A doutrina da Trindade está implícita no Antigo Testamento desde o princípio

Gn 1.26 - E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra.

A Bíblia declara textualmente que existe um só Deus verdadeiro e, ao mesmo tempo, afirma com a mesma clareza e de maneira direta que Jesus é Deus, mostrando nele todos os títulos divinos, com seus atributos, funções e obras de Deus. E, com o Espírito Santo não é diferente; a Bíblia revela a sua divindade plena.

A Trindade é uma doutrina com sólidos fundamentos bíblicos e, mesmo sem conhecer essa terminologia, os cristãos do período apostólico reconheciam essa verdade. Essa doutrina está implícita no Antigo Testamento, pois há declarações que indicam claramente a pluralidade na unidade de Deus (Gn 1.26; 3.22; 11.6, 7; Is 6.8). Apesar da ênfase da doutrina monoteísta como o shemá: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4) reafirmada pelo Senhor Jesus (Mc 12.29), o Antigo Testamento mostra que a unidade de Deus não é absoluta. O Novo Testamento revela que essa pluralidade se restringe ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo (Mt 28.19; 1 Co 12.4-6; 2 Co 13.13; Ef
4.4-6; 1 Pe 1.2).

Há ainda várias passagens tripartidas no Novo Testamento que revelam a Trindade (Lc 24.49; Rm 1.1-4; 5.1-5; 14.17, 18; 15.16, 30; 1 Co 6.11; 2 Co 1.20, 21; Gl 3.11-14; Ef 1.17; 2.18-22; 3.3-7,14-17; 1 Ts 5.18). Além das declarações bíblicas apresentadas aqui, há outras evidências contundentes que fundamentam essa doutrina. Cada uma dessas Pessoas é chamada individualmente de Deus e Senhor. O Deus do cristianismo é um (Gl 3.20), mas as Escrituras ensinam também que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. A Bíblia aplica o nome “Deus” ao Pai sozinho (Fp 2.11), da mesma forma ao Filho (Jo 1.1) e ao Espírito Santo (At 5.3, 4); e, na maioria das vezes, com referência à Trindade (Dt 6.4). Isso também ocorre com o Tetragrama (as quatro consoantes do nome divino YHWH), que se aplica ao Pai sozinho (Sl 110.1), ao Filho (Is 40.3; Mt 3.3) e ao Espírito Santo (Ez 8.1,3). No entanto, aplica-se também à Trindade (Sl 83.18). Salta à vista de qualquer leitor da Bíblia a divindade plena e absoluta de cada uma dessas Pessoas. Foi assim que o Espírito revelou a unidade na Trindade.

As palavras de Jesus sobre a sua própria identidade e as suas ações revelam a sua deidade absoluta. O mesmo pode ser dito sobre as obras e as declarações a respeito do Espírito Santo. O Deus revelado nos evangelhos é trino e uno. A maneira como essa verdade é revelada em Mateus, Marcos, Lucas e João era perfeitamente compreendida pela geração apostólica. Por essa razão, não havia questionamento sobre a triunidade de Deus.
Quando o Senhor Jesus apaziguou a tempestade, seus discípulos questionaram: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.41). Eles sabiam que somente Deus possui esse poder (Sl 65.7; 89.9).

O ensino do Senhor Jesus e de seus apóstolos expressava a fé em um só Deus, mas ao mesmo tempo eles ensinavam a deidade absoluta do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A Bíblia revela a triunidade de Deus sem necessitar de definições teológicas, e o destinatário imediato de cada texto bíblico compreendia com clareza meridiana a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.

Não havia ainda necessidade na época de uma confissão de fé elaborada, pois essa linguagem era suficiente para a compreensão dos primeiros cristãos. Até mesmo os opositores da fé cristã, às vezes, entendiam esse discurso. Jesus disse certa vez:
“Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). Os judeus incrédulos entenderam essa mensagem e por essa razão procuraram matar a Jesus, porque “dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18). Esse modo de pensar dos apóstolos era compreensível aos primeiros cristãos e não havia necessidade de explicações adicionais. Não há evidência no Novo Testamento de alguém questionando essa verdade.

A expansão do cristianismo no vasto império romano era geográfica e intelectual (Rm 15.19; Cl 1.6). A pregação do evangelho passou a se defrontar com as diversas tradições gregas e romanas (At 16.21; 17.18-22). Mas a maneira de pensar desses movimentos culturais e intelectuais exigia formulações teológicas precisas e racionais na comunicação da verdade cristã, somando-se a isso o surgimento de seitas e heresias como ebionitas, gnósticos, monarquianistas e arianistas, entre outros. E a simples repetição de passagens bíblicas já não era mais suficiente. Isso exigia da liderança da Igreja definições teológicas racionais.

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