ABEL, EXEMPLO DE CARÁTER QUE AGRADA A DEUS(Subsídio Teológico Lição 2/ 2º Trim 2017)

ABEL: O HOMEM QUE AGRADOU A DEUS

        O exemplo de Abel, homem espiritual e digno, em sua conduta séria e voltada para o relacionamento correto com Deus em sua adoração, mostra a sua escolha em ser fiel a Deus e o quanto foi terrível o efeito do pecado na vida dos homens. Ao procurar oferecer a Deus um sacrifício agradável e santo, Abel fez irromper no coração de seu irmão Caim, que era carnal, o sentimento da inveja e da amargura sem sentido. A natureza carnal mostrava, ali, no cenário familiar, a inveja, o ódio, a ira e a violência em sua forma mais covarde e cruel. Um inocente sendo morto por motivo torpe, sem chance de defesa.

        Abel, homem fiel, santo e inocente, foi morto pelo próprio irmão por causa de sua fidelidade a Deus. Por permissão do Senhor, que respeita o livre-arbítrio humano, teve início a tragédia da violência no seio da humanidade, em sua marcha contínua e destruidora de vidas preciosas. Há quem diga que o sacrifício de Abel foi aceito por Deus pelo fato de ser um sacrifício cruento, com sangue, dos animais de que ele cuidava. Certamente, perante Deus, o sacrifício com sangue já tinha o sentido profético do sacrifício de Cristo. Deus, porém, também aceitava o sacrifício de vegetais. “As primícias, os primeiros frutos da tua terra, trarás à casa do Senhor, teu Deus [...]” (Ex 23.19 a; 34.22; Lv 23.10 e ref.).


        Na realidade, o sacrifício de Caim foi rejeitado não por causa do tipo de oferta — por ser de frutos da terra —, mas, sim, por causa do seu coração maligno, de seus sentimentos maus. Antes de olhar para a oferta de alguém, Deus olha e vê o coração (1 Sm 16.7c). Não adianta apresentar uma oferta ou um sacrifício que chama a atenção dos homens em quantidade e/ou qualidade se o interior estiver cheio de maldade, ódio ou presunção. Na verdade, Caim era mau. A Palavra de Deus diz sobre seu caráter: “Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do maligno e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1 Jo 3.11,12).

        Nesse texto, vemos, em poucas palavras, o caráter de Abel e o de Caim. Este “era do maligno”. Por isso, deixou ser carregado pela inveja, malícia, ira e ódio mortal contra seu irmão. Suas obras, ou seja, suas atitudes “eram más”. O caráter de um homem não se mede ou se vê por sua personalidade, e sim por seus atos, suas ações e atitudes. O caráter de Abel era totalmente diferente do de seu irmão. Abel não era do maligno. Era homem de Deus; temente ao Senhor; grato a Ele; suas obras eram “justas”.

        Àquela altura da história da família de Adão e Eva, já havia muitas pessoas na Terra nascidas de uniões consanguíneas permitidas por Deus para a procriação da raça humana e povoamento de todo o planeta. Como Abel, é possível que muitas pessoas tenham voltado para Deus. Entretanto, havia outras, certamente, que se afastavam para longe dos caminhos do Senhor, para as coisas do Diabo. Caim foi um representante desse grupo que se desviou por caminhos pecaminosos, dominados pelo pecado, que desvirtuou e degradou a natureza humana. Infelizmente, a maioria das pessoas no mundo, em todos os tempos e em todos os lugares, afasta-se de Deus por causa de sua natureza decaída, inclinada ao mal desde a meninice (Gn 8.21).

I - A OFERTA DE ABEL
        Adão e sua esposa já tinham sido lançados para fora do ambiente edênico, com a missão de “lavrar a terra” (Gn 3.23).

        As primeiras atividades humanas, portanto, eram a agricultura e a pecuária. Em seus primórdios, essas atividades eram bastante agregadoras da família. Pais e filhos trabalhavam para o sustento familiar de forma bem rudimentar em caráter de sobrevivência. Como não puderam ficar no Éden por causa do pecado, eles tiveram que obter seu pão com o suor de seu rosto (Gn 3.19), ou seja, com muito esforço físico e desgaste em seu organismo. Plantar e colher certamente eram atividades de grande significado para os primeiros habitantes da terra. Adão foi o primeiro agricultor. Seu primogênito, Caim, também se dedicou à agricultura — era lavrador —, enquanto que Abel, o segundo filho, dedicou-se à pecuária, sendo o primeiro pastor de ovelhas (Gn 4.2). Há quem diga que Caim e Abel eram gêmeos, mas tal afirmação não tem fundamento bíblico. Pouco se sabe sobre Abel. Muito mais está escrito sobre Caim. O testemunho de Abel, no entanto, é muito mais eloquente por causa de sua fidelidade a Deus.

1. Uma Oferta Agradável a Deus
        A oferta ou o sacrifício oferecido a Deus não é visto por Ele pela oferta em si, e sim pelo que está no coração do ofertante. A oferta de Abel foi aceita por Deus porque ele entrava na presença do Senhor com o coração sincero e cheio de amor. Suas obras eram justas porque ele era justo (Hb 11.4; 1 Jo 3.12), íntegro e fiel. Deus dá tanto valor à integridade do coração que, mais à frente, Ele elogiou Jó perante Satanás, dizendo: “Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, e temente a Deus, e desviando-se do mal” (Jó 1.8b). A oferta só tem valor quando expressa o que está no íntimo de quem a oferece. A oferta de Abel foi agradável porque ele era um verdadeiro adorador. Ele adorava a Deus “em espírito e em verdade” (Jo 4.23,24).

        Alguém pode até mesmo oferecer um dízimo ou uma oferta de grande valor monetário, mas se não tiver retidão interior, não será aceito por Deus. Disse o salmista: “Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria” (SI 51.6). Na vida cristã, não se oferecem mais sacrifícios de animais.
Deus quer que ofereçamos a nós mesmos, com o nosso corpo, “[...] em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1). Podemos dizer que a oferta de Abel tinha essas características, de um sacrifício que não era vivo, mas que era “santo e agradável a Deus”.

2. Uma Oferta de Grande Valor
        Abel adorou a Deus, oferecendo o melhor que tinha como fruto de seu trabalho. Ele não ofereceu um sacrifício qualquer, mas dentre os primogênitos do seu rebanho. “E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta” (Gn 4.4). Notemos que Deus atentou primeiro “para Abel” e, depois, “para a sua oferta”. “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e, por ela, depois de morto, ainda fala” (Hb 11.4). A oferta de Abel foi considerada “maior sacrifício” do que a oferta de Caim. Primeiramente, porque foi “Pela fé”.
Abel não viu a Deus como Adão viu, mas cria no Deus de seus pais; cria no Deus Criador dos céus e da terra; cria que Deus deveria ser adorado e digno de louvor. Mas, além de oferecer um sacrifício pela fé, Abel também tinha uma vida de justiça e santidade; ele “alcançou testemunho de que era justo”. Essa é a razão principal pela qual Deus avaliou sua oferta. Foi tão grande o valor da oferta de Abel que, “por ela, depois de morto, ainda fala”! Jesus deu testemunho de Abel, considerando-o “o justo” (Mt 23.35). Tal declaração feita por Jesus demonstra o quão elevado era o caráter santo de Abel. Somente o sangue de Cristo foi considerado o que “fala melhor que o ‘sangue’ de Abel”.

II - A INJUSTIÇA CONTRA ABEL
1. Abel Era um Homem Justo
        Diz a Bíblia: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo” (Hb11.4a). Não se sabe quantos anos Abel tinha quando oferecia seu sacrifício a Deus e foi assassinado por seu irmão. Mas, em toda a sua vida, ele demonstrou ser homem de bem, que andava em retidão, de caráter ilibado e reconhecido por Deus. Abel representa a parte da humanidade que se volta para Deus e que é formada por homens justos. Caim representa a parte má da humanidade, que dá as costas para Deus e que busca os interesses egoístas e imediatos. Contra Abel, foi perpetrado o terrível crime de homicídio e fratricídio, não porque praticara qualquer ato indigno, mas porque era homem como Jó: “reto, sincero, temente a Deus” e desviava-se do mal. Em qualquer tribunal imparcial, a morte de Abel seria considerada uma terrível injustiça, sujeita ao mais severo castigo. Caim poderia ter sofrido a pena de morte se seu crime fosse cometido séculos mais tarde; pena esta por decreto do próprio Deus (Gn 9.6) e na vigência da Lei de Moisés (Êx 21.12,14). Abel era justo e morreu injustamente — permissão de Deus. Diz a Bíblia que o que acontece ao ímpio acontece também ao justo (Ec 9.2).

2. Abel, o Primeiro Mártir
        Abel foi protagonista primário de algumas coisas: foi o primeiro pastor de ovelhas; o primeiro a oferecer sacrifício de animais no culto a Deus; e também o primeiro homem justo; porém, também foi o primeiro mártir; e o primeiro homem a ser morto por seu próprio irmão. Abel também foi o primeiro a entrar para a galeria dos mártires por causa de sua fé e também o primeiro a ter seu nome registrado na galeria dos heróis da fé (Hb 11.4). Jesus foi morto por inveja: “Porque ele bem sabia que, por inveja, os principais dos sacerdotes o tinham entregado” (Mc 15.10). Da mesma forma que Jesus, Abel também foi morto por inveja. Caim ficou irado pelo fato de Deus ter aceitado a oferta de Abel e, tomado de ódio, assassinou friamente o seu irmão sem dar a ele chance alguma de defesa. Hoje, seu crime seria considerado homicídio qualificado doloso por motivo torpe.

3. O Sangue de Abel Clama
        O Deus de Abel é o Deus da suprema justiça. Nada está encoberto a seus olhos. Caim matou Abel às escondidas, num momento em que os dois irmãos estavam a sós, no campo, cada um fazendo seu trabalho. Seus pais não perceberam o ódio que o primogênito nutria por seu irmão mais novo, mas Deus tudo via. Quando Caim matou Abel, enterrou-o para não ter seu crime descoberto. Porém, para Deus, que tudo vê (Gn 16.13), o Deus Onisciente, nada fica em oculto. Jesus disse: “Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto” (Mc 4.22). Ao longo da História, muitos assassinos, fossem eles isolados ou detentores de poder, como ditadores sanguinários e cruéis, mataram muitos inocentes, enterrando-os em valas comuns, onde nunca foram achados. Entretanto, no Juízo Final, os “Cains” da História serão todos confrontados pelo Supremo Juiz do Universo e receberão o juízo que merecem. Todos terão o mesmo destino de Judas, que traiu o seu mestre e salvador.

        Quando Deus chamou Caim para responder por seu crime, o homicida demonstrou arrogância e falta de respeito ao Criador. Deus sabia onde estava o cadáver, porém quis que o assassino confessasse seu crime de viva voz. “E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?” (Gn 4.9). O pecado causou grande transtorno na mente humana. Caim teve a audácia de mentir perante Deus e ainda afrontá-lo sobre a guarda do irmão. O Criador, contudo, inquiriu gravemente e declarou a sentença de juízo e maldição contra o criminoso: “E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra” (Gn 4.10). Onde houver um crime de morte, um assassinato, o sangue clamará por justiça. O sangue de Abel clamava por justiça e por vingança. Diferentemente do sangue de Cristo, que clamava por perdão.
Depois daquele encontro entre o Juiz Supremo e o criminoso, este ouviu a sentença de que seria “maldito” desde a terra e que seu trabalho não mais seria produtivo, e sim penoso. E mais do que isso: ele não teria mais paz, seria fugitivo e errante na terra e viveria toda a sua vida com medo de ser morto. Mesmo assim, por sua infinita misericórdia, Deus colocou um sinal em Caim para que não fosse morto (Gn 14.11-16).

III - UM HOMEM QUE AGRADOU A DEUS
1. Abel Soube Agradar a Deus
        O episódio envolvendo Caim e Abel é o mais destacado na história de Adão. O relato bíblico autoriza-nos a dizer que Abel buscou a Deus com mais afinco e amor, pois ele entendeu que seu sacrifício deveria ser do melhor daquilo que possuía: “E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta” (Gn 4.4). Além de oferecer sacrifício “dos primogênitos” das ovelhas, o texto também diz que ele levou a Deus “da sua gordura”. O sacrifício com a gordura sobre o altar era “cheiro suave” e agradável a Deus (cf. Ex 29.13; Lv 4.31) e fazia parte do “sacrifício pacífico” e “oferta queimada ao Senhor” (cf. Lv 3.3,14). Que Deus nos ajude e nos guarde e também nos dê sabedoria e amor para oferecermos sempre “sacrifício de louvor” (SI 50.14). “Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15).

CONCLUSÃO
        A humanidade começou mal com a desobediência dos primeiros habitantes da terra. Adão pecou ao ouvir o Diabo através de sua mulher. Toda a tragédia humana decorre daquele gesto precipitado sob a insinuação maliciosa do Diabo. Expulsos do Éden, Adão e Eva certamente criaram seus filhos mostrando os preceitos e mandamentos de Deus para eles. Caim, o primogênito, preferiu seguir o exemplo do pai quando desobedeceu ao Criador. Seu irmão, Abel, pelo contrário, preferiu dedicar-se a adorar a Deus e oferecer o melhor dos seus esforços e trabalho.


        Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a oferta de Caim. Por isso, por inveja, este foi tomado de ira e matou o seu irmão. Foi o primeiro homicídio, que foi seguido de milhões de atos semelhantes que causaram e ainda causam dor e tristeza. Em pleno século XXI, a ciranda da violência prossegue ceifando vidas preciosas. Somente com a intervenção de Deus na terra, essa onda maligna de infelicidade cessará. No Milênio, o planeta será restaurado em seu ambiente ecológico, social e espiritual.



Fonte :

Livro o Caráterdo Cristão
Moldado pela Palavra de Deus e provado como ouro

Elinaldo Renovato de Lima


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Preparação dos originais: Miquéias Nascimento Capa: Elisangela Santos Editoração: Oséas F. Maciel
CDD: 220 - Comentário Bíblico ISBN: 978-85-263-1438-2

As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.

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