Explicação: o Novo Nascimento (Jo 3.3-10)

/. O fato do novo nascimento. “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Jesus explica que Nicodemos não pode filiar- se ao grupo dEle assim como uma pessoa filia-se a uma organização qualquer. Ser discípulo de Jesus depende do tipo de vida que se leva. A causa de Cristo é a do Reino de Deus, onde não se pode entrar sem passar por uma transformação espiritual. O Reino de Deus era bem diferente daquilo que Nicodemos imaginava, c o modo de estabelecê-lo e de chamar pessoas a serem seus cidadãos também Jesus salientou a necessidade mais profunda e universal do homem: uma mudança radical e completa da totalidade da natureza e do caráter. A natureza total do homem foi torcida pelo pecado, em decorrência da queda, e esta perversão se reflete na sua conduta individual e nos seus vários relacionamentos. Antes de poder viver uma vida que agrade a Deus, sua natureza precisa passar por uma mudança tão radical que é nada menos do que um segundo  nascimento. O homem não pode efetuar semelhante mudança por si mesmo. A transformação deve vir de cima.
“Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” Nicodemos tem razão ao tirar a conclusão de que c necessário um milagre para alguém entrar no Reino de Deus, mas não entende como isso se faz. Pensava, decerto: “Sou um homem com muitos anos de vida, com hábitos de pensar e viver bem arraigados em mim, bem como muitas ligações sociais e costumes e ideias antigos que nossos antepassados nos legaram. O nascimento tal como tu falas é tão impossível quanto o nascimento físico dc um homem de idade, tão prepostero quanto seria a idéia de entrar segunda vez no ventre da mãe para nascer de novo. A natureza humana não pode ser mudada desta forma. Jeremias, afinal, declarou: ‘Pode acaso o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas?’ Se é esta a tua exigência para que se possa entrar no leu Reino, quem poderá ser considerado candidato aceitável?”
2. Os meios do novo nascimento. “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” Nascer da água significa passar por uma profunda experiência de purificação (cf. Ef 5.26). Nascer do Espírito significa passar por uma profunda experiência de receber a vida divina. A alma humana precisa ser lavada de toda impureza e vivificada pela vida celestial, antes de estar pronta para o Céu. Deus nos salvou: 1) pela “lavagem da regeneração c 2) da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5).
O ensino era novo e, ao mesmo tempo, antigo. “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso? Jesus respondeu, c disse-lhe: Tu cs mestre de Israel, e não sabes isto?” (v. 7,9,10). Jesus queria dizer: “Como você fica surpreso, como se eu pregasse alguma estranha doutrina? Certamente, como ensinador da Lei e dos Profetas, deve ter lido da promessa de Deus anunciada por Ezequiel: 'Então espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados... porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos’, (Ez 36.25-27). Você sabe muito bem que, embora Israel se tenha jactado de ser o povo de Deus, filhos de Abraão, os membros da nação são impuros e, portanto, indignos do Reino de Deus. O profeta declara que os israelitas, antes de poderem entrar no Reino de Deus, precisam ‘nascer da água’ e ‘nascer do Espírito’, precisam ser purificados e receber vida nova. O que é verdade no que diz respeito a Israel, é verdade para você, individualmente. Você deve nascer de novo”.
J. A razão do novo nascimento. Jesus não procurou explicar o como do novo nascimento; explicou o porquê: “O que c nascido da carne c carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” A carne e o Espírito pertencem a campos diferentes, c um não pode produzir o outro. A natureza humana pode gerar mais natureza humana, mas é somente o Espírito Santo que pode produzir uma natureza espiritual. A natureza humana nada poderá produzir além de natureza humana, e nenhuma criatura pode se erguer acima da natureza que lhe c própria. A vida espiritual não pode ser transmitida de pai para filho através da procriação natural; é transmitida da parte de Deus para os homens mediante o novo nascimento espiritual.
A natureza humana não pode se erguer acima daquilo que ela é. Cada criatura tem certa natureza conforme sua espécie, determinada por sua descendência. Esta natureza que o animal recebe dos pais determina, logo de início, as capacidades c a esfera da vida dele. A toupeira não pode levantar majestoso vôo na direção do sol como se fosse águia, c a ave que sai do ovo da águia não pode escavar debaixo da terra como faz a toupeira. Nenhum curso de treinamento poderá fazer com que a tartaruga corra tão velozmente quanto a corça, nem com que a corça tenha a força do leão. Nenhum animal poderá agir de forma superior a sua própria natureza.
O mesmo princípio aplica-se ao homem. O destino supremo do homem é viver com Deus para sempre; a natureza humana, no entanto, não possui cm si as condições necessárias para viver no Reino celestial; assim sendo, a vida celestial tem de ser trazida do Céu para transformar a vida humana na terra, preparando-a para o Reino de Deus.
4. () mistério do novo nascimento. Embora o como do novo nascimento esteja além do alcance do raciocínio humano, este mistério não precisa ser motivo de tropeço para Nicodemos: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim c todo aquele que é nascido do Espírito.” Noutras palavras, o movimento do vento é algo muito real para nós, mas c misterioso e além de nosso controle; assim também é a atuação do Espírito sobre a natureza humana. Primeiro, o novo nascimento é misterioso quanto à sua origem: “não sabes donde vem”; e, em segundo lugar, há mistério quanto à sua consumação: “não sabes... para onde vai”. Assim sendo, João escreve: “Amados, agora somos filhos de Deus, c ainda não é manifestado o que havemos de ser” (1 Jo 3.2). Mesmo assim, a atuação do Espírito é real: “Ouves a sua voz” (cf. At 2.3,4; 1 Co 12.7; G1 5.22,23).

Fonte:
Pearlman, Myer
João, o Evangelho do Filho de Deus.../

Myer Pearlman - l.ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1995.

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