Hulda foi uma mulher sábia e prudente que
entrou em cena num período da história de Judá e de Israel em que os reis
corromperam-se mais do que os povos ímpios que não reconheciam a Deus. Mesmo
vendo a situação calamitosa de seu povo, não se apressou em emitir profecia ou
mensagem de sua própria vontade. Porém, no tempo de Deus, ela foi tirada do
anonimato e foi usada para transmitir uma mensagem muito dura contra o povo de
Judá, no remado de Josias, filho de Amom e neto de Manassés, que foram reis
perversos que levaram a nação inteira a dar as costas para Deus e voltar-se
para a idolatria mais perversa que a Bíblia registra. Josias foi contemporâneo
dos profetas Jeremias (Jr 1.2) e Sofonias (Sf 1.1), que o ajudaram em sua
missão de reconduzir o povo aos caminhos do Senhor. Mas Deus não quis usar
nenhum desses homens para entregar a mais tremenda mensagem de condenação a seu
povo por suas iniquidades. Ele quis usar a profetisa Hulda para advertir o povo
da grande tragédia que havería de cair sobre Judá e Jerusalém.
Hulda entrou em cena na história do povo de
Judá, mas logo desapareceu após cumprir a missão árdua que Deus lha confiara.
Pouco se sabe sobre ela, a não ser que era esposa de Salum, guardador das
vestiduras, e que habitava em Jerusalém, “na segunda parte” da cidade, ou na
“cidade baixa” (2 Rs 22.14). Ela entrou para a história quando o rei Josias
tomou conhecimento do conteúdo do livro da Lei, que fora perdido na Casa do
Senhor. Ao ouvir a leitura do livro da Lei e as maldições que cairiam sobre seu
povo, o rei mandou consultar ao Senhor sobre tamanha desgraça causada pela
desobediência do povo. E o sacerdote Hilquias procurou Hulda, a profetisa, para
saber como proceder. E Hulda, usada por Deus, proferiu terrível profecia contra
Judá, mostrando que Deus derramaria terrível juízo sobre a desobediência do
povo.
Apesar disso, a mensagem de Deus para o rei
Josias foi de amor e misericórdia. Por meio de Hulda, Deus mandou dizer ao
jovem monarca que vira o seu coração humilde e o seu quebrantamento e que não
traria mal algum que previra sobre Judá no tempo de seu reinado. De pronto, o
rei tomou as medidas urgentes e necessárias para levar o povo ao
arrependimento. Ele próprio fez concerto com Deus de obedecê-lo em seu reinado.
Depois, levou o povo a fazer o concerto com Deus. E, de forma mais concreta,
mandou retirar todas as abominações que o povo adotara em Judá e Jerusalém.
I - HULDA,
VIVENDO NUM TEMPO DE CRISE
1. Quem Foi Hulda
Foi uma serva de Deus que demonstrou ter um
caráter firme, decidido e discreto, num tempo em que reis e profetas
desviaram-se dos caminhos do Senhor. Pouco se sabe acerca dela. Seu nome, no
hebraico, significa “doninha”. O texto em estudo diz que ela era esposa de
Salum, filho de Ticva, que era guardador das vestiduras e habitava em
Jerusalém, “na segunda parte” da cidade, ou na “cidade baixa” (2 Rs 22.14). Ela
exerceu a atividade de profetisa num tempo em que esse ofício era
predominantemente confiado a homens. A Bíblia registra que houve apenas mais
duas profetisas em toda a história do Antigo Testamento: Miriã, irmã de Moisés
(Ex 15.20), e Débora, que, além de profetisa, era Juíza (Jz 4.4). Hulda entrou
em cena num momento especial e dramático da história do reino de Judá, no
reinado de Josias (639-609 a.C).
Deus não fica impedido de operar quando os
homens fogem à sua responsabilidade como líderes para servir a seu povo. Em
termos espirituais e morais, a situação de Israel era das piores. Avaliamos
melhor o papel de Hulda no meio de seu povo, bem como o seu testemunho
eloquente de mulher de Deus, quando vemos, ainda que de forma resumida, o pano
de fundo histórico em que ela vivia. O texto bíblico dá a entender que Hulda
reconhecia o seu lugar como profetisa, mas ela só entrou em ação quando foi
solicitada.
2. Ascensão e Decadência do Reino
Hulda viveu no tempo do reinado do rei
Ezequias. Ele foi um grande rei usado por Deus de forma extraordinária (716-687
a.C). Porém, ele terminou mal os seus dias por ter dado lugar à exaltação em
sua vida. O sucesso em seu reinado e o êxito como administrador fizeram-no
sentir-se orgulhoso (2 Cr 32.25). A Bíblia adverte: “A soberba precede a ruína,
e a altivez do espírito precede a queda” (Pv 16.18). Sua prosperidade superou a
de muitos reis que o antecederam (2 Cr 32.27-30), mas ele não soube administrar
o sucesso sem perder a humildade. Quando cometeu a imprudência de revelar
segredos a emissários da Babilônia, Deus repreendeu-o, prometendo juízo sobre
seu povo em tempos posteriores. Numa demonstração de egocentrismo, ele disse
que era boa aquela palavra (2 Rs 20.19). Ezequias é o exemplo de líder que foi
escolhido por Deus, que realizou um excelente ministério, mas que não soube
consolidar os resultados até o fim. Ele começou bem e terminou de forma
melancólica.
II - HULDA VÊ O
TEMPO DO AVIVAMENTO
Podemos afirmar que Hulda era uma mulher de
oração, de profunda comunhão com Deus em seu ofício incomum de profetisa, num
tempo em que os homens eram as referências no ministério profético de caráter
nacional. Ela testemunhou os desvios e desmandos de Ezequias e seus sucessores.
Certamente, com angústia na alma, ela pedia a Deus a mudança daquele quadro.
Humanamente, isso era impossível, mas quando Deus quer agir, o impossível não
faz parte de sua linguagem. Se os outros reis não tomaram conhecimento de seu
ministério profético, Hulda viu Deus trabalhar de forma evidente para ouvir
suas orações e levantou um menino para promover mudanças impactantes no reino
de Judá.
III - HULDA É
USADA POR DEUS
1. A Dura Mensagem de Deus
Hulda podería ter sido usada como outros
profetas que, ao contemplarem os desvios do povo, levantaram-se para combater
reis, sacerdotes e o povo em geral. Ela, porém, ficou no seu lugar. Essa
atitude fazia parte do seu caráter reservado. No tempo de Deus, ela foi
apresentada a serviço do seu povo. O sumo sacerdote Hilquias e os demais
assessores do rei foram procurar a profetisa Hulda para saber o que iria
acontecer com Judá, tendo em vista a grande pecaminosidade de seu povo,
motivada pela desobediência à palavra de Deus. Os emissários relataram o grave
acontecimento por terem tomado conhecimento dos terríveis castigos previstos na
Lei de Deus para as transgressões deliberadas do povo. Desse modo, cumprindo
sua missão, ainda que num tempo bastante curto como fiel mensageira do Senhor,
Hulda deu a resposta ao rei: “E ela lhes disse: Assim diz o Senhor, Deus de
Israel: Dizei ao homem que vos enviou a mim: Assim diz o Senhor: Eis que trarei
mal sobre este lugar e sobre os seus habitantes, a saber, todas as maldições
que estão escritas no livro que se leu perante o rei de Judá. Porque me
deixaram e queimaram incenso perante outros deuses, para me provocarem à ira
com toda a obra das suas mãos; portanto, o meu furor se derramou sobre este
lugar e não se apagará” (2 Cr 34.23-25).
Tanto o rei como os seus assessores já
sabiam da gravidade da situação quando ouviram a leitura do livro da lei que
foi achado na Casa do Senhor. Talvez, o povo mais abençoado por Deus, o povo de
Israel, por motivos estranhos, nunca permaneceu por longo período em obediência
plena ao Senhor. O livro de Juizes mostra a obstinação do povo em pecar, em
afastar-se dos caminhos do Senhor. Quando obedeciam a Deus, havia paz, havia
bonança e prosperidade. Quando desobedeciam, havia guerra, opressão, cativeiro,
escassez e miséria. Por misericórdia, Deus sempre dava um escape, mas^a
desobediência sempre foi recorrente no meio daquele povo. No texto em estudo,
vemos o povo do reino do Sul, em Judá, numa situação espiritual deplorável. Dá
a entender que já fazia muito tempo que a lei sequer era lida perante o povo. O
livro da Lei estava perdido!
A resposta profética de Hulda resume a
situação de miséria espiritual do povo: idolatria vergonhosa, a ponto de
deixarem de adorar ao Deus de seus pais, que os tirou do cativeiro egípcio e os
levou pelo deserto abrasador em segurança até Canaã; o povo inclinava-se
perante ídolos ou deuses feitos pelas mãos dos homens, provocando a ira do
Senhor. A sentença de Deus através de Hulda foi: “[...] o meu furor se derramou
sobre este lugar e não se apagará” (v. 25). Era o prenúncio do cativeiro de
Judá anos depois.
2. Hulda Profetiza para o Rei
Josias
Deus sabe separar aquele que é bom no meio
dos maus; ele sabe ver o justo no meio da injustiça; Ele reconhece o caráter de
homens que não se corrompem no meio da multidão dos corrompidos. Ele viu Noé e
sua família no meio da população mundial de sua época e considerou-os dignos de
serem poupados da destruição do Dilúvio. Na crise espiritual de Judá e
Jerusalém, Deus mostrou à profetisa Hulda que o rei Josias não seguiu os maus
caminhos de seus pais, mas humilhou-se diante de Deus, reconhecendo a
calamidade espiritual de seu povo quando tomou conhecimento do que estava escrito
no livro da Lei, além das maldições que eram previstas por Deus para a nação
desobediente e idólatra. E, assim, ela fez saber a Josias que tinha visto o seu
coração sincero perante seu Deus. A profecia de Hulda para Josias foi um alento
para ele, face o seu desespero diante da tragédia que estava prevista sobre seu
povo.
Disse Hulda aos mensageiros do
rei:
“Porém
ao rei de Judá, que vos enviou a consultar ao Senhor, assim lhe direis: Assim
diz o Senhor, Deus de Israel, quanto às palavras que ouviste: Como o teu
coração se enterneceu, e te humilhaste perante Deus, ouvindo as suas palavras
contra este lugar e contra os seus habitantes, e te humilhaste perante mim, e
rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te tenho ouvido, diz
o Senhor.
Eis
que te ajuntarei a teus pais, e tu serás recolhido ao teu sepulcro em paz, e os
teus olhos não verão todo o mal que hei de trazer sobre este lugar e sobre os
seus habitantes. E voltaram com esta resposta ao rei” (2 Cr 34.26-28).
Deus teve misericórdia do jovem rei de
Judá. Sua resposta para ele, através de Hulda, mostra que o Senhor considerou
as atitudes corretas de Josias.
O seu coração ficou enternecido, ou seja,
ficou sensível, quebrantado; ele humilhou-se perante Deus quando ouviu a
leitura do livro sagrado, que fora desprezado de forma tão irresponsável por
seus pais; num sinal de profunda tristeza, vergonha e dor pela situação de seu
povo perante Deus, ele rasgou suas vestes; mais que isso, Josias chorou diante
de Deus. O Senhor agrada-se quando um homem prostra-se humilhado ante os
próprios pecados ou então quando se humilha, intercedendo por outros ou por seu
povo. É interessante notar que Josias não viu tais comportamentos em seu pai e
em seu avô. Pelo contrário, ele viu a desobediência, a rebeldia e a obstinação
deles em andar de modo contrário à vontade de Deus. Porém, mesmo sendo muito
jovem, ele entendeu que o caminho seria o do retorno à vontade do Senhor.
Porisso, quebrantou-se e foi reconhecido por Deus. Diz a Bíblia: “Os sacrifícios
para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não
desprezarás, ó Deus” (SI 51.17). A resposta de Deus a Josias foi altamente
positiva e confortadora para ele: “Eis que te ajuntarei a teus pais, e tu serás
recolhido ao teu sepulcro em paz, e os teus olhos não verão todo o mal que hei
de trazer sobre este lugar e sobre os seus habitantes” (2 Cr 34.28).
3. O Efeito da Profecia sobre Judá
e Jerusalém
Quando um profeta merece credibilidade, sua
palavra é reconhecida como sendo da parte de Deus por ser diferente da dos
falsos profetas (Dt 18.18-22). Após ouvir a mensagem profética de Hulda, Josias
tomou de imediato algumas medidas que demonstram o seu cuidado e zelo em ouvir
a voz de Deus. Ele fez uma convocação urgente “a todos os anciãos de Judá e
Jerusalém”. As mudanças numa nação ou numa igreja só têm efeito se começarem
pela liderança. Em segundo lugar, ele próprio “subiu à Casa do Senhor com todos
os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém, e os sacerdotes, e os levitas,
e todo o povo, desde o maior até ao menor”. Depois de reunir todo o povo,
“[...] ele leu aos ouvidos deles todas as palavras do livro do concerto, que se
tinha achado na Casa do Senhor” (2 Cr 34.29,30). Até então, apenas o rei e seus
assessores tinham conhecimento do conteúdo do livro da Lei e das maldições
previstas contra a desobediência do povo. Por isso, Josias providenciou para
que a leitura do livro fosse feita perante todo o povo, a exemplo do que fizera Esdras, o sacerdote, no tempo de
Neemias, diante todo o povo (Ne 8.2,3).
Todas essas medidas eram de caráter
conscientizador, mas faltavam as medidas de caráter prático. Somente a
conscientização e o arrependimento sem as mudanças concretas, na prática, no
dia-a-dia do povo, nada resolvem. O rei foi sábio e corajoso. Primeiramente,
ele próprio fez concerto com Deus para obedecer a sua palavra: “E pôs-se o rei
em pé em seu lugar e fez concerto perante o Senhor, para andar após o Senhor e
para guardar os seus mandamentos, e os seus testemunhos, e os seus estatutos,
com todo o seu coração e com toda a sua alma, cumprindo as palavras do
concerto, que estão escritas naquele livro” (2 Cr 34.31). Ele entendeu que
precisava dar o exemplo de liderança e, antes de propor um concerto do povo com
Deus, assumiu o compromisso diante de Deus e do povo de pautar seu reino pelos
mandamentos do Senhor.
Em seguida, ele levou o povo a fazer o
concerto com Deus: “E fez estar em pé a todos quantos se acharam em Jerusalém e
em Benjamim; e os habitantes de Jerusalém fizeram conforme o concerto de Deus,
do Deus de seus pais” (2 Cr 34.32). Por fim, Josias usou da autoridade que Deus
concedera a ele e determinou que “todas as abominações” fossem tiradas do meio
de Israel. Tais abominações eram os ídolos perante quem seus pais ficavam
curvados, afrontando a santidade de Deus, e também as práticas abomináveis que
provocaram a ira do Senhor sobre Israel e Judá, como oferecer sacrifícios
humanos aos demônios, incluindo crianças inocentes. E Josias usou da sua
autoridade respaldada na palavra de Deus para obrigar o povo a oferecer o
verdadeiro culto ao Senhor: “E Josias tirou todas as abominações de todas as
terras que eram dos filhos de Israel; e a todas quantos se achara em Israel
obrigou a que com tal culto servissem ao Senhor, seu Deus; todos os seus dias
não se desviaram de após o Senhor, Deus de seus pais” (2 Cr 34.33). Depois das
reformas necessárias, Josias cumpriu o que Deus determinara e, então, celebrou
a Páscoa ao Senhor em Jerusalém (2 Cr 35.1-19).
CONCLUSÃO
A
profetisa Hulda foi uma mulher de Deus que teve um papel significante para a
história de seu povo, ainda que de modo muito passageiro. Todavia, o que
importa é a qualidade de seu trabalho, e não a extensão de seu ministério.
Hulda soube colocar-se discreta e humildemente no lugar que Deus reservou a
ela. Mas, no momento certo, entregou a mensagem de condenação de Deus ao povo
de Judá, que, de maneira contumaz, afastara-se dos caminhos do Senhor.
Fonte :
Livro o Caráterdo Cristão
Moldado pela Palavra de Deus e provado como ouro
Elinaldo Renovato de Lima
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