A lei, dat, em aramaico, segundo Gesenius, tem o sentido de sistema de religião: “Nunca encontraremos motivo para acusar Daniel, a não ser que seja alguma coisa que tenha a ver com a religião dele” (Dn 6.5 – NTLH); “e cuidará em mudar os tempos e a lei” (Dn 7.25) ou: “Procurará mudar a Lei de Deus e os tempos das festas religiosas” (NTLH).10 Isto significa que o anticristo tentará implantar uma nova religião. Gesenius afirma ainda que: “Os rabinos aplicaram esta palavra ao cristianismo e ao islamismo” (GESENIUS, 1982, p. 211). Ainda hoje em Israel, dat é a palavra usada para “religião”, a mesma empregada na versão hebraica do Novo Testamento, em Atos 26.5. Mas o termo significa também “lei” em hebraico, como aparece com frequência no livro de Ester (1.8, 13, 15, 19; 2.14; 3.8 etc.) ou ainda “ordem, edito, decreto” (Ed 8.36).

O NOVO NASCIMENTO
         Novo nascimento é regeneração, transformação de vida pelo poder atuante do Espírito Santo na vida do pecador (Tt 3.5). Não se trata simplesmente de mudança de hábito ou de pertencer a uma nova religião. A ideia de que o propósito de Deus é levar as pessoas à religião é falsa. Geralmente se ouve dizer que determinada pessoa precisa de religião. É até compreensível, pois quem se expressa dessa maneira, às vezes, está querendo dizer que tal pessoa precisa de Jesus. Mas há religiões que ensinam e acreditam que basta ter uma religião e estará tubo bem diante de Deus. Mahatma Gandhi dizia que não há necessidade de se converter a Cristo, basta ser bom religioso: o cristão, bom cristão; o muçulmano, bom muçulmano; o hindu, bom hindu, e assim por diante.
         Há no islamismo a ideia de que Deus estabeleceu ao longo da história três religiões: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Os muçulmanos acreditam que Deus enviou primeiro Moisés para estabelecer o judaísmo, mas, dada a desobediência dos judeus, eles foram dispersos pelo mundo todo e depois Deus enviou Jesus para estabelecer o cristianismo. Porém, no século 5, o cristianismo corrompeu-se tanto que Deus enviou Maomé a fim de estabelecer o islamismo, “sua revelação final”. Eles creem que o islamismo inclui tanto o judaísmo como o cristianismo.
         Essa ideia islâmica destoa completamente do pensamento bíblico. O Senhor Jesus não veio ao mundo porque os judeus desobedeceram a Deus, mas para salvar os pecadores: “Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15), e isso já havia sido anunciado pelo próprio Deus desde a Queda do Éden: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Além disso, a Igreja veio para ficar: “e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18); “a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” (Ef 3.21). A validade da obra redentora realizada pelo Senhor Jesus é para sempre: “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25). O cristianismo, portanto, não precisa de remendo.
         Apesar da contribuição da religião na construção de uma sociedade melhor na avaliação deles, ela em nada ajuda na salvação ou na transformação de vida do pecador. Não basta ser bom religioso, Gandhi estava equivocado. Nicodemos, Cornélio e Saulo de Tarso, entre tantos outros, eram também bons religiosos; no entanto, Jesus disse que Nicodemos precisava nascer de novo para ver o reino de Deus (Jo 3.1-5); Cornélio precisou se converter a Cristo (At 10.1-6), e Saulo, com toda a sua inceridade e religiosidade (At 26.5; Gl 1.14), reconheceu depois de sua experiência com Jesus no caminho de Damasco o seu estado de miséria espiritual: “a mim, que, dantes, fui blasfemo, e perseguidor, e opressor; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade” (1 Tm 1.13), e conclui afirmando ser o “principal dos pecadores” (1 Tm 1.15).
         A vontade de Deus não tem nada que ver com religião; o que Ele deseja é a comunhão com suas criaturas inteligentes. Quando Adão pecou no Éden, ele e sua mulher por si mesmos procuraram se esconder do Criador, mas a iniciativa de comunhão de uma relação que acabara de ser rompida foi do próprio Deus (Gn 3.710).
         Quando Deus mandou Moisés construir o tabernáculo, disse: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êx 25.8).
Era o lugar santíssimo, também chamado de “santo dos santos” (1 Rs 6.16; Hb 9.3), uma das dependências do tabernáculo, onde ficava a arca da aliança (Êx 26.33; Lv 16.2, 3). Nesse lugar santíssimo, Deus se revelava aos filhos de Israel e falava ao povo, a princípio por meio de Moisés (Êx 25.22; Nm 7.89) e depois falava com o povo por meio do sumo sacerdote (1 Rs 8.10, 11). A importância do tabernáculo e posteriormente do templo não estava nos sacrifícios, mas na presença de Deus. Tudo isso se consumou na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). O restabelecimento da plena comunhão com Deus por Jesus Cristo será no mundo vindouro: “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus” (Ap 21.3).
         A vontade de Deus não é que as pessoas se tornem religiosas, mas a sua comunhão com elas. Essa comunhão com Deus é restabelecida no novo nascimento: “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). É assim que o pecador é transformado e regenerado pelo poder do Espírito Santo.

         Algumas porções do Antigo Testamento foram escritas originalmente em aramaico, sendo preservadas até hoje nessa língua. São elas: Jeremias 10.11 e duas palavras em Gênesis 31.47, além de Esdras 4.8–6.18; 7.12-26 e Daniel 2.4–7.28.

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