(Subsídio Teológico Lição 10/ 1º Trim 2017) Mansidão: Torna o crente apto para evitar pelejas

Mansidão  versus  Pelejas

A palavra mansidão,  em  grego, épraótes,  e destaca uma pessoa  que  é  gentil,  humilde,  cortês,  amável,  suave, tolerante (ICo 4.21; Gl 5.22,23; Ef 4.2; Cl 3.12; Tt 3.2;lPe 3.15). No português, mansidão é definida como serenidade, tranquilidade, calma, índole ou procedimento manso, pacífico. 

As duas definições expressam qualidades que um homem natural
ou carnal não pode ter por si próprio, pois essa grande virtude é fruto do Espírito Santo de Deus.
A mansidão pode ser entendida como uma qualidade suavizante, como uma canção que tranquiliza a alma mais angustiante,
como um médico que trata seu paciente com toda delicadeza,
como um pastor que cuida da ovelha com todo carinho. Ela não
expressa falta de coragem, disposição, mas é o lenitivo que traz o melhor alívio para quem está sofrendo.

A Singularidade da  Mansidão
Um ditador, um político, por vezes, promete, em suas campanhas, que tratará o povo com brandura, carinho, delicadeza, de modo que até as pessoas ficam surpresas quando pessoas de natureza diferente fazem tais promessas, e por um momento isso pode vir a acontecer. A mansidão, no contexto filosófico e político, pode ser descrita assim:

a) Delicadeza no bom trato com as pessoas.
b)  Não implicação de argumentos filosóficos. Essa atitude
parte daqueles  que não querem mais  criar conflitos em certas discussões, por isso se tornam suaves.
c) Bom humor para manter a paz, a tranquilidade ambiental.
d) Não se apropria de linguagem ofensiva para atacar alguém.
e) A mansidão é vista também como um tipo de freio para o
nosso próprio corpo (Tg 3.3). Platão dizia que a mansidão pode ser vista no bom trato para com os animais, como, por exemplo, um cão que tem sua natureza feroz, mas quando é treinado, disciplinado,  torna-se manso.  O homem pode ser veemente, mas sem deixar de ser delicado.

Agora trataremos da mansidão dentro do contexto bíblico,
mas antes vamos nos apropriar mais uma vez da definição que o pastor Stanley Horton faz:

A mansidão não é autorrebaixamento ou fazer pouco de si mesmo. Pelo contrário, é uma humildade genuína que não se considera importante demais para realizar as tarefas humildes. Não assume ares de grandeza ou imponência no sentido de deixar de ser cortês, atencioso e gentil com todas as pessoas. E modesta, mas bem-disposta a dar sua contribuição quando algo precisa ser feito.  (HORTON, 1993, p.  194)

Para Aristóteles, a mansidão era vista como um vício de de­
ficiência, autodepreciação, e não uma virtude, isso porque o seu olhar foi apenas do ponto de vista humano, natural. Champlin, no seu comentário bíblico, dá também uma definição maravilhosa sobre a mansidão, mas isso ele faz na perspectiva bíblica:
[...] Trata-se de uma submissão do espírito humano para
com Deus, e, em seguida, para com o homem. A mansidão
é resultado da verdadeira humildade, por causa do reconhecimento do valor alheio, com recusa de nos considerarmos superiores. Deus é a fonte dessa graça, e Cristo Jesus é o seu exemplo supremo, o que Ele demonstrou em todo o seu modo de tratar os homens. (CHAMPLIN, 1995, p. 511)

Nessas duas definições, está claro que para o espírito humano ser humilde, manso, reconhecer o valor do outro, sem querer ser superior a ninguém, é uma atitude que vem do próprio Espírito Santo para o homem que se quebranta a Ele. Se assim não for, sempre o espírito de soberba e exaltação é o que o dominará.

A mansidão é uma qualidade que está presente em toda a Biblia. No Antigo Testamento, ela é apresentada como a glória para uma mulher. O que torna uma mulher bonita, cheia de charme, elegante não são apenas os apetrechos exteriores, mas sim sua delicadeza, sua suavidade.

A mansidão é também o segredo para a prosperidade de um
rei (Sl 45.4,5), pois a tirania, soberba, sempre precedem a queda (Pv 16.18). Quem está na liderança, seja de uma igreja, seja de uma empresa ou de um lar, precisa ter o fruto da mansidão, doçura, delicadeza, pois dessa forma será amado, respeitado. Às vezes pensamos que o soberbo, que é o arrogante, o presunçoso, aquele que se acha melhor que todo o mundo é quem vai ter vitória, mas o profeta Isaías escreveu sobre os mansos dizendo: “O pé a pisará:
os pés dos aflitos e os passos dos pobres”  (Is 26.6).

Meu irmão, nós somos  tentados em alguns momentos a querer usar do espírito de soberba, de impor nossa vontade sobre
os outros, mas essa atitude infantil e carnal sempre nos colocará em sérios apuros. Portanto, o melhor é ser dirigido pelo Espírito Santo, procedendo em tudo com mansidão, pois a Bíblia diz que os mansos é quem herdarão a terra (Mt 5.5).

Os homens mais valentes e perigosos que o mundo já conheceu estão no cemitério, aqueles que se acham mais espertos,
cheios de tramas, negociatas, que se apresentam como duros,
maquiavélicos, sempre estão perdendo os seus tronos. Por isso, nesse particular é melhor seguir o ditado francês: “É preciso ter mãos de ferro com luvas de veludo”.


Mas alguém pode perguntar: Por que os mansos vencem, visto que não agem com tramas, truques, imposição, valentia?
A resposta para essa pergunta é simples:
a)  Ele está no amparo de Deus  (SI 147.6).
b) É guiado por Deus  (SI 25.9).
c) É defendido por Deus  (SI 76.9).

Moisés enfrentou muitas lutas, pelejas, oposições, mas saiu
vitorioso. Isso porque manifestou um espírito de mansidão (Nm 12.3).  Sobre a mansidão de Moisés, gosto muito da definição que o teólogo Gordon J. Wenhan faz, pois ele a destaca como humildade e dependência divina.
[...] Desta vez, quando a sua própria posição estava sendo
questionada, ele ficou em silêncio, pois era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra (3). A palavra “humilde” expressa melhor o  sentido  da palavra hebraica anaw do que manso.  E uma palavra que em outras passagens é usada apenas em poesia. Algumas vezes ela se refere às pessoas que estão
na pobreza propriamente dita, ou aos que são fracos e
susceptíveis de serem explorados (Am 2.7; Is  11.4). Tais
pessoas precisam esperar a ajuda de Deus, porque são
incapazes  de resolver os  seus próprios problemas...”.
(WENHAN, 1991, p.  118)

A mansidão de Moisés é descrita então como uma dependência total e plena de Deus. Ele não era um homem fraco, sem caráter, que deixava as coisas ficarem soltas, nem tampouco um covarde, que não agia, mas era forte, destemido, severo, irava-se no momento apropriado, e humilhava-se no momento certo. Se Moisés fosse fraco, sem ânimo, atitude, jamais teria conduzido o povo de Deus à Terra Prometida.

No Novo Testamento, praótes nunca aparece isolado; sempre
vem acompanhada do amor. E a mão de ferro com luvas de veludo  (ICo 4.21), para que qualquer atitude nunca seja firmada na soberba, amargura, mas sim na boa vontade para com o próximo.
Essa postura Paulo teve.

A mansidão, agindo na vida do servo de Deus, faz com que
ele tome atitude baseada na humildade, simplicidade, e não na soberba ou em um sistema legalista. Existem regras que não são feitas pelo amor; antes, visam mais complicar que ajudar, mas vivendo dominado pelo fruto do Espírito, a mansidão, as atitudes tomadas sempre serão grandiosas e benéficas.
Em  certos  momentos Jesus  agiu  mais  com  o  espírito
da mansidão  do que  com o sistema  legalista  do  seu tempo, quando  os  acusadores  apresentaram a mulher apanhada em adultério,  fizeram  menção  da lei,  pela  qual  ela  deveria ser julgada e morta, mas Ele se apresentou manso e livrou aquela mulher (Jo 8.5-11). Paulo também agiu baseado nesse mesmo princípio  (2Co  10.1).

O cristão deve viver em mansidão, humildade, tanto mental­
mente como na prática, isso porque o seu grande mestre, Jesus, jamais  esboçou espírito de soberba,  grandeza, superioridade, mas foi manso (Mt 11.29). Quando a mansidão é uma realidade presente na vida dos servos de Cristo, não há no seu meio espaço para a soberba, mas atitude humilde para servir e agradar os outros  (Ef 4.2).

O  Relacionamento de  Praótes com   a Severidade
Os  que não querem viver em mansidão serão fortemente
repreendidos por estarem agindo no espírito da soberba. Paulo era manso, mas perguntou aos crentes da igreja de Corinto de que forma queriam que ele fosse até eles, se com mansidão ou vara (1 Co 4.21). Ser manso não quer dizer que as coisas erradas jamais devem ser corrigidas, que uma postura severa não deve ser tomada!  Pelo contrário, a verdadeira mansidão exige que a justiça seja feita.

Paulo lutou constantemente contra aqueles que eram soberbos
e que contrariavam os ensinos da Palavra de Deus, mas sua postura era de mansidão. Ele jamais procurou criar embates, guerras, confusão. Ensinava que, para com essas pessoas belicosas, os servos de Deus deveriam evidenciar humildade, mansidão, cortesia. “Que da ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda a mansidão para com todos os homens” (Tt 3.2).

A mansidão não apenas contrasta com o espírito de soberba
e reprova os desobedientes, como procura demonstrar para o
próprio cristão sua pequenez, sua insignificância e quanto depende da Palavra de Deus para poder crescer cada vez mais  (Tg 1.21).

As bênçãos da mansidão para nossa vida são estas:
a) A correção que o cristão faz para com o outro é no espírito de mansidão (Gl 6.1). Um servo de Deus jamais corrige o outro para lhe causar vergonha, humilhação, mas sempre visando à sua perfeição espiritual. A correção procura levantar o caído, nunca, jamais, deixá-lo em um sentimento constante de derrota.
b)  Ela vence com delicadeza os que têm o espírito de op­sição ferrenha.  O servo de Deus tem a missão de combater os que ensinam doutrinas erradas, que provocam perturbações no meio da igreja, mas sua ação deve ser sempre com mansidão  (2 Tm 2.25). Lembre-se: fogo não se apaga com fogo, mas com água.
c)  A mansidão é uma forma de se apresentar o nosso testemunho perante todos.  Um cristão dominado pela mansidão
não procura impor suas verdades, mas responde com mansidão
e temor os que pedirem razão de sua fé em Cristo  (1  Pe 3.15).

Um espírito manso e quieto, com sabedoria, é a maneira mais
apropriada para se atrair os pecadores para o nosso meio  (Tg 3.13;  1 Pe 3.4).
d) Ela conquista. Quem tem esse fruto na vida com certeza
conquistará a terra (Mt 5.5).
Nós devemos ter esse fruto em nossa vida porque foi ele
que caracterizou grandemente a vida de Cristo. Jesus disse que devemos aprender dEle, pois  era manso  (Mt  11.29); em uma das profecias vaticinadas sobre Ele, foi destacada a mansidão ou humildade (Zc 9.9); e Paulo, falando aos crentes rebeldes de Corinto, usou sua autoridade tomando como exemplo a mansidão de Jesus Cristo (2 Co 10.1).


Quando a mansidão domina a vida do crente, ele tem auto­
controle, a força da natureza pecaminosa não se sobressai. Por essa razão, pode controlar-se diante das mais difíceis situações, e tratar com delicadeza os que se lhe opõem. A mansidão nos ensina a repreender sem ferir, a discutir um determinado assunto sem detratar o próximo, a irar-se sem pecar. A mansidão ensina-nos a viver bem com nós mesmos e com o nosso irmão.

A Peleja com o Espírito Combativo
A palavra grega erithéia fala de rivalidade, ambição egoísta, discórdias, espírito partidário que se fundamenta no egoísmo.

A rivalidade ou peleja como obra da carne sempre busca fazer
oposição à obra de Cristo, visando à contenda: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”  (Fp 2.3).
Precisamos entender que há uma distinção entre erithós no
grego koinê para o grego clássico. No grego clássico essa palavra era entendida como alguém que era contratado para um serviço sem expressar qualquer sentido negativo. Ela expressava também o sentido de se conseguir votos para um determinado cargo por meio de pessoas contratadas.
No entanto, cada vez mais essa palavra foi sendo espalmada
do seu real sentido, passando realmente a ser negativa. Alguns começaram a dizer que erithós estaria firmada em uma atividade puramente egoísta, em que os partidários buscavam chegar ao poder apenas para realizar seus desejos egoístas, sem qualquer preocupação com o povo ou com uma política verdadeira que os beneficiasse.

Note que num primeiro momento essa palavra era entendida
como uma pessoa que era contratada para prestar um serviço e
dele tirar seu sustento, mas agora ela é entendida não apenas como uma busca por um dinheiro,  mas sim por uma posição marcada pela ambição, com o objetivo de apenas alcançar seus interesses próprios.

Existem muitos que estão fazendo pelejas nas igrejas, alguns
buscando cargos, posições, mas será se realmente é pelo bem da obra de Deus, ou seria para fins pessoais? Paulo falou daqueles que pregavam o Evangelho, mas não com sinceridade, pois queriam tão somente desacreditar o seu apostolado.

N o meu livro  Tesouros nas Cartas da Prisão, falando sobre
esses pregadores falsos e o posicionamento de Paulo, digo:
Esses homens buscavam egoisticamente apenas posição, tudo por meio de artimanhas, meios desonestos, era assim que dizia Aristóteles, usando a palavra eritbéia, rivalidade ou
ambição egoística (Rm 2.8; G15.20; Tg 3.14,16). Eles tinham
em mente duas coisas: tirar a influência de Paulo na congregação e aborrecê-lo na prisão. Os que lerem esse texto devem entender que a posição de Paulo em respeito a esses falsos pregadores é que ele não os defende, mas defende somente o Evangelho.
Mesmo que o Evangelho fosse usado por meios ilegais para interesses pessoais, ele é o poder de Deus para salvar qualquer pessoa. E então, Paulo enfatiza o poder do Evangelho. Segundo Michael, diz que Paulo estava agitado
quando escreveu esse versículo. (GOMES, 2015, p. 129)

Os que são dominados pela eritbéia sempre estão se opondo
às verdades divinas, querendo causar transtorno em tudo, pois seu desejo por alguma coisa não vem dominado por bons planos, nem está alicerçado no bem comum de todos. Antes, seu objetivo é conquistar o melhor para si, tudo de modo egoísta, ao contrário do servo de Deus, cujo anelo é fazer tudo para glória de Deus (Rm 2.8-10).

Nas palavras de Paulo, ele usa eritbéia sempre de modo negativo, expressando o sentimento daqueles que realmente estão dominados pelo pecado, o que faz com que a inveja, ira, intrigas, apareçam no meio do povo de Deus  (2 Co 12.20).

Se vivermos nos domínios do Espírito Santo, jamais iremos
produzir as obras da carne, e evitaremos o desejo egoístico de querer fazer alguma coisa na obra de Deus apenas para ganharmos posição, sermos aplaudidos, nem faremos concorrência com nós mesmos.

Hoje vemos  pregadores  que  fazem questão  de desfazer dos outros, não é por zelo,  nem por amor à Palavra, nem para
edificação de vidas, mas seu intento é ser reconhecido  como
um grande especialista em matéria de pregação, teologia. Nesse ponto, é bom seguir a recomendação de Paulo: “Nada façais por contendas...”  (Fp 2.3).

Quando  agimos  dominados pelo  espírito  combativo da
peleja, os males que surgirão dentro da igreja serão os piores, especialmente o partidarismo. No momento em que essa obra carnal dominou o coração de muitos crentes em Corinto, eles passaram a olhar para Paulo e outros apóstolos com desprezo, já priorizando outros: “Quero dizer, com isso, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu, de Apoio, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo” (1 Co 1.12).

Meus irmãos, jamais devemos pelejar por qualquer coisa ou
cargo na igreja ou em comissões, acreditando que por estar ali é que seremos vistos, reconhecidos, nem querer servir ao corpo de Cristo para sermos reconhecidos pelos homens. Se estivermos com esse sentimento, precisamos urgentemente nos esvaziarmos dele, pois corremos  o risco de pagarmos o mesmo preço que Ananias e Safira pagaram  (At 5.1-16).

As pelejas na igreja produzem intrigas, brigas, politicagem,
e alguns crentes começam a fazer parte de um determinado grupinho não por querer bem à obra, mas porque deseja também
uma posição na igreja.

Uma prova bem clara dessa verdade é que em muitas reuniões
que se prolongam na igreja e em  outros ambientes, quando se
sabe que é para tratar de um assunto polêmico, ou para resolver o caso de um obreiro que está com problema, a maioria se mostra interessado, mas quando é para falar de oração, evangelismo, missão, muitos saem do recinto.

Para debelarmos de vez com o espírito de pelejas no meio da
igreja, o caminho certo é vivermos debaixo do poder do Espírito Santo, sempre tendo Cristo como centro de tudo, pois assim nossos sentimentos e desejos serão sinceros e aprovados por Deus.

Fonte: Aqui👇👇
 



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