“ SUBSIDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 02 Adulto ” 3º Trim 2017-- DEUS E A CRIAÇÃO

O enfoque do presente capítulo é a unicidade do Deus Pai Todo-poderoso e Criador do universo. A declaração de fé dos ateus é “Deus não existe”, o oposto da confissão cristã. A Bíblia não é uma apologia à existência de Deus; não há nela a preocupação em comprovar que Deus existe. A existência de Deus é um fato consumado, uma verdade primária que não necessita ser provada, pois Ele transcende à existência. O conhecimento humano sobre a existência do Criador está na própria intuição e razão no interior das pessoas (Rm 1.20, 21; 2.14, 15). A Bíblia é a única fonte confiável e confirma a experiência humana.

A PRIMEIRA DECLARAÇÃO DOS CREDOS
            Os principais credos ecumênicos apresentam características especiais existentes em Deus. O Credo dos Apóstolos declara:
“Creio em Deus Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra”; da mesma forma o Credo Niceno afirma: “Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis”; e o Credo Niceno-Constantinopolitano reafirma a fórmula nicena:
“Cremos em um só Deus, o Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis”. Alguns dos antigos credos locais dos primeiros cinco séculos da história da Igreja serviram como a base dessas formulações ecumênicas.
Todas essas declarações a respeito de Deus afirmam que Ele é um, exceto o Credo dos Apóstolos, que é Pai Onipotente ou Todo-Poderoso e Criador de todas as coisas. Trata-se da revelação bíblica posta de maneira sistemática. Há nas Escrituras provas abundantes que fundamentam essas declarações dos credos.
Muitos outros credos regionais dos cinco primeiros séculos dizem a mesma coisa, empregando, às vezes, fraseologia similar. São informações importantes, pois falam que o nosso Deus é único, que é Pai, que é o Todo-poderoso e Criador de tudo o que há no Universo. Tais declarações nada mais são do que interpretações precisas das Escrituras que serviram para proteger a fé cristã do politeísmo e da idolatria dos gentios e os cristãos das heresias.
Isso se reveste de uma importância especial na época, quando os gnósticos ganhavam espaço no seio da Igreja.
            O gnosticismo atingiu o apogeu entre 130 e 170 d.C., mas o movimento já existia antes. O termo “gnosticismo” vem do grego gnōsis, que significa “conhecimento”. Trata-se, grosso modo, de um enxerto das filosofias pagãs nas doutrinas vitais do cristianismo. Sua marca registrada era o sincretismo. Suas ideias sobre a identidade de Jesus eram estranhas ao Novo Testamento e as ideais sobre Deus eram ainda mais exóticas. A escola
gnóstica de Valentino (aproximadamente 130-170 d.C.) ensinava a existência de inúmeros seres eternos que viviam em perfeita harmonia, sendo o Pai do Universo um deles. Nesse modelo gnóstico, um dos seres eternos, Sofia, “sabedoria” em grego, teria destruído essa harmonia ao criar mundos para si, na tentativa de imitar o pai do Universo, e o resultado foi sua expulsão do reino divino. Essa tentativa resultou no demiurgo, do grego demiurgos, “artesão”, um deus criador inferior que aparece no diálogo de Platão intitulado Timeu. Para os gnósticos, o demiurgo criou o mundo físico. Outra linha de pensamento gnóstica era de Marcião, falecido em 165 d.C. Ele ensinava que o Deus do Antigo Testamento era inferior e até mesmo defeituoso; e dizia ainda que não era esse o mesmo Deus do Novo Testamento. Na sua mensagem, pregava que Jesus revelou um Deus até então
desconhecido, por isso todos os cristãos deviam rejeitar tanto o Antigo Testamento quanto o seu Deus. Assim, a declaração “Creio em Deus Pai Todo-poderoso Criador do céu e da terra” é um ato de adoração a Deus a quem damos crédito. A ideia aqui diz respeito “àquele que governa tudo, que controla tudo”, para enfatizar o poder e a soberania de Deus em governar todo o universo. Isso neutralizava o pensamento marcionita que ensinava
ser o universo criado e governado por demiurgos, e não pelo grande Deus Javé de Israel, revelado no Antigo Testamento. Paul Tillich, teólogo luterano e filósofo, diz o seguinte sobre as palavras iniciais do Credo dos Apóstolos, o que, sem dúvida, vale também para os outros: “Deveríamos pronunciar essas palavras com grande reverência, porque, por meio dessa confissão, o cristianismo se separou da interpretação dualista da realidade presente no paganismo... O primeiro artigo do Credo é a grande muralha que o cristianismo ergueu contra o paganismo. Sem essa separação a cristologia seria mais do que um dos poderes cósmicos entre outros, embora, talvez, o maior deles” (TILLICH, 2004, p. 41).
O DEUS DAS ESCRITURAS
O Deus da Bíblia é o mesmo Deus dos credos. A diferença está apenas na forma de apresentação, não na essência divina. A Bíblia é a Palavra de Deus para todos os seres humanos; o credo é a resposta do homem a Deus. Assim, os credos em sua forma embrionária estão presentes na Bíblia: “Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é único SENHOR” (Dt 6.4). Deus é um em essência ou natureza, subsistindo por Si mesmo; só o SENHOR é Deus: “Eu
sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim não há deus...” (Is 45.5). Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou o monoteísmo como parte do primeiro de todos os mandamentos: “... Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Mc 12.29); “... com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele” (Mc 12.32); “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro...” (Jo 17.3).
            O apóstolo Paulo declara: “Todavia para nós há um só Deus” (1 Co 8.6); “Ora o medianeiro não é de um só, mas Deus é um” (Gl 3.20); “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos” (Ef 4.6). “Porque há um só Deus” (1 Tm 2.5).
Foi o Senhor Jesus quem revelou Deus aos seres humanos por meio da Bíblia: Mt 11.27; Jo 1.18).
            O Deus que Jesus revelou é o Deus de Israel e isso ele deixou claro ao pronunciar o primeiro e grande mandamento: “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” (Mc 12.29, 30). Essa é uma das várias declarações do Novo Testamento que ensina ser o cristianismo monoteísta. A declaração aqui é reveladora porque não deixa dúvida de que o Deus dos cristãos é o mesmo Deus de Israel, pois Jesus citou as palavras diretamente do Antigo Testamento (Dt 6.4-6).
A PATERNIDADE E A ONIPOTÊNCIA DE DEUS
            Assim como os antigos credos sintetizam o ensino bíblico sobre a unidade de Deus e o monoteísmo, da mesma forma eles o fazem sobre a paternidade de Deus. Há abundantes declarações na Escrituras sobre a paternidade de Deus.
            A figura do pai numa família é conhecida e compreensível em todas as civilizações desde a Antiguidade. Aplicada a Deus, tornase um recurso extraordinário. Em primeiro lugar, porque mostra a doutrina de Deus não é abstrata (Dt 1.31; Ml 1.6). E não somente isso, pois são os pais que geram os filhos e são responsáveis por seu bem-estar, sustento, alimentação, vestimentas, saúde, educação e segurança. Essa manifestação de afeto e carinho
acontece de maneira natural e ao mesmo tempo misteriosa. É a melhor e a mais perfeita maneira de ilustrar e explicar o grande amor de Deus pelo ser humano.
            A quem se refere à expressão “Deus Pai Todo-poderoso” ou fraseologia similar nos antigos credos? Os antigos intérpretes e exegetas tomaram essas palavras desde muito cedo em relação especial à santíssima Trindade: “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Pe 1.3); “porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo 6.27). Mas Deus como Pai na Bíblia tem significado mais abrangente. O título “Pai” no Antigo Testamento se refere aos
filhos de Israel, denota relação mediante aliança, concerto (Jr 31.9; Ml 2.10), de maneira coletiva, a Israel no todo (Êx 4.22; Os 11.1), às pessoas como seus filhos (Is 1.2; 30.1; 45.11; Jr 3.22) e ao Ungido Rei, o Messias (2 Sm 7.14; Sl 2.7; 89.27). No Novo Testamento, é frequente a frase “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15.6; 2 Co 1.3; 11.31; Ef 1.3) e fraseologia similar (Cl 1.3), e também “nosso Deus e Pai” ou “Pai nosso” (1 Co 8.6; 1 Ts 3.11, 13; 2 Ts 2.16), principalmente nas introduções das epístolas paulinas (1 Co 1.3; Gl 1.4; Ef 1.2; Fp 1.2; Cl 1.2).
            Jesus nos tornou filhos de Deus por adoção, razão pela qual temos a liberdade e o direito de chamá-lo de Pai (Mt 6.13; Jo 1.12). A palavra aramaica abba, “aba”, ou, literalmente, “papai”, demonstra uma relação de intimidade dos crentes em Jesus com Deus (Rm 8.15; Gl 4.6). A ideia de que Deus é o Pai de todos os seres humanos é biblicamente válida por causa da criação (At 17.28, 29; Ef 4.6), mas isso não implica relação pessoal ou
espiritual. No evangelho de João, o termo grego patēr, “pai”, aparece 136 vezes, e 120 delas se referem a Deus. Nos evangelhos sinópticos, essa referência a Deus é bem menor, mas permanece a mesma ideia.
            O título de “Pai” se diferencia dos demais títulos e funções de Deus porque nunca se aplica a Jesus nem ao Espírito Santo. Há uma vasta lista de atributos, títulos, funções e obras de Deus Pai presentes no Filho e no Espírito Santo, mas o título de Pai é exclusivo ao Deus Pai. Alguém pode argumentar sobre a profecia messiânica que emprega as palavras “Pai da Eternidade” (Is 9.6).
O bispo Sabélio costumava citar palavra profética para fundamentar a crença unicista de que Pai é Filho e Filho é Pai. Mas o que a Bíblia ensina aqui é que o Messias, como rei, “o principado está sobre os seus ombros”, é pai do seu povo (Is 22.21), e não o Deus-Pai. O Filho é Deus igual ao Pai (Jo 5.17, 18; 10.30), mas não é o Pai, senão “o Filho do Pai” (2 Jo 3).
            Ser todo-poderoso é o mesmo que ser onipotente (Sl 91.1). Esse atributo é exclusividade divina, no Deus trino e uno. Os credos começam reconhecendo esse atributo no Deus Pai: “Creio em Deus Pai Todo-poderoso”. A expressão “Todo-poderoso” é um dos nomes de Deus no Antigo Testamento (Gn 17.1; Êx 6.3), e a ideia nos antigos credos é de poder fazer todas as coisas, tudo o que deseja (Is 46.10). A onipotência ad extra está limitada somente pela natureza ou essência do próprio Deus e por nada externo a ele; por exemplo, “Deus não pode mentir” (Tt 1.2). Isso não deve ser interpretado como limite de seu poder; antes, trata-se da sua essência, pois ele mesmo é a Verdade. Os cristãos reconhecem que Deus pode todas as coisas: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37).
BÍBLIA X CIÊNCIA
            Não é verdade que a ciência contradiz a Bíblia e vice-versa. É necessário saber o que realmente é ciência e se os pressupostos científicos são realmente científicos. Se o resultado dessa investigação for positivo, resta ainda saber se o pensamento teológico é realmente bíblico ou se não está fundamentado numa falsa interpretação das Escrituras. Um exemplo clássico disso são as descobertas científicas de Galileu Galilei, que contrariavam a interpretação da Igreja Católica, e não a Bíblia, pois o papa achava que apenas o Sol e a Lua se moviam, e não a terra, com base na
interpretação dada à passagem do dia longo de Josué (Js 10.12- 14).
            Os cientistas já investigaram diversas áreas do saber humano: astronomia e cosmologia, biologia e genética, paleontologia e geologia, métodos de datação geofísica e hidrodinâmica. Por que um número considerável deles rejeita completamente o evolucionismo? Muitas coisas no currículo escolar na área de ciências naturais precisam ser revistas, segundo um número considerável de cientistas.
            Toda a criação louva a Deus – seres espirituais, racionais e irracionais e toda a natureza (Sl 148.2-12). Os ateus não adoram nem louvam a Deus; acham que não precisam dele e não participam da adoração a Deus. A existência de Deus é um fato;
trata-se de uma verdade primária que não precisa ser provada. Seria insulto à inteligência humana dizer a alguém que um relógio simplesmente apareceu do nada, como resultado do acaso. O Salmo 19 mostra que o Universo, por si só, comprova a existência de Deus (Sl 19.1-6). As coisas visíveis de Deus são claramente vistas como recursos que Deus deixou para que o ser humano reconheça a existência do Criador: “para que eles fiquem
inescusáveis” (Rm 1.20). Será que eles pensam que, negando a existência do Criador, escaparão da condenação eterna? Se for isso, estão enganados. A única salvação é o Senhor Jesus Cristo (Jo 14.6; At 16.31).


Fonte : livro A razão de nossa fé: assim cremos, assim vivemos / Esequias Soares.
Casa Publicadora das Assembleias de Deus.


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