ORAR AO ESPÍRITO SANTO

"É lícito orar ao Espírito Santo?"
O maior exemplo de como se deve orar está no ensino de Jesus a respeito  desse importante ministério (Mt 6.7-15), onde está implícito que a oração deve ser feita ao Pai, a quem pertence o reino, o poder e a glória: "E sucedeu que, ouvindo eu estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus", Ne 4.9; "Então virou Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor", Is 38.2; "orai pelos que vos perseguem", Mt 5.44. Até mesmo Jesus  dirigiu ao Pai as suas orações: Mt 26.33,42; Lc 22.42; Jo 17.1.

Todavia, a oração, embora feita ao Pai, deve ser em nome de Jesus: "Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei", Jo 14.14; "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles", Mt 18.20. Escritores eruditos concordam em que a oração deve ser feita a Deus Pai, em nome de Jesus.
Para que se tenha certeza de que se está orando a Deus é necessário uma  experiência de suã proximidade, de sua atenção para com o que lhe pedimos. Há possibilidade de estarmos orando sobre um assunto e pensando noutro.

Nessa oração não há poder. Somente quando nos colocamos face a face com Deus, sentimos a virtude da sua presença.
Orar direto e especificamente ao Espírito Santo não tem princípio bíblico, pois o Espírito Santo não toma para si a glória do que recebemos por meio de oração. Ele não fala de si mesmo, antes glorifica a Jesus: Jo 16.14. Logicamente, uma oração dirigida ao Espírito Santo não se justifica. Vemos, contudo, que nem sempre sabemos pedir o que nos convém e nem temos condições de chegar à presença de Deus. Neste sentido, é lícito esperarmos numa atuação voluntária do Espírito Santo a nosso favor: "Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza, porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis", Rm 8.26. Essa intercessão pode nos comunicar uma intensidade de oração que nos tornará agradáveis a Deus e capazes de alcançar a sua resposta.

AS OBRAS DA CARNE E O FRUTO DO ESPÍRITO

Por Marcelo Oliveira de Oliveira
Como o crente pode vencer a verdadeira batalha espiritual travada
Lição 1 - As Obras da Carne e o Fruto do Espírito
A relevância do tema
Caro professor, iniciaremos mais um trimestre de estudos bíblicos. Logo, nesta oportunidade, é importante que você tenha pleno domínio da proposta deste trimestre de estudo em Lições Bíblicas. O objetivo é fazer uma reflexão de caráter bíblico e prático acerca do Fruto do Espírito como oposição às Obras da Carne. Por isso, desde já, adiantamos para você que o comentário da revista deste trimestre destacará o embate espiritual que se dá na vida do cristão — no sentido de manifestar as virtudes do Espírito (Fruto do Espírito) — contra a insistência da velha natureza humana em “não morrer”. Que crente não luta diariamente contra a própria natureza? Quem não passa por tentações e provações de ordem estritamente pessoal?
O propósito do tema
Ora, todo crente enfrenta uma luta interna e espiritual quanto à formação e ao desenvolvimento do caráter cristão. Apesar de perceber-se regenerado e salvo pela graça de Deus, o crente em Cristo enfrenta muitas lutas de ordem interior (psicológicas e espirituais). Quando percebe que as obras da carne têm crescido e prevalecido em sua vida, a angústia instala-se na vida do crente. Nesse sentido, o Fruto do Espírito é o contraponto que deve permear a mente e o coração dos que foram nascidos de novo. Então, nossa esperança é que o contentamento e a alegria  habitarão novamente à vida do crente em Jesus.
A estrutura da lição

O tema deste trimestre está estruturado basicamente assim:

Naturalmente, por questão de espaço, nem todos os elementos do Fruto do Espírito e das Obras da Carne foram contemplados no presente estudo. Mas nada impede ao dedicado professor de pesquisar, desenvolver e abordar os demais elementos do texto bíblico de Gálatas 5.16-26.

(SUBSÍDIOTEOLÓGICO)LIÇÃO 13-4º Trim 2016/ PAULO: TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE

Posso todas as coisas naquele que me fortalece.
— Filipenses 4.13

Quando Paulo escreveu aos filipenses, estava dentro de uma prisão em Roma. Na realidade, Filipos foi a cidade na qual ele formou a primeira congregação de cristãos na Europa (At 16.11; Fp 4.15). Foi uma igreja formada, na sua maioria, por gentios e com alguns judeus. Ao escrever essa carta, ele estava num local que tinha a guarda pretoriana que cuidava dele. Com algum tempo, ganhou o respeito dos pretorianos e podia comunicar-se com eles. Como prisioneiro em Roma, ele aguardava o tempo em que seria convocado pelo imperador para depor sobre suas atividades. Foi sua apelação que o levou para Roma. Porém, foi uma prisão prolongada de dois anos que o impedia de viajar e manter contato com as igrejas fundadas por ele.
Entretanto, mesmo estando preso, física e geograficamente, o seu espírito não estava preso. Pelo contrário, parecia estar presente em cada uma das igrejas fundadas por ele. Sua mente ativada pelo Espírito Santo o fazia superar as tristezas da prisão onde estava. Quatro das suas epístolas — Filemom, Colossenses, Efésios e Filipenses — foram escritas na prisão. Na Carta aos Filipenses, Paulo não perde a postura de vitorioso, a despeito dos sofrimentos por que passava. Essas cartas foram escritas no período dos anos 62 e 63 d.C. O conteúdo dessa carta aos filipenses era o de exortações gratidão àqueles pelo amor demonstrado para com ele no tempo de sua prisão. Especialmente no capítulo 4, o apóstolo Paulo destaca o espírito solidário nas suas necessidades.
Paulo nos dá uma lição de como é possível superar as dificuldades, tanto materiais como as espirituais. Percebe-se que Paulo pressentia o fim do seu tempo de vida, mas ele não tem nenhuma atitude negativa ou pessimista. Pelo contrário, ele faz afirmações escatológicas e demonstra sua disposição para morrer por Cristo. Mesmo com o pressentimento de que podia ser mais um mártir do cristianismo, ele não se deixava vencer pela solidão, mas fazia questão de afirmar sua alegria pela presença de Deus na sua vida.

PAULO, PRISIONEIRO EM ROMA
Toda essa história começou em Jerusalém quando a notícia da chegada de Paulo alvoroçou judeus que viviam na Ásia e que o viam como um antijudeu que pregava uma doutrina que se confrontava com a doutrina judaica (At 21.17). Em Jerusalém, o apóstolo Paulo, depois de ter se encontrado com Tiago, não perde tempo e vai para o Templo. No Templo, ele foi reconhecido e acusado de provocador de discussões com a nova doutrina que pregava. O sumo sacerdote Ananias ordenou que o açoitassem e o prendessem, e o levaram para a fortaleza para não ser morto pelos opositores (At 21.37). Porém, Paulo pediu ao comandante que o tinha em guarda e solicitou dizer uma palavra à multidão agitada contra si. O comandante permitiu e Paulo fez a sua defesa, identificando-se como cidadão romano, mesmo sendo judeu. Foi conduzido ao Sinédrio que reuniu os sacerdotes para ouvi-lo e julgá-lo das acusações dos judeus (At 23.1-10). A celeuma aumentou entre os judeus, e Paulo esteve diante de Herodes, rei dos judeus; depois foi levado perante Félix e o rei Agripa. Festo o interrogou e ficou pasmado com a argúcia de palavras de Paulo, mas este apelou para César e, por isso, mais tarde, perante Festo, que era o governador da província, e a Agripa, o rei.

PAULO, UM HOMEM LIVRE, MESMO ESTANDO EM PRISÃO
Matthew Henry, em sua Bíblia de Estudo, comentou no texto de 2 Coríntios 11.23, que diz: “São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes”. O comentário diz: “Paulo era mais do que um simples ministro de Cristo. Deus o havia contado como fiel e o colocado no ministério”. Diz mais: “Algemas lhe eram familiares; nunca um notório malfeitor esteve tantas vezes nas mãos da justiça. A cadeia, o poste de açoites e todos os outros castigos daqueles que são contados entre os piores dentre os homens eram as coisas com as quais ele estava acostumado”. Paulo desenvolveu um sentimento de que, mesmo estando preso, seu espírito continuava livre para ministrar por meio da palavra escrita o evangelho de Cristo.
Paulo era homem como qualquer um de nós, que tinha uma personalidade forte e demonstrava as suas convicções no Cristo Salvador como objeto principal de seu ministério. Com esse objetivo, Paulo demonstrava sua total confiança e esperança para fazer a obra de Cristo, independentemente das perseguições e prisões. Porém, como homem, feito de carne e osso, Paulo tinha os seus medos e frustrações. A morte não o assustava, mas ele tinha em sua mente a consciência de que, com a ameaça de morte, ele estava pronto para morrer ou viver, porque a sua esperança na glória eterna era mais forte. Por outro lado, sua fé no Senhor Jesus era tão forte que o cativeiro vivido por ele não o impede de confortar e exortar a igreja em Filipos. Ainda que preso fisicamente, o seu espírito estava livre. Na Carta aos Efésios, Paulo se apresenta como “embaixador em cadeias” (Ef 6.20). Em síntese, sua mensagem não estava presa, porque, mesmo estando preso num cubículo em Roma, sua missão de embaixador de Cristo era realizada. Ele sabia que o evangelho de Cristo não podia ficar restrito aos judeus. Por isso, o seu afã missionário o levou à Ásia Menor, à Macedônia, à Europa e a todas as ilhas daqueles mares, principalmente, os mares Egeu e Mediterrâneo.
Conheci um servo de Deus na cidade de Vitória, ES, que estava preso a um leito de dor e sofrimento. Mas ninguém saía do seu quartinho humilde de enfermidade sem receber uma mensagem profética.

Destemor e Ousadia de um Preso em Cadeias
O apóstolo Paulo, pela providência de Deus, ao chegar a Roma foi tratado com benevolência, provavelmente, pela intervenção do centurião, que era o comandante chefe da guarda pretoriana e que passou a admirá-lo. Em Roma, foi-lhe permitido alugar uma casa pequena próxima da Guarda Pretoriana, e ele pôde viver um pouco mais à vontade, ainda que tivesse que manter seu punho ligado por uma algema a um legionário.
Entretanto, mesmo estando algemado e náo podendo locomover-se livremente, restrito à noite no cubículo de sua prisão, Paulo tinha seu espírito livre. Estava preso fisicamente, mas livre espiritualmente.
Ao ter notícias das igrejas que ele plantou, não deixou de se preocupar com o estado espiritual dessas igrejas, particularmente, Éfeso e Filipos. Mesmo tendo que ditar suas cartas e epístolas de forma audível para um amanuense diante do soldado que o vigiava, Paulo era ousado com o seu zelo pela vida espiritual daquelas igrejas. Ele se considerava “embaixador” dentro da prisão e não deixava de transmitir a Palavra de Cristo. Ele pediu oração à igreja em Éfeso por si, mas reafirmava sua liberdade para falar a palavra do evangelho. Por isso, mesmo estando preso física e geograficamente, dizia ter a “boca livre” para falar de Cristo (Ef 6.20).
Meu pai, pastor Osmar Cabral, em 1954, um dos pioneiros da obra pentecostal no Estado de Santa Catarina, foi enviado para pastorear uma recém-formada congregação em Chapecó, SC. Ele foi preso e levou chibatadas dos policiais da cidade, por ordem do delegado que odiava os evangélicos, apenas porque era pregador do evangelho. A igreja, com poucos crentes novos convertidos, pôs-se a orar para que o Senhor o tirasse da prisão. Dentro da prisão, quando inquirido sobre o que fazia, meu pai apenas disse ao delegado que pregava o evangelho de Cristo. Logo depois foi solto. Os verdadeiros crentes em Cristo não se intimidam com as perseguições nem com as ameaças de morte.

Alegria pela Fidelidade dos Filipenses
Paulo escreveu aos filipenses: “Como tenho por justo sentir isto de vós todos, porque vos retenho em meu coração, pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho” (Fp 1.7). Paulo agia com grande amor e demonstrava isso aos filipenses. Um líder verdadeiro, chamado por Deus para pastorear, é aquele que sabe amar e sabe demonstrar gratidão.
Depois de expressar sua alegria pelos cristãos em Filipos, Paulo declarou àqueles irmãos que se lembrava deles sempre em oração, valorizando a história da formação daquela igreja. Ele demonstra sua alegria pelo testemunho da fidelidade dos filipenses que não temiam defender e confirmar todos os que receberam a Cristo por Senhor e Salvador. Mesmo estando prisioneiro, não se deixou amargurar por nada. Antes, ele regozijava diante de Deus porque os filipenses participavam da sua vida de modo especial, sofrendo com ele. Por isso, tinha-os com grande afeição no seu coração.
Nos tempos modernos, nos deparamos com pretensas teologias, que são distorcidas da autêntica e genuína teologia neotestamentária. Essas novas “teologias” não admitem a realidade do sofrimento na experiência cristã, nem a fome, nem a nudez que os nossos pioneiros enfrentaram. Entretanto, Paulo tinha em seu corpo as marcas dos açoites que deixaram vergas em seus lombos; tinha as marcas das correntes que feriram seus tornozelos e braços nas prisões. Paulo passou por naufrágios, apedrejamentos e ficou enfermo algumas vezes em suas constantes viagens missionárias. Tudo isso e muito mais não roubaram a alegria do Espírito no coração de Paulo.

A Alegria que Supera a Adversidade
A escritura do texto de Filipenses 1.12-26 nos mostra que Paulo coloca a sua missão de pregador do evangelho acima de qualquer coisa no mundo. A paixão que o consumia era a pregação do evangelho de Cristo e, por essa paixão, ele estava disposto a enfrentar qualquer adversidade. Note isto: ele estava preso em Roma, mas as suas cadeias não o impediam de proclamar o evangelho e de se preocupar com as igrejas. Paulo entendia que nada podia diminuir a fé recebida e que tudo quanto havia enfrentado em suas viagens missionárias não o impediriam de anunciar a Cristo. Nada seria um entrave para o progresso da igreja de Cristo na terra. Para ele, o evangelho que pregava era mais poderoso do que cadeias e grilhões, e nenhuma circunstância de ordem política, material, física ou espiritual impediria o testemunho do evangelho. O testemunho das suas prisões produzia um sentimento de vitória nos cristãos da época, porque nada podia deter o poder do evangelho. Por isso, Paulo rejeitava a auto piedade. Náo queria que ninguém ficasse com pena dele e perdesse o ardor, o foco maior da pessoa de Jesus Cristo.

PAULO, SUA ABNEGAÇÃO ANTE 0 SOFRIMENTO Sua Disposição em Sofrer pelos Cristãos de Filipos
“E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós” (Fp 2.17). Essa declaração abnegada de Paulo deveria servir para despertar as consciências da importância do espírito sacrifical no exercício do ministério cristão. É lamentável que o mercenarismo, a boa vida e o profissionalismo estejam tão fortes na vida da igreja moderna.
Com a declaração feita por Paulo da sua abnegação e disposição para sofrer pela obra de Cristo, podemos entender a figura da “libação sobre o sacrifício” que estava disposto a fazer. Ele usou a figura dos sacrifícios no Antigo Testamento, especialmente, as ofertas de animais, como: um cordeiro, um carneiro ou um novilho. A libação acompanhava o holocausto e a oferta pacífica (Nm 15.1-10). Nessa libação, era usado vinho, ou mesmo “o sangue da vítima”, que era derramado no santuário. Na verdade, Paulo fez uma metáfora do significado desse rito durante os sacrifícios em Israel para falar que ele mesmo estava disposto a oferecer sua vida, seu sangue, como oferta perante o Senhor pelo sacrifício e serviço da fé feito pelos filipenses. A obra do evangelho realizada pelos nossos pioneiros requerida deles esse espírito sacrifical, e muitos deles deram suas vidas pelo Senhor. O serviço do evangelho tem sido mercantilizado e pouca gente está disposta a dar a sua vida pelo Senhor.

Paulo Lembra o Esforço de um Obreiro Fiel Chamado Epafrodito
Indiscutivelmente, Epafrodito foi um cristão exemplar. Era leal com Paulo e com os irmãos da igreja. Paulo o tratou como “um companheiro de milícia” que não restringia-se em servir a igreja de Cristo. Paulo lembra esse servo fiel aos filipenses (Fp 2.25), e carinhosamente o chama “Epafrodito, meu irmão”, porque era como se tivesse o seu próprio sangue nas veias. A fidelidade a Deus e a sua lealdade ao amigo Paulo o tornaram um modelo de crente e de servidor na obra de Deus. Estava sempre pronto a servir, mesmo correndo riscos de vida (Fp 2.30). Ele foi portador de uma oferta da igreja de Filipos para ajudar as despesas pessoais do velho apóstolo. Foi, também, portador de uma carta de Paulo à igreja de Filipos quando voltou de Roma para Filipos. Paulo dizia-se confortado por esse servo de Deus quando passava por alguma depressão e tristeza em momentos de solidão. Quando chegou a Roma, Epafrodito estava enfermo, mas não deixou de cumprir seu compromisso de levar a oferta da igreja para Paulo e de confortá-lo com as notícias dos irmãos filipenses. Ainda hoje Deus levanta gente do tipo Epafrodito para ajudar os seus líderes na igreja.

Paulo Faz Advertências contra um Grupo Judaizante no Seio da Igreja
A semelhança dos tempos atuais, quando a igreja é invadida por heresias, naqueles dias do primeiro século da Era Cristã, as igrejas estavam sendo invadidas por falsos pregadores com a introdução de ideias gnosticistas. Estava havendo, também, o ataque intelectual de judeus que se diziam convertidos a Cristo, mas não se desvencilhavam de crenças adotadas por um judaísmo gnosticista que negava o evangelho que Paulo pregava. Eram falsos mestres que se apresentavam como apóstolos, mas torciam a mensagem apostólica. Alguns desses judaizantes queriam impor costumes e ritos judeus para os cristãos como a circuncisão, a guarda do sábado, a dieta de alguns alimentos como forma de receberem a salvação plena em Cristo. Ainda em nossos tempos, nos deparamos no meio cristão com pastores que se dizem evangélicos fazendo cultos com ritos e costumes judaicos, como se a igreja fosse alguma sinagoga. A liturgia da igreja tem sua base na morte vicária de Cristo e na sua ressurreição. Por isso, nossa adoração difere da adoração dos judeus. O sistema judaico tem a sua importância histórica e escatológica, mas a igreja é a reunião de judeus e gentios formando um só povo (1 Pe 2.6-10) para servir ao Senhor Jesus.

PAULO ENSINA A VIVER COM EQUILÍBRIO
Ser cristão não significa viver numa corda bamba ou ter que ser equilibrista. Ser cristão implica agir com atitude firme e convicta acerca da sua fé. Deve saber o que crê sem se deixar influenciar pelas novidades que não possuem respaldo bíblico. No capítulo 4 da Carta aos Filipenses, o apóstolo Paulo faz várias exortações à igreja de Filipos acerca de algumas distorções doutrinárias que estavam comprometendo a doutrina cristã e afetando a vida cotidiana da igreja, além de produzir dissensões e desarmonia entre os irmãos. Eram problemas de ordem social e também doutrinária.

Paulo Exorta à Firmeza Espiritual
Paulo escreveu à igreja: “Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados” (Fp 4.1). Quando Paulo começa com a palavra “portanto”, ele a dizia depois de ter exortado acerca dos “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18). Quem eram eles? Referia-se aos falsos obreiros que se introduziam no seio da igreja torcendo a doutrina cristã ensinada por Paulo e que promoviam dissensões entre os irmãos. Esses “inimigos da cruz de Cristo” deveriam ser desarticulados e expostos como falsos obreiros. Ora, depois dessas exortações, Paulo, mais uma vez, exorta os filipenses, porém de forma apelativa, quando diz: “estai assim firmes no Senhor”. Era, de fato, uma necessidade imperiosa na vida dos crentes a firmeza espiritual. Essas distorções vinham, especialmente, de um grupo judaizante que apresentava falsos mestres que negavam valores doutrinários da doutrina de Cristo e influenciavam os cristãos quanto à sua fé. A igreja não podia ceder aos falsos mestres que provocavam desavenças internas e dúvidas na mente dos crentes. A igreja deve permanecer firme no Senhor, porque as coisas de Deus são mais preciosas que as coisas terrenas. As convicções da obra redentora por meio da cruz de Cristo deveriam ser mais fortes que os conceitos desse grupo que se constitui, inegavelmente, em inimigos da cruz de Cristo. Mas Paulo exorta à firmeza na fé que produz a alegria, diferente da alegria do mundo, porque a alegria do Senhor produz força para a superação de todos os problemas e crises.

Paulo Adverte os Filipenses contra a Desarmonia entre si
Na história da igreja ao longo do tempo, as mulheres sempre estiveram presentes em maioria. Naturalmente, naqueles primeiros tempos da igreja, a sensibilidade das mulheres as atraiu para a mensagem cristã. Na igreja em Filipos, Paulo teve notícias de que estava havendo um conflito de opiniões e sentimentos diferentes entre duas mulheres especiais, Evódia e Síntique. Essas duas mulheres muito fizeram pela igreja nos seus primórdios, porém, naqueles dias, estava havendo esse conflito produzindo desarmonia na liderança da igreja. Tudo indica que essas mulheres exerciam certa liderança muito útil na igreja, mas que, ao entrar em conflito de opiniões, provocaram um mal-estar geral na igreja. Evódia e Síntique discutiam constantemente acerca de coisas da vida eclesiástica e não conseguiam ter um mesmo parecer. Em outra ocasião, o apóstolo Paulo disse à igreja em Corinto: “que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer” (1 Co 1.10). Sem dúvida, deixaram a direção do Espírito em suas vidas e permitiram que a força da carne predominasse suas mentes, e, com isso, a igreja estava dividida. Paulo roga às duas mulheres que mudassem de atitude, pois elas estavam promovendo a divisão e quebrando a autoridade apostólica. As crises provocadas por conflitos no seio da igreja devem exigir do pastor a habilidade pastoral que Paulo teve, mesmo estando distante daquela cidade. Paulo, então, exorta com ternura e atribui sua exortação ao Senhor da Igreja, Cristo Jesus.

Paulo Lembra Clemente, um Fiel Servidor
No contexto de exortações feitas às duas mulheres e à igreja em Filipos no capítulo 4, Paulo lembra um homem especial chamado Clemente, pessoa que se destacava pela dedicação à obra do evangelho na cidade (Fp 4.3). Na história da igreja surgiram alguns Clementes e se atribui ao Clemente de Filipos a possibilidade de ser um dos eminentes “pais da igreja”. Entretanto, não se pode provar que seja ele o eminente Clemente da história dos pais da igreja. O que importa é que Paulo cita o seu nome como alguém comprometido com o evangelho e com a preservação da unidade da igreja onde servia como obreiro zeloso e dedicado.

O Controle da Mente para a Superação de Crises
O apóstolo Paulo aprendeu em toda a história da sua vida que a superação de crises em quaisquer campos da vida pessoal precisa da ajuda do Espírito para controlar a mente. Nesse sentido, ele destacou algumas verdades que devem permear a nossa mente. Há um trabalho duplo: do Espírito Santo e do próprio crente. Para esse trabalho, ele escreveu: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4.8). Nessa escritura paulina, não há nenhuma ideia sobre “o poder da mente”, mas ele mostra que o que prevalece é a mente de Cristo. Paulo escreveu aos corintos e disse-lhes: “[...] Mas nós temos a mente de Cristo” (1 Co 2.16). E preciso esvaziar a mente de coisas fúteis e enchê-la com pensamentos que se harmonizem com o evangelho.

Paulo Mostra o Segredo da Vitória sobre as Crises
O apóstolo Paulo, depois de oferecer à igreja um chá amargo, oferece, logo depois, algo mais doce para aliviar a pressão provocada por algumas crises internas. No texto de Filipenses 4.10-13, Paulo não lhes passa uma reprimenda, mas recomenda “moderação” como atitude capaz de evitar dissensões e porfias como estava acontecendo com Evódia e Síntique (Fp 4.2,3). A moderação é uma qualidade de equilíbrio que desfaz o tumulto, a murmuração. Paulo queria a concórdia e a união de todos os cristãos de Filipos. Ora, além do conflito interno em termos de liderança provocado por Evódia e Síntique, ainda enfrentavam o ataque contra a doutrina recebida no início da fé. Paulo sabia que algumas coisas negativas como exasperação ante os problemas sociais e a ansiedade não são atitudes próprias de pessoas que vivem em Cristo Jesus. Por isso, ele disse: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e suplicas, com ação de graças” (Fp 4.6). Portanto, o equilíbrio mental e espiritual para pensar e agir na vida cristã requer concentração no exemplo de Cristo Jesus. Coração e mente precisam estar conectados em Cristo Jesus.

Em toda Crise É o Senhor quem nos Socorre
E interessante perceber que, em nenhuma outra carta, Paulo permite um olhar sobre a sua personalidade, seus sentimentos. Ele expressa suas convicções, sua esperança e confiança, mas revela, também, seus medos e frustrações. Ao mesmo tempo em que declara que já aprendera a con- tentar-se sob quaisquer circunstâncias, na abundância e nas necessidades, na fome e na fartura, tendo tudo e não tendo nada, ele sentia-se capaz de superar essas dificuldades porque Cristo o fortalecia. Aos corintos, Paulo também falou do seu aprendizado na obra do ministério, e diz: “Até esta presente hora, sofremos fome e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados e bendizemos; somos perseguidos e sofremos; somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como o lixo deste mundo e como escória de todos” (1 Co 4.11-13).
Quando Paulo diz que “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13, ARA), estava, de fato, expondo seu sentimento de que poderia ser sacrificado em um tipo de morte provocada por sua prisão, mas entendia que tudo isso contribuía para a proclamação do evangelho. Por algum instante, ele vê na possibilidade da sua morte o futuro que lhe reserva de esperança e confiança no Cristo que lhe garante a vida eterna. Mas, entre morrer e viver, Paulo escolhe a vida para poder continuar a pregar o evangelho. Essa possibilidade produzia em seu coração a alegria produzida pelo Espírito Santo, que o tornava capaz de superar toda e qualquer crise. Estando na penúria, ele não se sentia pobre, e estando com abundância, ele usa o que Deus lhe deu para fazer a vontade de Deus.
Enfim, aprendemos com Paulo que o contentamento (Fp 4.11) da sua alma era gerado pela suficiência de Cristo em todas as circunstâncias. Aprender a viver contente implica uma disposição para aceitar que Deus cuida de nós em meio às situações mais angustiantes. Aprendemos, também, que devemos submeter nossa mente a Cristo e ter nossos pensamentos controlados pelo Espírito Santo. Nunca seremos autossuficientes, mas dependeremos dEle sempre.

Na vida cristã, o contentamento gerado pelo Espírito Santo torna o crente capaz de superar quaisquer crises.

Fonte: Livro de  Apoio 
ELIENAI CABRAL é pastor, escritor, conferencista e articulista. Atualmente é líder da Assembleia de Deus em Sobradinho-DF e presidente da Convenção das Assembleias de Deus do Distrito Federal (CEADDIF). É também autor de vários livros publicados pela CPAD, entre eles, Integridade Moral e Espiritual, Filipenses, A Defesa do Apostolado de Paulo, Romanos e O Pregador Eficaz.

(SUBSÍDIO TEOLÓGICO)SALOMÃO: LIÇÃO 12- 4º TRIM- 2016 -- SABEDORIA EM TEMPO DE CRISE

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; bom entendimento têm todos os que lhe obedecem; o seu louvor permanece para sempre.
— Salmos 111.10

A história de Salomão começa com uma crise de sucessão no trono de Israel. Davi, obteve grandes sucessos como guerreiro de grandes batalhas e de ter expandido as fronteiras da nação israelita. Ao longo do seu reinado, Davi acumulou muitas riquezas, visando ao sonho maior de sua vida que era a construção do Templo em Jerusalém, mas não soube administrar bem sua família. Ao chegar à velhice, o reino estava sem o governo pessoal, motivando a luta pelo trono. Já havia perdido alguns filhos, e entre os que restaram estava Adonias, que era o quarto mais velho dos filhos vivos (2 Sm 3.2,3). Ao inteirar-se de que Salomão era o preferido de Davi para assumir o trono, Adonias não acatou a decisão do pai sobre Salomão.
A diferença entre Adonias e Salomão era o fato de que Adonias era vaidoso, ambicioso e gostava de ostentar pompa, sempre acompanhado de uma escolta de soldados do exército israelita montados em cavalos pomposos. Não tinha sensibilidade espiritual, por isso, resolveu aproveitar-se da enfermidade do seu pai para apoderar-se do trono. Pior ainda foi a atitude de um dos mais fiéis aliados de Davi, o comandante Joabe, que juntamente com Abiatar, que era um dos principais sacerdotes no reino, com medo de perder sua posição de comando, apoiou Adonias na sua intenção. Os dois, Joabe e Abiatar, que tiveram uma vida de lealdade para com o rei Davi, deixaram-se persuadir de que Adonias assumiria o trono e eles estariam bem. Traíram a confiança do velho rei. Davi, então, tomou uma atitude e empossou Salomão no seu trono na presença de todo o povo e dos homens leais da corte do reino. Davi reinou sobre Israel por quarenta anos (1025-985 a.C.). O sonho maior da sua vida desde que assumiu o trono de Israel era de estabelecer um lugar fixo para adorar a Deus e construir uma casa de adoração, um grande Templo. Ao chegar aos 70 anos de idade, Davi ficou enfermo. Essa situação criou algumas dificuldades no seu reino, com familiares e com homens da corte. Em meio ao estado de saúde frágil, Davi foi informado de acontecimentos desagradáveis que estavam produzindo um estado de insegurança no trono de Israel. Então ele entendeu que estava chegando a hora da sucessão, e resolveu indicar o seu sucessor. Contrariando a prática comum da sucessão pelos mais velhos nos reinos do mundo, nenhuma lei impedia que Davi fizesse diferente. Desde Absalão, por não ter a atenção do pai, e depois Adonias, ambos tiveram problemas de relacionamento com o pai e criaram situações de conflito achando-se aptos para assumir o trono, mas Deus mostrou a Davi que ele tinha que tomar uma atitude firme para preservar o seu trono até a sucessão daquele que Deus o havia declarado para sucedê-lo. O profeta Natã, que foi orientador espiritual do reino de Davi, procurou a Bate-Seba orientando-a para que lembrasse a Davi, seu marido, que o homem para sucedê-lo era o seu filho Salomão, e assim o fez (1 Rs 1.11-18).

SALOMÃO É EMPOSSADO REI EM MEIO A CRISES
O personagem dessa história é Salomão. Por isso, é ele que destacamos neste capítulo. A atitude de Salomão, nessa primeira fase de sua vida, agradava ao Senhor, porque parecia ser a pessoa certa para administrar a crise do reino de modo temente a Deus. Era uma crise que atingia não só a corte do reino, mas todo o povo estava afetado pela insegurança daquele momento. Em quem confiar? Como fazer para administrar aquela situação para promover a paz no coração do rei e do povo? No caso de Adonias, sua mente estava voltada para si mesmo e como tirar proveito daquela situação para promover-se com traição e egoísmo. Mas Deus, o Senhor de Israel, estava com o cetro de governo na mão. Davi, seu servo, apesar dos erros cometidos, era alguém segundo o seu coração; por isso, Deus não permitiria que houvesse divisão no reino. Davi sabia que seu sucessor seria alguém capaz de manter o reino e glorificar o nome de Jeová.

0 Declínio do Reinado de Davi
A primeira grande crise enfrentada por Salomão foi o declínio da saúde de Davi e tornar-se incapaz de resolver os problemas internos do reino naqueles dias. Davi parecia ter perdido o vigor para continuar a reinar sobre Israel. Um pouco antes de Salomão assumir o trono de Israel, o reino parecia dividido quanto ao sucessor para o trono porque o rei Davi estava fragilizado por lutas internas no reino. O velho rei ficou fragilizado pela enfermidade e pela vulnerabilidade do seu reino, caindo em situação insustentável na corte e com seus próprios filhos.

A Trama de Adonias, Joabe e Abiatar contra Davi e Salomão
Adonias era, naquele contexto, o filho mais velho da casa de Davi e, aproveitando-se da enfermidade do pai, começou a tramar a sucessão sem consultar o pai, atraindo pessoas da corte para apoiá-lo. Se trouxermos essa experiência do reino de Israel e a situação do rei Davi, enfermo e enfraquecido no seu reino, para o contexto da igreja de Cristo hoje, ficaremos assustados com o que acontece. Líderes que envelhecem e perdem a força de governo na igreja acabam criando situações de conflito para a sucessão pastoral. Nossos líderes, às vezes, perdem a noção do seu papel na igreja, e pessoas com intenção egoísticas formam grupos que traem a confiança pastoral gerando mal-estar no seio da igreja. Que o Senhor nos guarde dessas atitudes e que nossos líderes saibam o tempo de passar o bastão para outro pastor.
No declínio momentâneo da realeza, o rei se tornou alvo de traição, mentira e ambição. Adonias sentia-se com direito ao trono e entendeu que o mesmo pertencia a ele por direito. Uma vez que seu pai, o rei Davi, estava enfermo e sem condições de tomar decisões sobre o reino, Adonias achava que deveria assumir de imediato. O problema não era, apenas, a sucessão, mas o oportunismo de um momento frágil do governo do seu pai, em que Adonias imaginava que o grande guerreiro não estivesse lúcido o suficiente para decidir a sucessão. Ele, então, tomaria a iniciativa, independentemente do conhecimento do pai, e assumiria o trono. Era, na verdade, a tentativa de um golpe político que ele armou, procurando conquistar a confiança de líderes do povo, para assumir o trono. Na mente de Deus, o seu desígnio estava estabelecido, e nada mudaria o plano para o futuro de Israel. Mesmo que não entendamos, às vezes, a lógica divina nessas situações, devemos saber e reconhecer que Deus é perfeito em seus pensamentos e o que pensa está acima dos nossos pensamentos e julgamentos.

Davi Entendeu a Vontade de Deus para a Sucessão do seu Trono
Ao ser alertado sobre a trama que estava sendo feita por Adonias, o rei Davi levantou-se do leito de enfermidade e começou a agir. Bom é quando um servo de Deus na liderança se conscientiza do tempo do seu trabalho. Lamentavelmente, muitos líderes se assenhoram do poder e perdem a noção do tempo de Deus em suas vidas e ministérios. De pé e disposto a fazer o que não poderia deixar para depois, Davi chegou à compreensão de que o seu tempo havia chegado ao fim e que era o momento de outro líder assumir o trono. Davi, certamente, teve tempo para refletir sobre tudo o que estava acontecendo e, por isso, tão logo teve conhecimento dos problemas que estavam acontecendo, tomou a iniciativa para entronizar seu filho Salomão no trono de Israel. Davi estava consciente de que não construiria o Templo, mas o seu filho haveria de construí-lo. Durante anos Davi fez tudo quanto pôde para realizar o sonho maior do seu reino, e juntou muito material de construção para a realização do sonho (1 Cr 22.1-5). Davi sabia que Deus não permitiu que Ele realizasse a obra da construção do Templo em Jerusalém porque durante toda a sua vida ele fora um homem de guerra (1 Cr 22.8), mas Deus lhe garantiu que o seu filho Salomão haveria de construir o grande Templo.
Salomão tinha uma índole diferente e não seria homem de guerra, mas seria um homem pacífico, inteligente e conciliador, sendo fiel aos conselhos do pai e com a consciência de ser o homem designado por Deus para construir o grande Templo (1 Cr 22.9,10).

Salomão Foi Conduzido ao Trono de Israel
O rei Davi, confiante na direção de Deus, não titubeou na ação de conduzir Salomão a assentar-se no trono de Israel e proclamá-lo rei de Israel. Diz o relato histórico dessa posse que “Salomão se assentou no trono de Davi, seu pai, e o seu reino se fortificou sobremaneira” (1 Rs 2.12). Davi ainda estava vivo quando deu posse ao trono para Salomão, mas Adonias, ainda insatisfeito, esqueceu-se da salvação que recebera um pouco antes, e tramou algumas situações para tomar o trono de Salomão, porque se achava com direito ao trono e sentia-se traído por seu pai. Então ele aliciou pessoas em todo o reino para o seguirem e fazerem frente a Davi e Salomão. Adonias tramou algumas situações para ganhar o coração e o apoio do povo, aproveitando-se da fragilidade do pai doente. Com astúcia, Adonias conseguiu o apoio de Joabe, o grande general dos exércitos de Israel, e de Abiatar, que era o sumo sacerdote, bem como de Simei, os quais se uniram em apoio à conspiração de Adonias. Em sua cruzada contra Davi e Salomão, Adonias organizou uma grande festa, típica para uma coroação, e fez um grande banquete fora dos muros da cidade para não chamar a atenção. Mas a tentativa de golpe de Adonias foi fracassada e os seus seguidores espalharam-se. Adonias teve que reconhecer que Salomão era o rei e ele deveria submeter-se ao seu reinado. Com medo de ser morto, Adonias, para salvar-se, segurou-se nas pontas do altar da Arca do Concerto (1 Rs 1.49-53). Salomão, que não era sanguinário, ordenou que tirassem a Adonias do lugar onde estava o altar e ordenou que não tocassem em nenhum fim de cabelo de seu irmão.

Adonias Agarrou-se às Pontas do Altar para não Ser Morto
Quando Salomão assumiu o trono, seu pai ainda estava vivo. Adonias, sentindo-se rejeitado e sem entender a direção de Deus, continuou a conspirar contra Salomão. Por causa da sua traição, ele poderia ser morto. Mas, apavorado com a possibilidade de morrer, correu para o Santuário e, chegando lá, “agarrou-se às pontas do altar”, lugar dos sacrifícios a Deus. Era um lugar em que ninguém ousaria cometer uma violência. Por isso, Adonias “pegou das pontas do altar”.
Mas que altar era esse? No Tabernáculo de Israel, havia dois altares apenas. O primeiro ficava no pátio do Tabernáculo, entre a porta de entrada e a porta do Tabernáculo. O primeiro era o altar de sacrifícios e o segundo era o altar de incenso, que ficava no Lugar Santo, espaço para o candelabro (candeeiro, castiçal) e a mesa dos pães da proposição. O altar, que tinha quatro pontas (ou chifres) e era feito com madeira de cetim e coberto com cobre, ficava no pátio onde eram feitos os sacrifícios. Foi nas pontas desse altar que Adonias, no desespero para não morrer, agarrou-se. A simbologia desse altar é a misericórdia e a justiça de Deus. O texto da Bíblia na versão Almeida Revista e Corrigida diz que Adonias foi “e pegou das pontas do altar” (1 Rs 1.50) e assim sua vida foi salva da morte. Adonias tornou-se reincidente na sua ambição pelo trono, mesmo tendo sido liberto da morte ao “agarrar-se nas pontas do altar”. Logo em seguida, continuou conspirando contra Salomão e acabou sendo morto (1 Rs 2.25) e não escapou da traição que fizera Joabe (1 Rs 2.31).

SALOMÃO SUBMETE-SE A DEUS PARA REINAR
Dos quatro filhos que Davi teve em Jerusalém, Salomão foi o quarto filho. Do primeiro filho de Bate-Seba, o rei pagou um preço caríssimo pelo seu pecado, mas Deus o perdoou, mesmo que aquele filho não tenha sobrevivido. Quando nasceu esse segundo filho de Bate-Seba, Davi o chamou Salomão, e diz o texto que “O Senhor o amou” (2 Sm 5.14). Porém, Natã, o profeta, o chamou Jedidias, cujo significado era “amado do Senhor”. Prevaleceu o nome que Davi lhe dera: Salomão (2 Sm 12.24,25).
Nos desígnios divinos, Salomão se tornou o homem que Deus elegeu para ser o futuro rei no lugar de Davi, seu pai. Quando Salomão foi empossado no trono, o reino era grande e forte, porque Davi fez prosperar o reino, ainda que o estilo de governo tenha sido um tanto doméstico, porque ele manteve o modelo patriarcal da vida do povo. Porém, quando Salomão assumiu o reino, estabeleceu um modelo de estado, que passou a ser respeitado pelas nações ao seu redor. Ao assumir o reino, Salomão teve a humildade de respeitar a liderança de Davi, ouvindo-lhe sobre o modo de administrar a nação e manter-se fiel ao Senhor de Israel.

Salomão Recebe Conselhos de seu Pai
Antes de sua morte, o velho rei Davi convocou seu filho Salomão para aconselhá-lo e orientá-lo sobre o reino. Não queria que seu filho cometesse os mesmos erros cometidos durante seu reinado. Apesar de algumas fraquezas , Davi não deixou de ser “o homem segundo o coração de Deus”. Ele estava seguro da vontade soberana de Deus naquela transição e sucessão para seu filho Salomão. Por isso, seus últimos conselhos foram fortes, quando instou com Salomão para que fosse fiel e obediente a Deus para dirigir os destinos do seu reinado com prudência e sabedoria. Logo a seguir, Davi morre depois de 40 anos de um reinado de grandes conquistas para Israel, e Salomão dá continuidade a um reinado de prosperidade e bênçãos de Deus.

Salomão Aprendeu a Amar a Deus e Depender dEle
Depois do sepultamento do pai, Salomão buscou ao Senhor para reinar em Israel. O texto bíblico diz que Salomão amava a Deus e, por isso, consciente de sua inexperiência, foi a um dos montes altos chamado Gibeão, onde ficava, também, a Arca da Aliança, para oferecer holocaustos a Deus e receber dEle a sabedoria de que precisava (1 Rs 3.4). Foi no monte Gibeão, numa das noites de preocupação com o reino e como administrá-lo, que Deus falou com Salomão em sonhos. Foi um verdadeiro encontro com Deus. Nesse sonho, Salomão ouviu tudo o que precisava saber, porque o sonho foi um modo especial de Deus falar ele e o novo rei abriu o coração para Deus em oração. Em sua oração, Salomão pediu a Deus sabedoria para poder reinar sobre o povo de Israel. Essa atitude humilde de Salomão agradou a Deus, que se dispôs a fazer muito mais do que o rei estava pedindo. Deus lhe disse: “Pede o que quiseres que te dê” (1 Rs 3.5). O jovem rei, obediente aos conselhos do pai, entendeu que não conseguiria reinar com segurança sem obter sabedoria para saber reinar.

Salomão Teve o Cuidado Inicial de Honrar o Desejo do Rei Davi
O seu pedido por sabedoria para saber reinar sobre o povo de Israel agradou a Deus, e Salomão partiu não somente para administrar os assuntos da corte, mas para realizar o sonho de seu pai. Uma das primeiras ações de Salomão foi a de absorver o sonho de Davi, seu pai, que era a construção do grande Templo em Jerusalém (1 Rs 3.2-4).
O desejo de Davi era juntar o povo de Israel num só lugar para adorar a Deus. Davi não somente juntou os materiais de construção do grande Templo de Deus, mas visualizou o futuro planejando toda a liturgia que seria realizada no grande Templo. Essa liturgia envolvia o trabalho sacerdotal, o serviço diário dos levitas, as bandas e corais de música e cada coisa própria do Tabernáculo. Portanto, toda a liturgia da vida religiosa de Israel foi organizada e os planos foram entregues a Salomão. A necessidade de congregar o povo num só lugar e a dificuldade do povo e do próprio rei para subir para os montes, especialmente em Gibeão, para sacrificar ao Senhor (1 Rs 3.3,4) fez com que Salomão partisse para a ação. Essa dificuldade vinha desde os tempos anárquicos dos juízes. Por isso, construir uma casa para Deus em lugar fixo era uma necessidade de todo o povo, além de manter a união das famílias e fortalecer o reino de Israel. Esse sonho planejado por Davi foi confiado a Salomão para a sua realização.

Salomão Foi Humilde ao Pedir a Deus Sabedoria para Saber Governar
Todo e qualquer líder da obra de Deus precisa sempre reconhecer que os assuntos cotidianos da vida do povo de Deus precisam ser tratados com graça e sabedoria. Ao assumir o trono de Davi, o jovem rei Salomão sentiu o peso da responsabilidade e, por isso, ao orar a Deus, não pediu riquezas materiais, ou qualquer outra coisa que lhe trouxesse apenas vantagens pessoais. Ele foi humilde diante de Deus e “se considerou menino” para tão grande responsabilidade. Ele pediu sabedoria para saber discernir as várias situações sociais, políticas e espirituais que estariam presentes no seu reino. Ele tinha um espírito reto e, por isso, queria agir com justiça em todas as causas. Em vez da espada, o diálogo e o bom senso. Essa atitude sincera agradou a Deus, confirmada pelo texto bíblico que diz: “E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, que Salomáo pedisse esta coisa” (1 Rs 3.10). Aprendemos que é bom obter sabedoria e ciência, mas todo conhecimento que pudermos obter no mundo dos homens não é superior à “sabedoria do alto”, porque a sabedoria do alto implica um fluir do Espírito na mente daquele que a usa para glória de Deus.

SALOMÃO DEMONSTRA SUA SABEDORIA PARA EDIFICAR 0 TEMPLO
Israel era, até então, uma nação isolada que pouco se comunicava com as nações próximas. A ideia de ser um povo exclusivo de Deus também desenvolveu uma cultura de exclusivismo, para não correr o risco de influências pagãs no seio do povo de Deus. Mas Salomão, diferentemente do seu pai, entendeu que Israel poderia ser uma nação líder no Médio Oriente, mantendo uma relação amistosa de política e comércio com as mesmas. Naturalmente, ele, com inteligência, fortaleceu seus exércitos e fez das cidades de Israel verdadeiras fortalezas. Todas as rotas de comércio eram bem protegidas e as fronteiras muito bem guarnecidas pelos seus exércitos.

Salomão Usa sua Sabedoria no Trato com as Nações Adjacentes
Em vez de fazer guerras com as nações adjacentes a Israel para conquistar espaço e riqueza como fazia seu pai Davi, Salomão usou de sua sabedoria para abrir o espaço ao diálogo com as nações vizinhas. Como ele precisava de materiais para construir o grande Templo de Jeová, fez acordos políticos de comércio com vários reis das nações adjacentes a Israel. Fez isso com o rei Flirão, na Fenícia, para obter deles a cooperação de matéria-prima, como cedro e pedra especial. A proposta de cooperação entre Salomão e Hirão teria a reciprocidade comercial. O cedro do Líbano era madeira cobiçada pelos reis de todas as nações, e Salomão conseguiu convencer essas nações e seus reis a manter uma relação de paz entre os reinos. Salomão negociou com Hirão uma forma de pagamento justo. As madeiras desejadas eram cedro e faia, ou seja, provavelmente significa cipreste (1 Rs 5.6,8)- Os dois reis, Salomão e Hirão, puseram trabalhadores profissionais em corte de madeira e de pedras para os trabalhos artísticos. Essa relação foi positiva para ambos e demonstra o dedo de Deus orientando a preparação para a grande construção. Precisamos, em nossos tempos modernos, de homens tementes a Deus que saibam defender os interesses do Senhor na vida política, na igreja.

0 Legado Material de Davi para a Construção do Templo
Durante muitos anos, o rei Davi teve o cuidado de acumular muitas riquezas com o objetivo de construir o grande Templo. Nas suas guerras, Davi, pelos direitos internacionais, tomava os despojos das guerras em ouro, prata, cobre, bronze e pedras preciosas e os trazia para Jerusalém (1 Cr 22.14). Essa riqueza acumulada por Davi chegou a totalizar 3.400 toneladas de ouro, 34.000 toneladas de prata e uma grande quantidade de bronze, ferro, madeira e pedras. Juntou muitas pedras preciosas.
Antes de morrer, ao passar o trono para Salomão, Davi entregou toda essa riqueza acumulada de forma pública a Salomão. Davi fez mais, acrescentou seu tesouro pessoal aos materiais acumulados e estimulou os líderes de Israel a contribuírem para o mesmo propósito (1 Cr 29.1-10).

Salomão Construiu o Templo de Deus em Jerusalém
Com as plantas arquitetônicas do Templo entregues por Davi a Salomão, do modo como o Senhor lhe dera (1 Cr 28), Salomão partiu para a ação. Fez a requisição de trabalhadores para a obra da construção e todo o Israel se dispôs a fazer o melhor, porque estava feliz com o reino de Salomão. O que é mais importante acerca de um Templo para servir a Deus é o encontro do povo num lugar fixo para adorá-lo e ter a certeza de que Ele estará presente. Salomão escolheu um lugar que ficava localizado no monte Moriá, que era um lugar onde Davi havia erigido um altar ao Senhor para que cessassem as pragas sobre a terra (2 Sm 24.16-25; 1 Cr 21.15-25). Esse lugar no monte Moriá é, possivelmente, o mesmo lugar onde Abraão tinha oferecido seu filho Isaque em sacrifício (2 Cr 3.1; Gn 22.2). Durante sete anos, com os materiais existentes, Salomão construiu o Templo. O projeto arquitetônico do santuário obedeceu ao princípio e modelo que Deus dera a Moisés para o Tabernáculo. A partir da existência do Templo, o centro da adoração ao Senhor seria fixado em Jerusalém e todas as 12 tribos de Israel viriam a Jerusalém para adorar ao Senhor e oferecer seus sacrifícios.

0 Poder da Presença da Arca do Concerto na Vida de Israel
Salomão sabia, por experiência, que a coisa mais importante no Templo seria a presença da Arca da Aliança, aquela Arca feita no tempo de Moisés, que estava no monte Gibão e deveria ser trazida para Jerusalém e ser colocada no Santuário construído, o Lugar Santíssimo. Salomão sabia que a presença da Arca produzia grande gozo no coração do povo. Era o símbolo seguro da presença de Deus. A ausência da Arca significaria derrota espiritual e a não presença de Deus no meio do povo. Em experiência ruim no passado, os filisteus levaram a Arca do Senhor para o templo de Dagon (1 Sm 4.17). A mulher de Fineias, sacerdote em Israel e filho de Eli, estava grávida de um filho e ao ter noticias da morte de seu marido e de terem os filisteus levado a Arca para Asdode, cidade dos filisteus, a mulher de Finéias encurvou-se e deu a luz o filho, o qual chamou-lhe: ICABO, que significa em hebraico: “Foi-se a glória de Deus” (1 Sm 4.19-22). Isto aconteceu, aproximadamente, em 1094 a.C. Entretanto, em 982 a.C., mais de cem anos depois, a situação é outra. A Arca da Aliança havia voltado para o povo de Israel e, com o lugar fixo em Jerusalém, não ficaria mais em lugares provisórios, como em Tabernáculos, mas ficaria no templo construído ao Senhor em Jerusalém, trazendo muita alegria para todos. Na igreja não precisamos de uma Arca, nem de qualquer objeto material para sinalizar a presença de Deus. O Espirito Santo preenche plenamente com sua presença na igreja.

0 Grande Templo É Inaugurado com a Presença da Glória de Deus
Salomão convocou todos os chefes das tribos de Israel e todos os homens e mulheres da corte para o ato inaugural do grande Templo. Todos os utensílios da Casa do Senhor foram trazidos para os devidos locais no Templo, inclusive a Arca da Aliança. Depois de colocada no Lugar Santíssimo, os sacerdotes ofereciam no altar de sacrifícios no pátio do Templo cordeiros e bezerros como oferta de holocausto a Deus em gratidão à grande bênção do Templo.
O Templo não seria apenas um grande edifício, mas seria a Casa de Deus, onde a sua presença seria marcada pela simbologia da Arca da Aliança. Ao ministrarem diante da Arca da Aliança, a glória de Deus desceu sobre aquele lugar na forma de uma nuvem especial que fez todos tremerem mediante a presença inequívoca de Deus. Antes, um pouco, da manifestação gloriosa de Jeová sobre aquele lugar, Salomão trouxe à lembrança toda a história do sonho de seu pai, o rei Davi. O Senhor confirmou sua presença com a glória da nuvem que encheu toda a Casa do Senhor (1 Rs 8.10) e os sacerdotes não podiam manter-se em pé para ministrar por causa da glória de Deus naquele lugar (1 Rs 8.20). Salomão orou a Deus diante do altar do Senhor e intercedeu pelo povo e pela paz e justiça. Depois abençoou o povo, que ofereceu sacrifícios perante a face do Senhor (1 Rs 8.62-64).

SALOMÃO, VENCIDO PELA ARROGÂNCIA
Salomão começou com humildade e dependência de Deus, mas o sucesso de seu reino e a admiração dos reinos adjacentes o fez perder a visão de Deus e a autodepender de sua inteligência. O cuidado que deveria ter em não fazer alianças que trouxessem maus costumes e idolatria para o meio do povo foi abandonado por Salomão. Para obter lucro com as outras nações, ele começou a fazer alianças e trazer para o seu harém muitas mulheres estrangeiras. No capítulo 9 (1 Reis), Deus fez várias advertências quanto à obediência à sua Palavra, tanto para o povo quanto para o rei. Salomão se deixou influenciar por pessoas nas alianças políticas que fez com várias nações. Para tanto, fez do casamento com mulheres desses reinos a ferramenta diplomática para obter concessões. Naquele tempo, os povos de cidades-estado, tribos ou nações faziam alianças e selavam essas alianças políticas dando em casamento uma filha, ou um filho para efetivarem alguma aliança. Salomão perdeu o senso de servo de Deus para os interesses do seu povo e teve muitos casamentos (1 Rs 11.2). Esses casamentos mistos trouxeram para dentro do palácio de Salomão muitos costumes estranhos aos princípios morais e éticos do povo de Israel, além de induzirem Salomão à idolatria e à libertinagem.
Dominado pelo espírito sensual, as muitas esposas e concubinas em seu harém perverteram o seu coração, e Salomão passou a fazer tudo o que elas desejavam. Porém, o pior de tudo isso foi a perversão do seu coração para outros deuses, que o levaram a oferecer sacrifícios e cultos a deuses como Moloque, Milcom e Astarote, permitindo que se fizessem altares a esses deuses (1 Rs 11.5-7). Quando o homem perde o domínio do Espírito na sua vida, torna-se presa fácil do pecado. A apostasia de Salomão o fez se esquecer da fidelidade de seu pai ao Deus de Israel. Mesmo tendo conhecido a misericórdia divina para com a sua vida e ter sido abençoado em seu reino, Salomão perdeu-se ao final de sua vida. Ele não soube se manter fiel ao Senhor. Mas a ira de Deus contra Salomão foi o seu esquecimento das vezes que em que se revelara a ele de modo especial. Por causa do seu pecado de abandono ao Senhor, seu reino, depois de 40 anos, começaria a ruir. Seus filhos o sucederam e não foram melhores que ele. Os adversários perceberam o enfraquecimento do reino de Salomão, e não demorou muito tempo para que invadissem a terra de Deus e fizessem de Israel escravo de outros reis. Logo depois da morte de Salomão, o reino foi invadido e saqueado de suas riquezas. Em 1 Reis 11.41-43 temos o relato da morte de Salomão, que acabou vencido por sua displicência espiritual.
CONCLUSÃO
A lição maior que aprendemos com Salomão é o fato de que não basta começarmos bem, mas precisamos terminar bem. Salomão ignorou as advertências de Deus e não soube guardar a palavra de Deus em seu coração, antes se deixou perverter por uma vida libertina. As consequências seriam inevitáveis. Salomão não soube, ao final de sua vida, manter sua fidelidade aos ditames de Deus. Por isso, para que a glória de Deus seja mantida na nossa vida, devemos corresponder à expectativa divina, sendo fiéis ao Senhor. A superação de crises morais e espirituais é efetivada quando mantemos nossa adoração e fidelidade ao Senhor.


O sábio não é aquele que sabe mais do que os outros; é aquele que descobre em Deus a fonte da sabedoria.

ESTER E O LIVRAMENTO DE UMA NAÇÃO( SUBSÍDIO TEOLÓGICO)

[...] e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?
- Ester 4.14

         Dos livros da Bíblia, Ester e Cantares são dois livros que se distinguem por evitar usar o nome de Deus, não ensinar a Lei de Moisés, nem destacar a religiosidade israelita. Mas a razão principal que fez com que o livro de Ester fosse reconhecido no Cânon das Escrituras foi o fato de revelar o cuidado divino com o povo de Israel em meio à hostilidade, estando exilado de sua terra. Matthew Henry escreveu acerca desse livro que “se o nome de Deus não aparece no livro, o dedo de Deus estava lá”, de modo invisível, orientando a vida do povo de Deus.
É uma história em que se percebe a presença de Deus de modo inescrutável e invisível nos seus elementos circunstanciais, destacando, em especial, dois personagens importantes, Mardoqueu e Ester. Temos uma história delineada pela providência divina. Não há determinismo nos ingredientes da história, mas percebe-se a soberania de Deus fazendo valer seus desígnios. Todos os fatos que envolvem pactos e alianças de Deus com o seu povo são cumpridos com aqueles que o servem.
Nessa história, podemos observar as operações invisíveis de Deus delineando todos os fatos que envolvem o povo de Deus em terra estranha, sofrendo toda sorte de perseguição e rejeição no lugar em que habitavam e os personagens da história. Além de Mardoqueu (ou Mordecai) e Ester, outros três personagens fazem parte de todo o enredo da história, que são: o rei Assuero (ou Xerxes I), a rainha Vasti e Hamã, o oficial da corte do reino de Assuero (Et 1.1,9; 2.5,6; 3.1).
Desde a divisão de Israel em dois reinos — o de Israel, chamado Reino do Norte, e o de Judá, chamado Reino do Sul —, os seus reis, com pouca exceção, não foram fieis a Deus e, por isso, tiveram que arcar com as consequências graves e trágicas na vida do povo de Deus. Os exércitos da Assíria entraram em suas terras, subjugando os dois reinos ao domínio persa. Os judeus exilados tornaram-se subservientes dos persas. Em 485 a.C., o Império Medo-Persa era forte e, nesse período, os exilados judeus serviam aos interesses persas com trabalho forçado, escravidão e muito sofrimento das famílias. Nesse tempo do domínio de Assuero (Xerxes I) entra a história de Ester como uma prova de que Deus não havia se esquecido do seu povo. Ora, o povo de Israel tinha consciência de sua eleição para representar os interesses de Deus entre as nações e que aquela situação momentânea era consequência dos pecados de seus lideres. Por isso, estavam exilados e longe da sua terra.
Ao longo da história, o povo de Israel tem sofrido com a tentativa de exterminação, porque Satanás odeia esse povo e quer destruí-lo. Então, por desígnio de Deus, entra no cenário dessa circunstância uma jovem temente a Deus que se torna o elemento-chave da libertação do seu povo no reino da Pérsia. A jovem Hadassa, criada por seu tio Mardoqueu, também chamada Ester, entra na cena que Deus armou para que seus desígnios fossem concretizados. Ester, entre as moças do palácio, alcançou graça perante o rei e foi constituída rainha da Pérsia, no lugar de Vasti. Não imaginava ela que seu papel dentro do palácio real de Assuero seria o salvar todo o seu povo do extermínio tramado por Hamã e conquistar espaço dentro do império para se defender e servir ao seu Deus.


A PROVIDÊNCIA INVISÍVEL DE DEUS
         Existe uma palavra profética de Mardoqueu para Ester que revela a providência divina no cenário daquela história que se iniciava com uma simples jovem do povo judeu. A palavra aconteceu quando uma trama contra o povo de Deus foi armada por Hamã, oficial da corte do rei Assuero. Mardoqueu, tendo notícias da trama, preparou Ester para ser  o elo de Deus para salvação do seu povo, e disse-lhe: Não imagines, em teu ânimo, que escaparás na casa do rei, mais do que todos os outros judeus. Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento doutra parte virá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et 4.14). Indiscutivelmente, o dedo de Deus delineia a história do seu povo.

Como Ver o Dedo de Deus como Providência nessa História?
         A expressão “dedo de Deus” encontrada na Bíblia em algumas circunstâncias especiais é uma metáfora antropomórfica que atribui a Deus coisas, figuras e órgãos humanos, como coração, mãos, pés, olhos, ouvidos, que representem ações de Deus. Deus é Espírito, e qualquer figura humana em relação a Deus tem sentido de revelação de um Deus que é Pessoa e fala conosco. Em relação à história do livro de Ester, o dedo de Deus é uma figura invisível da providência divina. A palavra “providência” vem do latim providentia, e o prefixo “pro” significa “antes” ou “antecipadamente”, mas o sufixo da palavra, videntia, deriva de videre, que significa ver . Quando nos referimos a Deus, sua providência diz respeito ao que Ele faz e vê antecipadamente. É o que Deus vê, e Ele vê todos os incidentes da vida antes que ocorram, algo que humanamente não podemos fazer (SI 139.1-14).
Nesse sentido, constatamos que os incidentes históricos naqueles dias dentro do Império Persa foram delineados e orientados pelo dedo de Deus dirigindo cada circunstância. Por esse modo invisível e providencial, o Senhor colocou a jovem Ester dentro do palácio de Assuero para que o seu povo fosse salvo da destruição. Comprova-se esse fato pelo que Deus disse a Isaías, o profeta: “[...] os meus pensamentos [são] mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55.9).

A Festa de 180 Dias de Assuero
         O domínio do Império Persa sob o reinado de Assuero continha 127 províncias. O território persa se estendia desde o vale do Indo, no noroeste da índia, o norte da África, incluindo Egito, Líbia e Cus (hoje, Sudão). Porém, as guerras com a Grécia trouxeram desgaste físico, emocional e económico para o império. Em vez de novos tributos e a ampliação comercial com outros países, essas guerras se tornaram pesadas para a economia do império. Esse tempo datava o tempo do governo de Xerxes I (Assuero) no Império Persa, nos anos 486 a 465 a.C. Seu pai foi Dario, o Grande, e sua mãe chamava-se Atosa, filha de Ciro. Assuero herdou um enorme império, mas não conseguiu estender suas fronteiras como objeto da vaidade dos reis daquela época.
Assuero resolveu reunir aos príncipes, sátrapas e nobres da Pérsia para um tipo de convenção de 180 dias (seis meses) na capital de Susã (Et 1.3,4). Essa reunião ocorreu em 483 a.C., que tinha como estratégia o planejamento de guerras para conquista de outras nações. Confiado em suas forças militares, Assuero entendia que sairia vitorioso. Dentro desse período, Assuero mandou preparar uma festa especial, com uma celebração esplêndida (Et 1.6,7).
Na mente de Deus, a festa promovida por Assuero já estava nos seus desígnios e nada poderia impedir a sua concretização. O rei Assuero era vaidoso, e querendo ostentar sua glória, poder e riqueza a todos os súditos do império, ordenou que se fizesse uma festa com muita comida e bebida, além das danças e orgias que se permitiam nos salões do palácio de Susã. As 127 províncias tributárias ao seu reino estavam representadas nessa festa. Assuero exibia seu ouro, prata e pedras preciosas nas joias do palácio, nas pratarias e decorações internas do palácio.

A Exibição Imperial que Provocou a Saída da Rainha Vasti do Palácio
         Por mais que não entendamos os desígnios de Deus em algumas circunstancias, temos que reconhecer que a mão invisível do Deus onisciente estava operando de modo oculto aos olhos humanos. Aquela festa havia chegado a um ponto de total extravagância em comidas e bebidas, deixando todos aqueles homens da corte completamente irracionais. Nesse contexto de exibicionismo e ostentação de Assuero, em que o vinho fez com que o rei ultrapassasse os limites de domínio racional daquela festa, pelo ímpeto da vaidade e do exagero do vinho, o rei ordenou que se chamasse Vasti, a rainha, para apresentá-la aos seus convidados, como se fosse uma peça de decoração. A rainha Vasti, contrariando a ordem do rei, recusou-se a comparecer diante dele e da corte, o que representou humilhação para o rei. Por isso, a punição foi severa para Vasti, que era uma mulher de personalidade forte e que não aceitava ser exposta ao ridículo pelo seu próprio marido.

A Deposição da Rainha Vasti
         Mediante a recusa de Vasti em comparecer ante os convidados de Assuero para exibi-la como se fosse uma peça de decoração, o rei ficou furioso com a recusa. Sentindo humilhado e não querendo perder a autoridade real, Assuero a depôs de sua realeza. Ele não aceitava a desobediência de sua mulher e, por medo de abrir outro precedente, Assuero teve uma atitude irracional e violenta, típico de sua personalidade arrogante. Como soberano do império, Assuero era exaltado e orgulhoso, e sua autoridade seria questionada naquela festa se alguém lhe desobedecesse.
Ao depor Vasti do palácio, queria que ficasse bem claro a todos os palacianos que nada, ninguém, nem a rainha, podia recusar uma ordem real sem sofrer as consequências. Portanto, a recusa da rainha Vasti em comparecer vestida com sua realeza para ser exibida perante a corte custou a sua destituição. Era o terceiro ano do reinado de Assuero quando aconteceu a festa. Os seus convidados de todas as províncias tributárias do império assistiram à humilhação de Assuero, mas viram com seus olhos o poder que tinha para fazer valer suas ordens. Esses fatos contribuíram para que o proposito de Deus fosse realizado na vida do seu povo cativo naquela terra.

SOB 0 DESÍGNIO DE DEUS,
ESTER ENTRA NO PALÁCIO DE ASSUERO
         Segundo o historiador judeu Josefo, do primeiro século da Era Cristã, depois que os servos mais leais ao rei sugeriram que ele escolhesse uma das moças do seu harém no palácio para ocupar o lugar de Vasti, foram selecionadas 400 moças virgens como candidatas ao trono de rainha junto a Assuero. Depois de todos os preparativos necessários, em termos de estética e beleza, as moças seriam apresentadas individualmente perante Assuero. Todas as que estavam no palácio e faziam parte do harem do rei teriam a oportunidade de conquistar seu coração, e uma delas seria elevada a posição de rainha (Et 2.14). Foi assim que Deus preparou Ester para ser a moça que conquistaria o coração do rei e seria elevada à posição de rainha.

Ester Foi Designada por Deus para o Lugar de Vasti
         Entre a deposição de Vasti e a chegada de Ester ao palácio, passaram- -se quatro anos aproximadamente. Logo depois daquela festa, Assuero empreendeu uma guerra contra a Grécia e todos os planos elaborados não deram certo. Dois anos depois ele volta a Susã, completamente decepcionado porque a guerra não foi vencedora. Ao voltar para o palácio, Assuero estava só e o trono de rainha ao seu lado estava vazio. Passado algum tempo depois daquele banquete e depois da volta da guerra frustrada contra a Grécia, alguns servos de Assuero que o serviam junto ao trono sugeriram que se buscassem moças virgens e formosas à vista, que reunissem qualidades que conquistassem o coração do rei e, quem sabe, fosse escolhida pelo rei uma delas para assumir o trono de rainha. Comissários em todas as províncias trouxeram muitas moças bonitas e virgens para o palácio de Susã para que ficassem sob os cuidados do seu eunuco Hegai, que era guarda das mulheres. Entre todas as moças levadas para o palacio, foi levada a jovem judia Ester, que ganhou a simpatia do eunuco do rei (Et 2.9). Não há dúvidas de que Ester fazia parte do desígnio de Deus para ajudar o seu povo, mas nem ela podia imaginar isso.

Dois Personagens no Projeto de Deus: Mardoqueu e Ester
         Nessa história, podemos perceber como Deus age e direciona todas as coisas para que a sua soberana vontade se concretize. Dos dois personagens, Mardoqueu era um judeu exilado que estava com outros deportados de Jerusalém para a cidade de Susã, a capital persa. Mardoqueu não estava só, mas trazia além de sua família a Hadassa (Ester), de quem era tio e, desde pequena, com a morte de seus pais, adotou-a e cuidou dela como se fosse sua filha. No livro com seu próprio nome, Ester é a personagem principal da história. De algum modo especial, o Deus de Israel direcionou sua vida para que ela se tornasse a grande libertadora do seu povo. Como era jovem e inexperiente, seu tio Mardoqueu foi o orientador pessoal de Ester naqueles episódios que a levaram ao palácio de Assuero. Portanto, Mardoqueu era um homem temente a Deus e estava entre os cativos judeus que serviam aos interesses do império em Susã.

Quem era Mardoqueu?
         Sem dúvida, era um homem de fé e de profunda piedade espiritual. Era um sonhador que sonhava com a libertação da sua gente. Ele cria que Deus faria algo que fosse capaz de romper com os obstáculos que impediam essa libertação. Ele sabia, acima de tudo, que quaisquer tentativas meramente humanas seriam impossíveis. Ele sabia, também, que a escravatura de seu povo seria desfeita mediante a interferência de Deus. Mardoqueu era um homem que não recuava em seus propósitos ainda que lhe custasse a vida (Et 4.1,2). Ele tinha certa liberdade de movimentos porque, mesmo sendo um escravo judeu, ele podia estar nas cercanias do palácio de Assuero.

Mardoqueu Frustra um Plano de assassinato de Assuero
         Não muito depois da coroação de Ester como rainha do império, Mardoqueu estava junto à porta de entrada do palácio de Assuero quando ouviu a conversa de dois eunucos do rei, os quais, revoltados com a deposição de Vasti, tramavam o assassinato do rei. Esses dois eunucos eram oficiais que serviam na guarda da porta de acesso para o rei (Et 2.21). Seus nomes eram Bigtã e Teres. Eles conspiravam contra a vida do rei. Mardoqueu, ao ouvir a trama, resolve frustrar o plano sinistro contra a vida de Assuero e falou com Ester, pedindo-lhe que fizesse o rei saber da trama em nome dele, de Mardoqueu (Et 2.22). Visto que esses oficiais tinham acesso aos aposentos íntimos de Assuero, Mardoqueu não perdeu tempo em informar Ester da trama. Ela, então, sem perder tempo, informou ao rei a trama de assassinato contra a sua vida. Quando alguém do seu reino demonstrava alguma atitude de lealdade, o rei gostava de honrar essa pessoa. Ester contou ao rei que a informação vinha de Mardoqueu. Essa atitude de lealdade de Mardoqueu lhe deu condições de ser alguém mais presente no palácio e no acesso a sua sobrinha Ester. Tão logo o rei tomou ciência da trama, ordenou o enforcamento de Bigtã e Teres (Et 2.23). Cresceu ainda mais o amor do rei por Ester, contribuindo para que, a seu tempo, o propósito divino fosse concretizado na vida do povo de Israel.

Ester, uma jovem graciosa que correspondeu à expectativa de Deus
         Seu nome hebreu era Hadassa, que passou a ser chamada Ester, um nome que provinha de uma palavra persa que significa “estrela” e derivava do nome de uma deusa babilónica (Isthar), que significava “deusa do amor”. Naturalmente, esse nome não teve qualquer influência em sua vida de comunhão com o Deus de Israel. No seu livro bíblico, Ester é a personagem principal da história que fala de uma jovem cujos valores morais e espirituais serviram para torná-la um instrumento de justiça de Deus para salvar a sua gente. Quando levada para o palácio de Susã, ela era uma jovem entre tantas outras jovens bonitas e prendadas. Entretanto, o seu tio Mardoqueu tinha uma visão mais ampla acerca do futuro de Ester e, por isso, disse-lhe: “[...] quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et 4.14).

Ester, entre tantas lindas jovens, foi a escolhida para o lugar de Vasti
         Nesse ponto estamos fazendo uma pequena digressão histórica que nos leva ao primeiro estágio de Ester antes de se tornar a escolhida de Assuero. Depois da deposição de Vasti como rainha, as moças escolhidas de todas as províncias foram levadas para a casa das mulheres do palácio e, depois de apresentadas, uma delas seria escolhida para ser a rainha. Quando veio a vez de Ester, sua presença superou a todas as moças que até então haviam sido apresentadas. Ester achou graça diante do rei, e ele baixou o cetro sobre ela e colocou a coroa de rainha sobre a sua cabeça. Mardoqueu, que havia orientado o comportamento de Ester para várias situações, estava assentado “à porta do rei” (Et 2.19) e teve o coração emocionado por ver o desígnio de Deus sendo cumprido na vida de sua sobrinha. Um grande banquete foi preparado com a coroação de Ester, e o rei deu-lhe presentes. Essa escolha estava nos desígnios divinos para que ela, sendo rainha naquele império, tivesse influência suficiente para conceder uma grande libertação ao seu povo, o povo de Deus, e os desígnios malignos de seus inimigos, especialmente, Hamã, que odiava Ester e Mardoqueu, queria destruí-los dentro do reino.

UMA TRAMA DE DESTRUIÇÃO CONTRA 0 POVO DE DEUS A Trama de Hamã, o Agagita
         Hamã foi um homem descendente de Agague, um rei amalequita (1 Sm 15.8,33). Servindo no palácio de Susã ao rei Assuero, Hamã foi elevado à posição de primeiro ministro do reino, dando-lhe condições superiores entre todos os príncipes da corte persa, tornando-se o segundo homem mais importante do reino depois de Assuero.
Sem dúvida alguma, o inimigo maior do povo de Deus é o Diabo, que influenciava pessoas para odiarem o povo judeu naqueles dias. Hamã se tornou um instrumento diabólico para perseguir e desejar a destruição do povo judeu. Sua descendência agagita o lembrava de uma história de derrota dos amalequitas, que eram descendentes de Agague e foram derrotados pelo rei Saul no passado, e tinha o estigma do ódio contra os judeus. Era um povo com uma história de pilhagem e roubo que assaltava os que viajavam no deserto, especialmente, Israel. Por isso, esse povo foi amaldiçoado por Deus (Dt 25.17-19).
Hamã era um agagita que odiava os judeus, especialmente Mardoqueu, um judeu que exercia liderança no meio do seu povo. Visto que Hamã tinha poderes políticos advindos do seu “status” de primeiro oficial do reino persa, por sua arrogância, ambição e astúcia resolveu destruir o povo judeu, principalmente, Mardoqueu. Como Mardoqueu não se inclinava perante ele quando passava entre o povo, o seu ódio cresceu e, para tanto, tramou diabolicamente a destruição de todos os judeus que viviam no império. Pelo fato do enforcamento de dois oficiais que haviam tramado o assassinato do rei, por informação de Mardoqueu, a crueldade de Hamã agitou sua adrenalina, e então, cheio de empáfia e espírito vingativo, ele sugeriu ao rei a destruição do povo judeu.
A postura de Mardoqueu em não se inclinar perante ele quando passava causou tanta fúria em Hamã que este ficou obcecado com a ideia de destruição total do povo judeu dentro do império. Para esse intento, Hamã persuadiu Assuero a fazer um decreto contra os judeus. Seu plano continha mentiras e calúnias contra o povo judeu de que queriam a morte do rei e por isso deviam ser destruídos totalmente. O rei aderiu ao plano de assassinato de Hamã, que ordenou o massacre do povo, sem deixar escapar mulheres e crianças, além de saquear os bens do povo (Et 3.13-15). Foi marcado um dia especial para destruição do povo judeu e, quando esse povo teve notícias desse decreto, houve grande tristeza e lamento do povo judeu. Mardoqueu, percebendo que a tragédia viria e seu povo seria destruído, vestiu-se de saco de cilício e foi para a porta do palácio de Assuero (Et 4.1-6).

Ester Toma Conhecimento da Trama
         Mardoqueu fez mais que se postar à porta do palácio, vestido de tecido de cilício e com cinza sobre a cabeça. Ele se lembrou de que sua sobrinha estava no palácio e era a rainha. Ela estava lá para esse momento especial em que Deus a usaria para salvar sua gente. Ester teve conhecimento do lamento de seu tio Mardoqueu e de todo o seu povo. Sua alma se condoeu mediante a ameaça do maior inimigo dela e do povo judeu. Mardoqueu pediu que Ester entrasse à presença do rei e falasse do intento cruel de Hamã, mas ela não podia entrar à presença do rei sem ser convidada. Mardoqueu, então, cheio de fé na intervenção divina, convenceu Ester a que fizesse a sua parte naquele momento e que confiasse na direção de Deus. Ela foi convencida de que era o meio pelo qual Deus haveria de agir, e Mardoqueu disse-lhe: “[...] quem sabe se para tal tempo com este chegaste a este reino?” (Et 4.14). Ela sabia que não poderia quebrar as regras do palácio, mesmo sendo a rainha. Por isso, arriscou-se, com graça e prudência, para entrar à presença de Assuero. Pelas palavras de seu tio Mardoqueu, ela ficou convencida de que Deus abriria as portas para ter acesso ao trono de Assuero e que, de algum modo, poderia salvar o seu povo da destruição e morte (Et 4.13,14). Ester avaliou bem toda a fala de Mardoqueu e preferiu correr o risco de entrar na presença do rei sem ser convidada. Entretanto, como mulher temente a Deus, pediu a Mardoqueu que reunisse todos os judeus para que jejuassem por ela, sem comer nem beber, até que pudesse tomar a iniciativa e entrar na presença do rei.

Ester Usa de Estratégia Inteligente para Ter Acesso ao Rei
         Sem precipitação e com prudência, Ester preparou-se para aquele momento, vestindo-se com vestidos reais e perfumando-se para o encontro. Inicialmente, Ester foi para o pátio interior da casa do rei de modo estratégico. Assuero, ao vê-la com toda a beleza que possuía, ficou deslumbrado pela sua rainha e apontou seu cetro de ouro para ela. Ester chegou à sala do trono, inclinou-se perante o rei e tocou na ponta do cetro com a mão. Ela estava confiada nos desígnios de Deus para aquele momento e, inteligentemente, mostrou sua beleza e também seu respeito pelas leis do palácio. Foi delicada com o rei, que, maravilhado mais uma vez pela beleza de sua rainha, recebeu-a no seu trono. O rei, deslumbrado pela simpatia e beleza da rainha Ester, abriu seu coração e perguntou-lhe: “Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição?” (Et 5.3). Ester o convida para um banquete e pede que Hamã esteja presente também. Assim, ambos foram ao banquete preparado por Ester (Et 5.8). Visto que Hamã mantinha o seu intento de destruir e matar Mardoqueu e todo o seu povo, após o banquete, sua mulher sugeriu que ele fizesse uma forca para enforcar Mardoqueu acusado de inimigo do rei e do império. Hamã mandou preparar a forca para Mardoqueu e foi para a festa de Ester (Et 5.14; 6.4).

Assuero Descobre Mentiras de Hamã
         Quando Hamã saiu do banquete que Ester oferecera a ele e ao rei, estava certo de que deveria fazer alguma coisa que agradasse ao rei. Falou da sua alegria em ter estado no banquete de Ester, mas não aceitava o fato de Mardoqueu, à porta do palácio não o respeitava nem se inclinava perante ele. Por isso, ao contar da sua raiva contra Mardoqueu, sua mulher deu a sugestão de fazer uma forca para ele e, assim, estaria livre daquele homem; certamente isso agradaria ao rei.
Hamã tomara para si o mérito da descoberta dos homens que tramavam o assassinato do rei, mas o mérito era de Mardoqueu, que informou a rainha Ester para ela informasse ao rei em seu nome. Naquela noite, o rei não conseguiu dormir, porque o Espírito de Deus tocou em sua consciência e, por essa razão, o rei pediu para ver os livros das crónicas que traziam relatos dos fatos de cada dia no império. Nessa leitura feita diante do rei, descobriu-se que foi Mardoqueu quem, de fato, salvou o rei da trama do assassinato que intentaram os dois eunucos, oficiais do palácio.
Hamã queria a destruição de Mardoqueu e do povo judeu, inclusive da própria rainha, que era de origem judia. Mas Ester informou ao rei que havia um plano para matá-la, bem como ao povo judeu, e esse plano havia sido tramado por Hamã, o que enfureceu o rei.

A CORAGEM DE ESTER PARA SALVAR 0 SEU POVO
Ester Desmascara Hamã diante do Rei
         Segundo o relato, durante toda a noite, Hamã mandou preparar a forca que seria colocada no lugar mais alto possível para que todos vissem aquele que seria enforcado — conforme o seu intento, Mardoqueu. Estava tão certo de que isso agradaria o rei que foi ao banquete cheio de empáfia e confiante de que seria, mais uma vez, honrado pelo rei.
No primeiro banquete de Ester, ela não revelou nada especificamente. Decerto, o dedo de Deus na direção da sua vida não permitiu que houvesse qualquer precipitação. Então, Ester convida o rei e Hamã para outro banquete. A rainha Ester, mais confiante e decisiva do que deveria fazer, usou de sua habilidade social e política e da apreciação amorosa de Assuero por ela, esperou o momento certo para falar ao rei sobre a trama de morte e destruição engenhada por Hamã. O rei já sabia da mentira de Hamã quando ouviu o registro feito nas crónicas do império de que foi Mardoqueu, não Hamã, quem impediu o plano de morte contra o rei. Soube que foi Mardoqueu que impediu que a trama se efetivasse ao informar à rainha, cinco anos atrás. Agora, o rei queria honrar o homem que o livrara da morte por traição naquele tempo. Até então, o nome de Mardoqueu não havia sido revelado naquele banquete. Quando o rei perguntou o que deveria ser feito para honrar o homem que o havia salvo da morte, o próprio Hamã, pensando ser ele mesmo a quem o rei honraria com homenagens especiais, sugeriu o tipo de homenagem que deveria receber. A sugestão de Hamã era que o homem  que receberia a homenagem seria conduzido em um cavalo da cavalariça do próprio rei e fosse vestido com roupas de gala e com o anel do rei. Arrogante, Hamã imaginou que esse homem seria ele mesmo. Assuero, então, de forma objetiva e determinada, ordenou a Hamã que honrasse um homem especial, maltratado por ele, que deveria receber as honras sugeridas por ele. Esse homem era o judeu Mardoqueu, que deveria ser conduzido pelas ruas da capital, montado em um cavalo do rei, vestido com roupas palacianas e com o anel do rei. A mais alta honraria que um súdito poderia receber. Por outro lado, aprendemos o que acontece com os arrogantes: Ele abate o soberbo e exalta o humilde (Ez 21.26; Tg 4.6).

Mardoqueu e todo o Povo Judeu — Salvos Graças ao Papel Persuasivo de Ester
         Nos dois banquetes oferecidos por Ester, o rei estava tão feliz com sua rainha que estava disposto a conceder o que ela quisesse, quem sabe mais joias, outro palácio, ouro, prata e coisas semelhantes (Et 5.3). O rei estava disposto a dar-lhe até metade do seu reino, mas não era isso que Ester queria da parte do rei. No primeiro banquete, ela pediu apenas que o rei e Hamã aceitassem o convite para um segundo banquete, em que ela revelaria ao rei o que desejava. No segundo banquete, com a presença do rei, de Hamã e de todos os demais convidados, a rainha Ester revela o seu pedido ao rei (Et 7.3,4). Com lágrimas nos olhos e com angústia em sua alma, ela revela o plano assassino de Hamã contra ela mesma, contra Mardoqueu e contra todo o seu povo no império. Foi um momento de consternação, mas de coragem, em que ela apontou o dedo para Hamã como aquele que desejava a morte dela e de todo o seu povo. Então pediu que fosse revogada a lei contra os judeus. O rei se enfureceu contra Hamã e, saindo para fora no pátio do palácio, o rei externava a sua raiva contra aquela situação em que a própria rainha estava ameaçada de morte mediante o intento de Hamã. Mesmo que a lei não pudesse ser revogada, também não seria executada. Posteriormente, o rei deu um decreto de proteção aos judeus (Et 8.8-12).
A forca preparada para desonrar Mardoqueu e expor seu corpo publicamente foi utilizada para enforcar a Hamã (Et 7.9,10). Mardoqueu assumiu o lugar de Hamã, e o rei sabia que ele não o trairia.

Mardoqueu Estabelece a Festa do Purim
         Deus salvou o seu povo, mesmo estando ainda exilado em outra terra, usando uma mulher especial que se colocou em suas mãos para ser instrumento de salvação para o seu povo. A palavra Purim é derivada da palavra hebraica para “sortes”. Quando Hamã tramou a destruição do povo judeu, foi procurar astrólogos para lançarem sortes com o fim de ter certeza de que a trama seria efetivada. Em função da grande libertação do povo judeu nas terras persas, Mardoqueu entendeu que aquela data deveria ser celebrada por todos os judeus, convertendo-se numa celebração tradicional para todos os tempos da vida do povo judeu.

Onde Está o Deus do Livro de Ester?
         Em todo o livro, não aparece o nome de Jeová, mas Ele estava presente na condução daquela história do povo de Deus em atos e manifestações de poder. A sobrevivência dos judeus ao longo da história da humanidade revela a mão providencial do Todo-Poderoso em cada evento e em cada detalhe ao proteger e preservar seu povo. Sua providência é visível em todos os fatos que envolveram personagens como Mardoqueu e Ester. O poder invisível de Deus é obvio, ordenando soberanamente cada detalhe da vida daqueles exilados para preservá-los e ensiná-los a reconhecer que Ele cumpre a sua palavra em quaisquer circunstâncias.
A lição que aprendemos com Ester é que a sua história emergiu da tragédia, das perplexidades incontáveis e das intervenções divinas para fazer valer as suas promessas. O povo judeu foi salvo, estando em terra estranha e pagando caro pelos erros de seus líderes no passado, mas Deus não o abandonou. Ele cumpre o que diz e promete. Deus cuida do seu povo.

Na providência divina, os desígnios de Deus são efetivados para que suas promessas e alianças se cumpram cabalmente.