0 Paralítico do Tanque de Betesda

Texto: João 5.1-14

Introdução
Como já notamos num estudo anterior, João chama os milagres de Cristo de “sinais” porque são indicadores da divindade do Senhor. Sete deles (antes da crucificação) são selecionados pelo evangelista: a transformação da água em vinho; a cura do filho de um oficial do rei; a cura do paralítico; a multiplicação dos pães para alimentar a multidão; Jesus andando sobre o mar; a cura do cego; e a ressurreição de Lázaro.
Este nosso estudo trata do terceiro destes milagres, que nos oferece as seguintes lições acerca de Cristo: Ele é o doador da vida, e, como o paralítico oüviu a voz de Cristo e foi restaurado, assim, no fim dos tempos, os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e viverão (Jo 5.25).
I - O Sinal (Jo 5.1-9)
I. A cena que entristece o coração. “Ora, em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres. Nestes jazia uma multidão de enfermos; cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento das águas. Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água, c o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse''. Trata-se de uma fonte intermitente, que possuía - ou cria-se que possuía - poderes de cura, ao redor da qual alguma pessoa benevolente edificara cinco pórticos para servirem de abrigo à multidão de enfermos que aguardava o movimento da água.
A multidão ao redor do tanque faz lembrar que o mundo está cheio de pessoas que sofrem das mais variadas enfermidades, sendo, porém, todas elas doentes; simboliza o mundo que se aglomera, com uma ansiedade que c quase desespero, ao redor de qualquer coisa que prometa solução, por mais vaga que seja, no sentido de ajudar e de curar.
2. A pergunta que desperta a esperança. Num dia de festa religiosa, Jesus se encaminhou para este “hospital natural”. Assim como o olhar experiente do cirurgião rapidamente seleciona o pior caso na sala de espera da sua clínica, Jesus logo fixou seus olhos em “um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo”. Era um aleijado, provavelmente um paralítico. Passara todo esse tempo esperando, ouvindo a conversa monótona dos outros enfermos, descrevendo detalhes dos seus sofrimentos que ninguém mais queria ouvir.
Jesus, chegando a este homem, aborda-o com a pergunta emocionante: “Queres ficar são?” A pergunta parece estranha porque, após trinta c oito anos de sofrimento e espera, nada mais natural do que pensar que era a única coisa que o homem desejava. A pergunta, no entanto, tinha várias razões para ser feita:
2. /. Para despertar a esperança. O coitado esperara tanto tempo e sofrerá tantas decepções, que a esperança mirrara dentro dele, assim como era mirrado o seu corpo. Era necessário, portanto, que Jesus despertasse nele novas esperanças, ajudando-o a ter a fé necessária para receber a cura.
2.2. Para despertar a Fé. Cristo não era como certos milagreiros que operam suas maravilhas mediante um preço, sem levar em conta a atitude ou condição moral da pessoa. Quando possível, Jesus exigia que a pessoa a ser curada tivesse fé. O propósito principal de Jesus em curar o corpo era transformar a alma, porque mesmo quando vivia na terra era o Salvador e, como tal, requeria a fé como elo espiritual que vinculasse o paciente à sua Pessoa. Note como a cura neste caso foi acompanhada por uma advertência ao homem, que deixasse de levar a vida de pecado que fora a causa de sua aflição (v. 14).
2.4. Para testar a sinceridade do desejo. Quando Jesus perguntou ao paralítico se queria ser curado, a pergunta era sincera c real porque existem enfermos que não desejam ser curados. Os médicos se oferecem para curar gratuitamente as feridas do mendigo, como ato de caridade, c são rejeitadas as suas ofertas; mesmo o enfermo que não usa sua enfermidade como fonte de renda, mediante a mendicância, tende a tirar vantagem da simpatia e indulgência dos amigos, a ponto de o caráter ficar tão fraco, que ele começa esquivar-se do trabalho. Há, portanto, muitos que, por uma ou outra razão, preferem ter saúde fraca.
A pergunta de Cristo significava: “Você está disposto a ser restaurado a uma condição que o capacitará a assumir as tarefas e responsabilidades da vida?”
3.Enquanto o homem responde, relembrando os anos de sofrimento e o lato de não ter escolhido aquela situação, as palavras de Jesus soam nos seus ouvidos: “Levanta-te, toma a tua cama, c anda”. A primeira vista, pode-se imaginar ser uma zombaria mandar um paralítico levantar-se e andar; devemos, no entanto, levar cm conta que quem falou estas palavras tinha poder para curar o homem, c que o homem tinha fé em quem falou com ele. O homem creu, e manifestou a sua fé mediante um alo de obediência a um mandamento que parecia impossível cumprir. Se Deus nos mandasse passar através de um muro de pedra, nossa obediência fiel nos levaria a traspassá-lo como se fosse uma folha de papel de seda, sempre na condição de termos a certeza de que a ordem partiu de Deus! A fé é crer c obedecer em tudo o que diz respeito àquilo que sabemos ser a Palavra de Deus. O paralítico obedeceu c “logo aquele homem ficou são; e tomou a sua cama, e partiu”. A fé é o elo entre a incapacidade humana e a onipotência divina.
II - A Sequela (Jo 5.10,11)
/. A condenação. Os milagres de Jesus eram sinais, mas nem sempre estes sinais foram entendidos. Ele alimentou as multidões e sentia-se decepcionado porque poucos perceberam ser Ele o Pão enviado do céu para nutrir as almas humanas (Jo 6). Curou o cego, demonstrando assim ser a Luz do Mundo, mas os fariseus hostis queriam apagar aquela Luz (Jo 9). Ressuscitou Lázaro dentre os mortos, mostrando ser a Ressurreição c a Vida, e este milagre provocou no Sinédrio o desejo dc matar o Autor da Vida. Na ocasião aqui estudada, Jesus operou um milagre que demonstrou ser Ele o que opera a vontade divina em restaurar a vida c a saúde, e os judeus queriam matá-lo por operar uma cura no sábado! (v. 16).
"E aquele dia era sábado. Então os judeus disseram àquele que tinha curado: É sábado, não te é lícito levar a cama”. Estes judeus tinham apoio nas Escrituras, nas palavras de Jeremias: “Guardai as vossas almas, e não tragais cargas no dia de sábado” (Jr 17.21). Naturalmente, a proibição dizia respeito a cargas que faziam parte de empreendimentos comerciais, mas os judeus, no seu exagerado literalismo, levaram o mandamento ao extremo.
2. A vindicação. O homem lançou a responsabilidade sobre Jesus, e respondeu: “Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma a tua cama, c anda.” Noutras palavras: “Foi aquele que me deu as minhas forças o mesmo que me mandou como empregá-las.” Que lógica magnífica! Na sua simplicidade, o homem acabou enunciando uma regra do discipulado cristão: aquEle que nos sarou e salvou tem o direito de dirigir a nossa vida. Se Cristo é a fonte da nossa vida, é também a fonte da nossa lei.


Fonte livro e autor.
João
 Pearlman, Myer
João, o Hvangelho do Filho de Deus.../
 Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.

Almir Batista

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