Jesus e Maria, Sua Mãe

Textos: Lucas 1.26-33; 2.41-51; João 2.1-4; Marcos 3.31-35; João 19.25-27
Introdução
O objetivo deste capítulo é estabelecer o caráter e posição de Maria quanto ao seu relacionamento com aquEle que era, ao mesmo tempo, filho e Senhor.
I. Predito o Nascimento de Jesus (Lc 1.26-33)
1. A profecia. “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Esta gloriosa promessa brilhou nas trevas em que o pecado lançara nossos primeiros pais. Predisse o conflito entre a raça humana e o poder do mal que lhe causou a queda, e a vitória mediante alguém nascido de mulher. A esperança da salvação era um menino que viria da parte de Deus. Talvez pensasse Eva ser Caim o descendente prometido (Gn 4.1); mas, com grande decepção, descobriu que aquele que imaginara ser o vencedor da serpente demonstrou ter o espírito do próprio maligno. Nascendo-lhe Sete, porém, reno- varam-se-lhe as esperanças; exclamou: “Deus me deu outra semente” (Gn 4.25).
Passaram-se séculos, e, através da boca de Isaías, foi reafirmada a promessa: um filho da casa de Davi, nascido de uma virgem, instauraria o Reino de Deus (Is 7.14;
9.6,7). Doravante, a esperança de libertação vinculava- se ao nascimento de um descendente de Davi; à mulher judia, não poderia haver mais alta esperança que a de ser a mãe do Messias.
2. O cumprimento. Imagine, agora, os sentimentos de Maria, ao ouvir do anjo que tão grande honra lhe caberia: “Salve, agraciada; o Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres”! Embora nada possa diminuir a honra devida ao Filho, e que a Ele exclusivamente adoraram os magos quando o acharam com Maria na noite do seu nascimento (Mt 2.11), foi ela grandemente honrada por Deus, sendo escolhida para ser a mãe humana de Jesus; sem dúvida, tinha um caráter exemplar de pureza, humildade e ternura, exemplo da glória e nobreza de ser mãe, digno de ser seguido por todas as outras.
Podemos imaginar as emoções de enlevo e medo misturadas em Maria, ante à extraordinária informação. Enlevo, pela honra de ter sido escolhida, entre milhões de mães judias, para dar à luz o Salvador do mundo; medo, por causa dos mal-entendidos e acusações falsas que pesariam sobre ela, se a gravidez fosse noticiada antes do casamento com José. Curvou-se, no entanto, à vontade do Senhor: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”. Maria crê e submete-se à mensagem, disposta a aceitar e enfrentar todas as conseqüências. É esta a verdadeira fé!
A Visita ao Templo (Lc 2.41-51)
A primeira visita ao Templo é história bem conhecida. Ao voltar da festa da Páscoa, Maria e José sentiram falta de Jesus. Após busca ansiosa, acharam-no a debater com os rabinos, no Templo. Nesse período, o Templo exercia grande fascínio sobre Jesus, porque a este fora dada, pelo Espírito, a clara visão de sua natureza divina e missão celestial.
1. O espanto de Maria. “E quando o viram, maravilharam-se; e disse-lhe sua mãe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu, ansiosos te procurávamos” (v. 48,50). Espanto natural, pois chegara ao humilde lar de Maria um tesouro grande demais o qual ao próprio céu era difícil conter. Não estranhemos, portanto, seu desconhecimento quanto ao valor do filho e ao motivo da ausência, e que lhe desse suave repreensão. É verdade que já recebera revelação quanto à natureza divina de Jesus (Lc 1.32,33), mas, sendo mãe exemplar, era perfeitamente natural que os cuidados matemos predominassem sobre quaisquer considerações. Não importa quão grande e famoso alguém seja, sua mãe sempre o considerará seu “menino”. Napoleão era um poderoso ditador, diante de quem nações inteiras tremiam; mas, para a sua mãe, era o mesmo menino levado que ela antes disciplinava com vara!
2. O assombro de Jesus. “E ele lhes respondeu: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” Há surpresa nas palavras de Jesus, como se dissesse: “A senhora foi informada, mesmo antes do meu nascimento, sobre minha natureza e o que vim fazer neste mundo. Um pouco de reflexão, e saberia que um bom lugar para me procurar seria na casa do meu Pai, já que meu desejo é fazer a vontade dEle”.
“E desceu com eles, e foi para Nazaré; e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas”.
Nestas palavras, Lucas deixa-nos entender que a declaração de Jesus do verso 49 não se constituía em repúdio aos deveres de filho humano. Apesar de Filho de Deus, jamais procurou ver-se livre das responsabilidades, obrigações e fardos desta vida. Às revelações, não as tratou a mãe como assunto de conversa, mas guardou-as como preciosos segredos. E, quando veio a entender totalmente seu significado? Ver Atos 1.14.
Nas palavras de Jesus vislumbramos a futura mudança naquele relacionamento. O filho de Maria revelar-se-ia Filho do homem, quando teria de deixar em segundo plano os relacionamentos, a fim de criar uma família espiritual. Tal conceito surge nos dois incidentes seguintes.
III. As Bodas de Caná (Jo 2.1-4)
Ver o respectivo comentário. “E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho”. A falta de vinho redundaria em desonra para a família hospedeira. Maria leva o assunto a Jesus, com singeleza. “Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora”. Jesus estava ingressando no ministério público; seu papel de filho de Maria passava a segundo plano. Maria, humildemente, aceitou o inevitável, sabendo que não mais lhe caberia ditar normas na vida do filho. E disse aos servos: “Fazei tudo quanto ele vos disser”. A fé e a obediência seriam doravante a única maneira de se chegar ao coração de Jesus.
IV. Os Temores de Maria (Mc 3.31-35)
A popularidade de Jesus multiplicara-se rapidamente, mas, de outro lado, fora despertada a hostilidade dos escribas, cuja frieza espiritual Ele desmascarava sem hesitação. Não obstante, seu ministério crescia. Tanto o assediavam as multidões que não lhe sobrava tempo para alimentar-se. Os amigos preocupavam-se, pensando que o zelo excessivo lhe perturbara a mente (Mc 3.21).
À Maria, assaltou-lhe a preocupação, quando as autoridades denunciaram o ministério de Jesus como sendo de Satanás (v.22). Procurou, então, fazer com que Ele se retirasse - pelo menos por um pouco - da vida pública: “Chegaram então seus irmãos e sua mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar”. Maria talvez o imaginasse em perigo entre as multidões, as‘quais os fariseus facilmente poderiam incitar contra Ele. Ela permitiu a seus filhos mais jovens, irmãos de Jesus, persu- adirem-na a intervir na situação.
Ressuscitado o instinto materno, Maria voltou a demonstrar o mesmo espírito que, já por duas vezes, Jesus repreendera ternamente (Lc 2.49; Jo 2.4). Maria e os irmãos de Jesus foram por demais presunçosos em fazer aquela interrupção, apelando ao relacionamento puramente natural, por estreito que fosse. Queriam sobrepor interesses naturais àquEle ocupado em distribuir o Pão da Vida aos espiritualménte famintos. Jesus, então, esclarece que os vínculos familiares são inferiores aos do Reino de Deus: “E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe”. Verdadeiro parente de Jesus é aquele que é espiritualmente semelhante a Ele. Como Filho do homem, Jesus tinha parentes na carne; como Filho de Deus, porém, não reconhece parente algum, a não ser os filhos de Deus. Indicam tais palavras não serem os laços naturais a maior glória de Maria, mais o seu relacionamento espiritual com Ele. Sua presença no cenáculo (At 1.14) sugere necessidades espirituais idênticas às dos demais seguidores de Cristo.
V. Maria Junto à Cruz (Jo 19.25-27)
Ver o respectivo comentário: “E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria de Cleofas, e Maria Madalena. Ora Jesus vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho”. Vendo a mãe aflita, desamparada e confusa, e sentindo-lhe a angústia por contemplá-lo assim, quis o Filho de Deus que João, o discípulo amado, a retirasse da triste cena, e lhe oferecesse um lar onde Jesus era amado.
VI. Ensinamentos Práticos
1. A mensagem de Maria às mães. A mãe do maior de todos os filhos transmite grandes lições às mães modernas:
• Mães que desejam filhos de nobre caráter devem, elas mesmas, possuir um caráter assim. John Quincy Adams, presidente dos Estados Unidos, declarou: “Tudo quanto vim a ser, minha mãe conseguiú fazer de mim”. Napoleão disse sobre seu país algo que se aplica a todas as nações: “A maior necessidade da França é de haver boas mães”. Caterina Booth, filha do fundador do Exército da Salvação, resolveu que nunca teria um filho que menosprezasse a religião, e não teve mesmo. A primeira e principal oportunidade para moldar o caráter de uma pessoa, tem-na a mãe. E de suma importância que esteja espiritualmente qualificada para tal tarefa!
• Não se estrague a criança pelo abuso de comentários orgulhosos sobre suas capacidades e virtudes. Coisas maravilhosas haviam sido ditas sobre Jesus, e pareceria natural que ela as compartilhasse com as amigas e vizinhas. No entanto, “guardava todas estas palavras, meditando-as no coração”. Esta lição aplica-se a muitas mães. Falam tanto sobre as virtudes dos filhos, que os ouvintes se cansam e os próprios filhos estragam-se por convencimento. Como resultado, só os choques dolorosos da vida podem retirar-lhes o orgulho infundido pela irresponsabilidade da mãe. Seja ensinado às crianças de grande talento a modéstia e o hábito de prestar contas a Deus, fonte única de toda boa dádiva.
• Manifestem as mães de filhos talentosos simpática compreensão aos ideais que eles alimentam. Mostram-nos os trechos examinados três incidentes em que Maria parece ter esquecido a divina missão de Jesus que lhe fora revelada. Sabia do terrível destino que o aguardava (Lc 2.34,35), mas talvez o seu intenso amor maternal quisesse desviá-lo do caminho do sofrimento e indicar-lhe um caminho mais fácil. Sem faltar com respeito à mãe, Jesus firmemente a fez lembrar a prioridade das reivindicações divinas sobre sua vida. A tríplice repreensão de Jesus recomenda as mães simpatia aos ideais dos filhos, mesmo quando não os entendem muito bem. Não sejam as crianças presas com os laços da sua própria voluntariedade.
2. A mensagem de Cristo às crianças. Jesus, mesmo em agonia excruciante ao morrer pelos pecados do mundo, não esqueceu de cumprir o dever simples e prático de cuidar da mãe. Lembra-noJ isto que nenhum dever, por importante que seja, justifica a falta de cuidado pelas pessoas que dependem de nós.
3. A família divina é composta de pessoas piedosas. “Qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe”. Não nos ensina isto fazer a vontade de Deus independentemente de Jesus, porquanto este revelou: “Sem mim nada podeis fazer . Somente pela união espiritual com Cristo podemos demonstrar sua bondade. O que Ele está nos ensinando é que, se realmente somos seus parentes espirituais, faremos a vontade de Deus, não para nos tornarmos cristãos, mas porque somos cristãos. Tem sido levantada a objeção de que aqueles que pregam a salvação pela fé muitas vezes negligenciam a ênfase à retidão prática. Tal possibilidade foi reconhecida por Tiago: “A fé sem obras é morta”. A doutrina correta, as experiências extáticas e as formas externas são todas necessárias; no entanto, são apenas o andaime para a edificação do caráter conforme a vontade de Deus. É mediante o cumprimento da vontade divina, seja em grandes ou pequenos feitos, que os crentes demonstram pertencer à família divina.
Fonte:
Pearlman, Myer
Lucas, ó Evangelho do Homem Perfeito.../ Myer Pearlman l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995

Almir Batista

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