(SUBSÍDIO TEOLÓGICO LIÇÃO 9 ) ELISEU: MILAGRES EM TEMPOS DE ESCASSEZ

[O Senhor] faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e veste.
Deuteronômio 10.18

A importância do profeta Eliseu começa pelo significado do seu nome na língua hebraica — “elisha”, que significa “Deus é salvação” — e no grego do Novo Testamento é “elissaios” (Lc 4.27). A vida de Eliseu indica que tinha uma família abastada, porque arava uma terra que tinha vários empregados. Era um homem rude, sem formação acadêmica alguma, que tinha calos nas mãos pelo serviço que exigia força e saúde para ser feito. Seu tempo de vida passou por, pelo menos, quatro reis de Israel — Jorão, Jeú, Jeoacaz e Jeoás nos capítulos 5 a 13 de 2 Reis — além de outros reis, inclusive estrangeiros, como o rei da Síria, Ben-Hadade, Hazael e até o rei de Judá, Josafá (2 Rs 3.11-19). Eliseu era um homem sem discriminação, que ia à casa de uma pobre viúva e até aos palácios dos reis. Quando foi desafiado a seguir o profeta Elias, Eliseu não titubeou na decisão de segui-lo. Desvencilhou-se de suas atividades rurais e passou a seguir a Elias, de quem se tornou o auxiliar imediato.
Acompanhando Elias até o seu arrebatamento por cima de sua cabeça, Eliseu não se descuidou e assistiu à maravilha de ver um carro de fogo que, mais rápido que a força do vento, passou entre os dois e os separou um do outro, levando Elias para o alto. Uma intervenção do sobrenatural sobre o natural que só Deus pode fazer. Os racionalistas rejeitam a literalidade da história, mas nós cremos no poder sobrenatural que o Senhor manifesta quando quer.
A partir de então, a história de Eliseu toma um rumo diferente. Ao tocar a capa de Elias nas águas do Jordão e elas se abrirem fazendo um caminho para que ele passasse para o outro lado, Eliseu não teve mais dúvida. Estava investido de autoridade espiritual, e a partir daquele momento iniciava seu ministério, que se tornou ousado e com operação de milagres (2 Rs 2.1,11-14). Ele vira o que Deus havia feito por meio de Elias e, agora, investido do mesmo poder e autoridade, os milagres começaram a acontecer. Eliseu se tornou o canal de milagres operados em várias ocasiões diferentes. A começar pela casa de uma viúva e dois filhos. Era a viúva de um profeta, a qual, sem condições de pagar uma dívida deixada pelo marido, corria o risco de ter que entregar os seus dois filhos para um tempo de serviço escravo poder pagar a dívida.
Essa narrativa bíblica descreve o modo de Deus agir por meio do seu servo Eliseu, multiplicando o azeite de um vasilhame de barro que havia na casa da viúva. A bondade de Deus foi demonstrada na vida daquela família que acreditou na orientação do profeta e foi agraciada com o milagre da multiplicação do azeite.

AS PRIMEIRAS PROEZAS DO MINISTÉRIO DE ELISEU
Desde a travessia do rio Jordão mediante a visão gloriosa e literal da elevação de Elias em carro de fogo (2 Rs 2.12-14), Eliseu estava consciente de que o ministério profético estava sobre os seus ombros. Os sinais que caracterizaram a vida do profeta Elias se manifestaram sobre a vida de Eliseu.

Eliseu se Depara com uma Crise de Águas Contaminadas em Jericó
A água é vital para uma cidade, e Jericó estava vivendo o drama da água contaminada em seus mananciais. Não é de estranhar que as águas de Jericó fossem ruins, pois essa cidade era uma cidade amaldiçoada; por isso, o seu solo era improdutivo (Js 6.26). Porém, o servo de Deus estava lá e mais cinquenta moços da escola de profetas que haviam assistido
ao arrebatamento de Elias, que náo acreditavam que Elias tivesse, de fato, subido ao céu num redemoinho, mas que poderia estar em algum monte. Por três dias o procuraram e não o encontraram. Ao voltar para Eliseu, reconheceram que ele agora era o seu novo líder, e deveriam respeitá-lo e obedecer-lhe. Em Jericó, ao voltar, depararam-se com o problema das águas contaminadas em seus veios. Não só os filhos dos profetas, mas os chefes de famílias da cidade de Jericó também reconheceram que Eliseu tinha algo mais que poderia resolver o problema da água e foram até ele. Eliseu não discutiu com eles, mas exerceu sua fé no sobrenatural usando meios naturais para demonstrar o poder de Deus (2 Rs 2.20). Ao pedir que trouxessem sal num prato, não dá direito a ninguém de querer imitar milagres passados e dogmatizá-los como modo de Deus operar hoje.
Grupos neopentecostais, que gostam de explorar essas coisas, procuram ensinar a prática de colocar sal em casas, terrenos e outras coisas, como se Deus se limitasse a operar sempre do mesmo modo. Refutamos essas práticas utilizadas por líderes cristãos que dependem de manipulações para fazer acontecer alguma coisa. O Deus de milagres sempre operará como quiser porque Ele não fica circunscrito a experiências passadas.
O saneamento das águas más aconteceu com o sal colocado nas águas, mas a cura daquelas águas não era por causa do sal, mas sim pelo poder de Deus. Em outra ocasião, quando Israel peregrinava no deserto sob a liderança de Moisés, o povo encontrou água, mas aquela água era amarga, e o povo começou a murmurar contra Moisés, dizendo que ele havia trazido o povo para morrer de sede e de fome no deserto (Êx 15.22-26). Moisés chamou aquela lagoa de “Mara”, que significa “amarga”. Deus orientou Moisés a tomar um pedaço de uma árvore do deserto e lançá-lo naquelas águas; assim elas seriam saradas e transformadas em água potável (Êx 15.23-27). Naquele lugar, o Senhor se manifestou a Israel como Yahweh Ropheka, ou de forma aportuguesada como Jeová-Raphah, que significa “O Senhor que cura”.

Uma Intervenção Divina numa Circunstância Difícil
Três reis que não serviam ao Senhor Deus de Israel — Jorão, rei de Israel (2 Rs 3.1), Josafá, rei de Judá (2 Rs 3.7) e o rei de Edom (2Rs 3.9) — se uniram para enfrentar os exércitos de Moabe, que eram muito fortes. Na realidade, os três reis, mesmo não sendo tementes a Deus, reconheciam que em Israel havia um homem de Deus que tinha a resposta que eles precisavam ouvir. Joráo era o filho mais novo de Acabe, um rei que fora inimigo do profeta Elias e não merecia qualquer cooperação da parte do homem de Deus, Eliseu. Josafá foi um rei profano, e o rei de Edom era pagão. Porém, Josafá sabia que Deus agia de modo especial por meio de um homem especial, o profeta Eliseu (2 Rs 3.11). Aqueles três reis haviam marchado para ir ao encontro dos exércitos de Moabe, sabendo que aqueles exércitos eram muito mais poderosos que eles.
Pergunta-se então: Por que Deus resolveu intervir naquela guerra? Em primeiro lugar, para preservar o seu nome perante as nações e para demonstrar àqueles reis que a causa maior e mais importante daquela intervenção era Eliseu. Eliseu era o homem que representava os interesses divinos naquelas terras. Por isso, Eliseu tinha a palavra que eles precisavam ouvir. Esses exércitos se encontraram no deserto de Edom depois de sete dias de calor, sequidão e falta de água. Eliseu, confiante na providência divina, deu ordem para que eles cavassem muitas covas, porque viria uma grande chuva e encheria aquelas covas e supriria a necessidade dos soldados (2 Rs 3.16,17). Aqueles reis não duvidaram da palavra de Eliseu, e puseram seus homens para cavar covas nas terras desérticas e vermelhas de Edom. Vieram as chuvas e encheram aquelas covas. A cor da água ficou avermelhada e, quando os moabitas se preparavam para marchar com aqueles reis, foram confundidos porque a chuva caiu apenas nas terras onde estavam os três e a força do sol com seu brilho virou um espelho avermelhado que fez com que os moabitas, vendo a cor de sangue naquele deserto, entendessem que podia ser o sangue dos exércitos mortos. Os moabitas levantaram-se para invadir as cidades de Israel, mas foram surpreendidos com a reação dos exércitos dos três reis e foram destruídos, porque Deus assim o permitiu. Não importa como acontece nas intervenções divinas. O que vale é saber que Deus é poderoso para mudar situações.
Na caminhada ministerial de Eliseu, muitas proezas e milagres aconteceram porque o Senhor era com Ele.

UMA FAMÍLIA PIEDOSA EM DIFICULDADES A Crise Económica de uma Família
Esta história vem logo após um incidente internacional que provocou uma guerra de três reis contra o rei de Moabe. Nesse incidente, Deus usou Eliseu para demonstrar a intervenção divina numa circunstância que nenhum homem comum poderia resolver. Entende-se que por amor à casa de Davi, Deus deu vitória aos três reis.
No capítulo 4, Eliseu se volta às famílias dos profetas quando se depara com a situação alarmante de uma viúva e seus dois filhos que estavam vivendo um estado caótico de gêneros de primeira necessidade e uma dívida impagável. A narrativa não identifica o nome dessa mulher, que era esposa de um profeta que havia falecido e deixado uma dívida. A situação daquela família era de completa penúria, pois além da perda do marido, estavam vivendo uma crise económica, em que faltavam alimentos básicos e não tinham nenhum recurso financeiro. A viúva corria o risco de perder seus dois filhos para os credores. Seus filhos poderiam ser vendidos como escravos para saldar a dívida. O texto indica que o marido dessa mulher poderia ter sido um servidor do profeta Eliseu. A situação era gravíssima, pois não havia nem dinheiro nem qualquer tipo de alimentos dentro de casa. Era pobreza total, e isso significava privação das necessidades básicas da vida. A Bíblia nos dá a garantia de que “Deus faz justiça ao órfão e à viúva” (Dt 10.18; SI 68.5; 146.9).
Vivemos em tempos de grandes dificuldades económicas, quando muitas famílias estão em total pobreza material. Famílias inteiras que vivem nas favelas das grandes cidades comem restos de comida encontrados nos lixões das cidades. Sem alimentação, nem educação, nem segurança, a pobreza gera desespero e violência, e os governos tentam fazer alguma coisa, mas muito pouco é feito para mudar esse estado caótico de pobreza. Nesse meio se encontram muitos cristãos fiéis a Deus que vivem de migalhas e muito pouco que as igrejas fazem por eles. Muitas igrejas ficaram ricas e usam os seus recursos para quaisquer projetos de construções e outras coisas mais, porém muito pouco é investido na obra social para amenizar a pobreza dos nossos próprios irmãos na fé.

A Situação daquela Viúva e seus Dois Filhos
Naquele tempo, o povo rural enfrentava muitas dificuldades para fazer as culturas locais produzirem; por isso, a pobreza era grande e a maioria dos colonos estava endividada. Uma vez que as colheitas não eram boas, os colonos rurais se viam obrigados a vender suas terras e outros bens materiais, e até a própria família, para saldar suas dívidas. Uma vez vendidos os filhos dessa viúva, as leis que regiam esses negócios exigiam seis anos de serviços para saírem da escravatura. A situação daquela viúva era triste, porque ela não tinha outra saída para a solução do problema senão pagar a dívida com o trabalho servil de escravo dos seus filhos. Naquela época, as mulheres eram privadas de direitos e, principalmente, as viúvas. A viúva poderia encontrar algum parente que se tornasse o seu remidor e se casasse com ela. No caso daquela viúva com dois filhos, não houve ninguém que a remisse. Pelo contrário, a dívida contraída por seu marido deveria ser paga com a entrega de seus dois filhos ao credor (Êx 21.1-11; Lv 25.29-31; Dt 15.1-11). Nesse contexto inevitável, essa pobre viúva precisaria de uma intervenção de Deus para mudar aquele estado de desespero. Ela lembrou-se do homem de Deus que a conhecia e sabia da situação que estava vivendo. O texto diz que ela clamou ao profeta e mostrou a sua situação. Ela sabia que Jeová é aquele que “faz justiça ao órfão e à viúva” (Dt 10.18).

0 ATO BENIGNO DE ELISEU QUE OPEROU UM MILAGRE Eliseu Cria em El-Shaddai, o Todo-Poderoso
Eliseu ouviu os reclamos daquela viúva e, naturalmente, como homem comum, ele se sente incapaz de resolver o problema. Porém, ele sabia muito mais que o seu Deus, o El-Shaddai, era aquEle que podia operar o milagre na casa daquela mulher. Ele sabia que o El-Shaddai havia se manifestado muitas vezes em variadas situações na história de homens e mulheres da Bíblia, e que só Ele poderia operar o milagre na vida daquela família.

0 Deus de Milagres Operou de Modo Especial na Casa daquela Viúva
Quando Eliseu pergunta àquela viúva “Que te hei de fazer?”, estava confrontando os limites de sua pessoa como homem, que estava pronto para ajudar, dentro dos limites desse seu espírito humanitário. Eliseu não agia com atitude presunçosa só por causa dos milagres que já haviam sido operados por seu intermédio. Ele tinha consciência de suas limitações, e não ostentava atitude de senhorio sobre as operações de Deus. Mas, confiante no poder de Deus e certo de que é Deus que “faz justiça ao órfão e à viúva”, lhe daria uma solução que resultasse na glória de Deus. Na segunda pergunta do profeta à viúva, “Que é que tens em casa?”, ele vislumbrou em sua mente a operação de Deus.
“Que é que tens em casa”? (2 Rs 4.2) é uma pergunta que, colocada no contexto das famílias na sociedade atual, se choca com a realidade da pobreza, da mendicância nas cidades, da busca de alimentos nos lixões das grandes metrópoles, dos maus serviços de saúde. A igreja de Cristo na terra não pode fugir ao seu papel social, e sim seguir o exemplo da igreja que saiu do Pentecostes (At 4.32-35). Em vez de querermos espiritualizar todas as suas ações, a igreja deveria investir em exercer justiça social. Não adotamos a teologia da libertação dos teólogos modernos, nem devemos cruzar os braços sem alguma ação em favor dos necessitados. Essa pergunta deveria ser feita pelos adeptos da teologia da prosperidade, que confundem o “ser com o ter” e ensinam que os pobres são pobres porque não conseguem a bênção da prosperidade. Existe uma teologia chamada “teologia da pobreza” que ensina e declara que pobreza material é garantia de espiritualidade, usando como texto para essa ideia equivocada uma interpretação da expressão “pobres de espírito” como pobreza material. Na história deste capítulo, Eliseu era o homem de Deus, que confiava em Jeová-Jireh e sabia que Deus podia mudar aquele estado de penúria daquela viúva e seus filhos. Por isso, perguntou-lhe: “Que é que tens em casa”? (2 Rs 4.2). A resposta da viúva foi clara e precisa: “Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite”.

Deus Começa o Milagre a partir do que Temos
“Tua serva não tem nada, senão uma botija de azeite. ” A lição maior que aprendemos com essa declaração da viúva é que, a partir do nada, ou do pouco que temos, Deus age e opera milagres. Na Bíblia temos histórias lindas dos milagres de Deus em prover a necessidades de seus servos. O que é que temos em mãos para começar a ver a operação de Deus? Moisés
tinha em mãos “uma vara”, e com essa vara Deus operou grandes maravilhas; Davi tinha uma funda, e com uma pedrinha matou o gigante Golias (1 Sm 17.23-25,40,49); Pedro e seus companheiros de pesca tinham uma rede e viram o milagre da pesca abundante depois de uma noite sem pegar nada (Lc 5.1-7); Dorcas tinha uma agulha de costura (At 9.36-40).
O que temos em mãos, ou em casa, para crer no Deus de milagres? Em 1954, na cidade de Chapecó, SC, meu pai, pastor Osmar Cabral, atendia a nova igreja na cidade e as dificuldades financeiras eram enormes. Certo dia, faltou de tudo em nossa casa. O comércio não vendia nada fiado para qualquer crente e meu pai saiu à procura de alguma coisa para trazer para casa numa outra cidade próxima. Minha mãe reuniu-se comigo e minha irmã, que tínhamos apenas 9 e 7 anos de idade, para orar a Deus que enviasse comida para a nossa casa. A noite, já muito tarde, alguém bateu à porta de nossa casa de madeira e perguntou pelo meu pai, que ainda não havia retornado. Essa pessoa se identificou e disse que Deus o enviara para trazer comida. Minha mãe o recebeu, e o homem trouxe para dentro de casa muito feijão, arroz, carne seca e outros alimentos. O Deus de milagres tocou no coração desse irmão que não nos conhecia, vindo de outra cidade, para encher a nossa casa de alimentos. E a partir de “uma botija de azeite” que Deus torna tudo abundante, porque Ele é o “Deus de toda provisão”.

A PROVISÃO NA MEDIDA CERTA
Eliseu trouxe tranquilidade e fé para aquela pobre viúva, tornando-a capaz de suprir as necessidades básicas de sua casa e com condição de pagar sua dívida com os credores. Ele a orientou como deveria fazer, porque o abastecimento da sua casa não seria momentâneo, mas serviria para ter em estoque muito azeite, que poderia ser vendido, e com o dinheiro ela sustentaria a sua casa e seus dois filhos continuariam com ela.

Provisão Abundante sem Desperdício
O que a viúva tinha em casa senão uma “botija de azeite”? Foi um bom começo o “ter uma botija de azeite”, mas se ela não tivesse nada, o Senhor operaria do mesmo modo.
O profeta orientou a viúva e seus filhos que pedissem emprestados muitos vasilhames próprios (vasos de barro), tanto quanto pudessem tomar emprestados. Sem que os vizinhos e amigos soubessem, seus filhos trouxeram muitos vasilhames para dentro de casa. Tudo quanto aquela viúva tinha em casa era “uma pequena botija de azeite”. Fecharam a porta da casa e obedeceram à orientação do profeta de “tomar a botija de azeite” e começar a derramar em cada vasilhame o restinho do azeite que havia na botija. Então o milagre começou a acontecer, porque o azeite não terminava e quanto mais eles enchiam os vasos, mas o azeite se multiplicava até o último vaso, quando o azeite parou de derramar. O azeite continuou a fluir enquanto havia vasos para recebê-los. Não houve desperdício. Tanto quanto havia em capacidade de receber azeite foi o que Deus fez fluir para resolver o problema da viúva e seus filhos.
A lição que aprendermos é que, do pouco que temos, podemos exercer nossa fé para obtermos a bênção de Deus em todos os aspectos de nossa vida material, emocional e espiritual. O apóstolo Paulo disse aos romanos que Deus dá da sua graça na medida da nossa fé, ou “conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12.3). Deus nos dá tanto quanto precisamos e dá abundantemente. Nunca Ele dá demais ou de menos, mas sempre na medida da nossa capacidade de gerirmos aquilo que Ele nos dá.

A Obediência à Orientação do Profeta Foi Fundamental para Perceber a Bênção
Aquela mulher podia discutir com o profeta o seu modo de resolver o problema, mas ela sabia que o homem de Deus tinha a resposta divina para a sua vida. Tudo o que ela precisava lazer era aceitar a orientação do profeta e colocar sua fé em ação. Para não haver interferência no milagre, a viúva e seus filhos deveriam “tomar vasos emprestados”, ou seja, vasilhames de cerâmica, tantos quantos pudessem conseguir, e trazê-los para dentro de casa. A viúva só tinha uma botija, um pequeno vasilhame; por isso, precisaria de muitos vasilhames. Ela sabia que deveria obedecer à orientação do seu líder espiritual como aquele que cumpre o papel de representar os interesses de Deus na terra. Para não haver a interrupção dos credores à sua porta, nem o de sentir-se orgulhosa pelo suprimento miraculoso, ela deveria fechar a porta atrás de si na sua casa. Ela fez tudo conforme a orientação do servo de Deus para que o milagre acontecesse. O princípio da autoridade espiritual é o mesmo para os nossos dias. Um pastor deve ser respeitado como homem de Deus, e esse respeito se conquista com o exemplo de vida piedosa.

0 Azeite Flui enquanto Houver Vasos Disponíveis
Houve um outro tempo na vida de Israel em que havia uma crise de fé e de espiritualidade nos dias do profeta Zacarias (519-520 a.C.). Esse profeta tem uma visão maravilhosa do modo como Deus supriria o seu povo nas suas necessidades. Entre outras coisas da visão, Zacarias viu um candelabro todo de ouro com as suas sete lâmpadas e um vaso por cima das lâmpadas que supria com azeite. Esse grande castiçal de ouro que representava o povo de Deus (Zc 4.2). Para um castiçal que estava sem azeite, não havia nenhum recurso humano que pudesse suprir esse castiçal, mas aquele vaso estava cheio de azeite para as lâmpadas.
Fazendo uma comparação com a história vivida pela viúva e seus dois filhos, o azeite que se multiplicava era a provisão de Deus para suprir as necessidades daquela família. Na Igreja, é preciso um novo azeite que traga avivamento e renovação espiritual.
O azeite torna-se uma tipologia da provisão de Deus na vida dos que dependem dEle para as suas necessidades. Os filhos da viúva conseguiram muitos vasos e os trouxeram para dentro de casa, mesmo sem saberem o que ia acontecer. Eles creram na operação divina para realizar o milagre. Matthew Henry comentou que “nós nunca estamos em dificuldades em Deus, em seu poder e generosidade, e nas riquezas da sua graça. Toda a nossa dificuldade está em nós mesmos. E a nossa fé que falha, não a sua promessa. Ele dá mais do que pedimos: houvesse mais vasos, haveria mais em Deus para enchê-los, o suficiente para todos, o suficiente para cada um”.
Muitas igrejas cristãs estão vivendo o drama da viúva com a despensa vazia. Vivem das experiências passadas porque não há mais vasos disponíveis para que o Senhor faça fluir o azeite. Os vasos podem representar aquelas pessoas que trazemos para “dentro da casa”, ou seja, que se convertem e as trazemos para o convívio da igreja.
A medida da fé é a medida das bênçãos.

(LIÇÃO 8 SUBSÍDIO TEOLÓGICO) RUTE: DEUS HONRA O TRABALHO PELA FAMÍLIA

Mulher virtuosa, quem a achará?
O seu valor muito excede o de rubis.
— Provérbios 31.10

O livro de Rute se torna especial dentro do período em que Israel não tinha rei e a liderança do povo estava a cargo de juízes, que orientavam o povo acerca da terra, da espiritualidade e da família israelita. Uma história que teve o seu ponto de partida ainda em terra estrangeira. Houve bons juízes, mas houve péssimos juízes que provocaram divisões, crueldade, apostasia, guerra civil e vexame nacional perante as outras nações. Na verdade, a história de Rute começou em terra estrangeira, na terra de Moabe, onde ela, uma moabita, se casa com um efratita de Belém, na Judeia. Por algo misterioso da parte de Deus, havia um desígnio especial para a vida de Rute, que ela mesma não conhecia e nem podia imaginar. O seu “deus”, antes, era um “deus moabita”; depois, ela conhece o Deus de Noemi e do seu marido, e se torna uma serva de Jeová, o Deus de Israel.
Rute ganha notabilidade por ter um caráter exemplar, uma generosidade e uma fé no futuro que a sua sogra Noemi não tinha. Segundo a história de Israel, ela notabilizou-se especialmente por ter sido mãe dos melhores reis de Israel. Rute era uma estrangeira moabita que entrou na vida de Israel por seu casamento com um judeu vindo de Belém para Moabe por causa da escassez daquela terra. Dois anos depois de casada com Malon, morreram o seu sogro Elimeleque, o seu marido e o marido de Orfa, casada com Quiliom. Os três homens daquela família morrem e deixam viúvas, Noemi, Rute e Orfa.
A partir de então, inicia-se uma das mais belas histórias bíblicas em que exalta o amor e a virtude de uma mulher moabita chamada Rute. É a história de um drama familiar de luto, subsistência e desesperança. É a história de uma crise generalizada de pobreza, doença, viuvez e morte. Nesse drama se destaca a tenacidade de Rute, que foi capaz de superar as dificuldades com atitudes de fé, inteligência, lealdade, persistência e esperança. E uma história que exemplifica o trabalho como o modo de suprir as necessidades primárias, mas, acima de tudo, confiando no Deus de toda provisão.

A CRISE ECONÓMICA NA TERRA DA JUDEIA A Escassez que Provocou Fome na “Casa do Pão”
“Casa do pão” é o significado do nome “Belém Efrata”, mas toda a região de Canaã estava afetada pela escassez de grãos, especialmente trigo e cevada. A escassez da terra, ressecada, sem chuva, não conseguia dar frutos e sementes, e o povo começou a passar necessidades. O texto de Rute 1.1 diz literalmente: “houve uma fome na terra”, isto é, toda a terra da Judeia estava escassa. Faltava-lhes não só os alimentos básicos de subsistência das famílias que viviam na região, mas a terra estava desolada. Toda essa situação resultava da má liderança dos últimos juízes de Israel, que abandonaram o Senhor e tornaram-se egoístas e idólatras. Esses fatos aconteceram entre 1268 a 1251 a.C., aproximadamente.
Belém, a “casa de pão”, estava vazia, sem o pão que representava o sustento físico e material do povo. A cidade deixou de ser um celeiro de grãos para ser um lugar de escassez e fome. Havia carestia e seca por toda a parte na terra de Canaã. Mediante a displicência dos líderes e do povo de Israel para com Deus, subentende-se que a fome era a disciplina de Deus ao seu povo por tê-lo abandonado e trocado por outras crenças pagãs (Lv 26.18-20; Dt 15,23,24). Naquele tempo, Israel afastou-se da comunhão com Deus e chegou a aderir aos ídolos pagãos. Nem todos agiam do mesmo modo, mas a disciplina era para todos.

A Crise de uma Família
Naturalmente, todas as famílias daquela terra foram afetadas e não foi diferente com a família de Elimeleque, sua esposa Noemi e seus filhos Malom e Quiliom. Elimeleque, certamente pai responsável pelo sustento da família, tomou uma decisão e a sua atitude foi a de mudar-se daquela região e procurar um lugar onde pudesse sustentar a família. A crise económica era um fato consumado e atingia a todos. Elimeleque agiu rápido e resolveu buscar solução para a subsistência da família em outro lugar. Em vez de ficarem parados, decidiram ir para a terra de Moabe, seguindo o caminho que lhes parecia mais racional, as terra planas daquele lugar estrangeiro.
Como qualquer outro homem de Israel, Elimeleque conhecia ao Senhor, mas não buscou sua orientação para a decisão que tomou. Preferiu agir por conta própria, sem qualquer orientação da vontade de Deus para a sua vida. De fato, achou que não precisava de Deus naquela decisão, e tal atitude é sempre uma ameaça a uma vida de fé. Ao chegarem aos campos de Moabe, Elimeleque entendeu que estaria livre para resolver seus problemas sem precisar recorrer a Deus, mas a experiência não foi fácil. Em vez de encontrar pão, encontrou enfermidades e privações. Depararam-se com a morte e não conseguiram escapar de outras crises. Enfermidade, morte e viuvez envolveram a vida dessa família, e só restaram Noemi, a mãe, e seus dois filhos, Malom e Quiliom. Essa crise produziu na alma de Noemi uma amargura enorme. Não demorou muito tempo, seu marido falece e ela nada pode fazer. Os dois filhos, Malom e Quiliom, se enamoraram de duas jovens moabitas e casaram com elas, brilhando uma nova esperança no coração de Noemi. De repente, os dois filhos são acometidos por enfermidades e ambos morrem. Não se sabe do espaço de tempo entre uma morte e outra, mas deixaram suas esposas na viuvez. Agora eram três viúvas que, no contexto da época, teriam enormes dificuldades de sobrevivência.
A lição que aprendermos nessa história é que, quando vivemos pelas aparências e não por fé, podemos sofrer consequências graves. Revoltamo-nos com Deus e o culpamos pelos nossos próprios pecados.

SUPERANDO AS CRISES EXISTENCIAIS O que São Crises Existenciais?

Para entender o que se passou com Noemi e Rute, é preciso entender o significado de experimentar uma crise existencial. Segundo especialistas, “crise existencial é um momento no qual um indivíduo questiona os próprios fundamentos de sua vida: se esta vida possui algum sentido, propósito ou valor”. Outra definição diz que “crise existencial é um estado emocional em que o ser humano vê a própria vida sem sentido ou significado”. Foi essa a experiência vivida por Noemi, que, tendo perdido o marido e seus dois filhos, em sua viuvez não via outra coisa senão a mão pesada de Deus contra ela. Rute foi mais forte, mas viveu um momento de amargura e dúvida a rondar sua cabeça sem ver alguma luz no final do túnel. Contudo, Rute foi capaz de não se deixar dominar por sentimentos negativos e ainda amenizou a amargura de sua sogra, ficando com ela e lhe dando toda a atenção e carinho.

A Crise Doentia de Noemi
Noemi chegou a um ponto de sua vida pessoal em que não via nenhuma saída racional para solucionar seu dilema. Ela estava vivendo a falta de perspectiva do que fazer para mudar aquela situação. Parecia ter chegado a um “beco sem saída” para sua vida física, emocional e até mesmo espiritual, porque havia perdido a esperança. Nossa visão da vida quando nos deparamos com crises se torna embaçada e limitada. Mas podemos superar essas crises com uma atitude de fé no Deus de toda provisão e declarar como o apóstolo Paulo, ao dizer aos romanos perseguidos em Roma: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31).

A Crise Momentânea de Rute
Vivendo o drama da solidão e da falta de recursos para subsistir, Rute teve uma crise mais leve que sua sogra Noemi. Ora, Noemi fora dominada por um sentimento de solidão. Rute chegou a ter momentos de esmorecimento ante o desafio de ter que arranjar alguma coisa para a subsistência delas duas. Noemi via a Deus como aquEle que a abandonou. Disse ela às duas noras viúvas: “[...] porquanto a mão do Senhor se descarregou contra mim” (Rt 1.13). Seus sentimentos tornaram-se amargos e não esperava mais nada, senão a morte. Porém, sua nora Rute foi capaz de superar as crises de sua casa e da sua sogra com uma visão de esperança, paciência e tenacidade para superar todas as dificuldades que viviam (Rt 1.16). Rute demonstrou possuir um caráter modelar, pois, sendo uma estrangeira e tendo uma formação pagã, ela foi sábia o suficiente para que a sua crise fosse passageira.

Noemi Decide Voltar à sua Terra

Noemi teve boas notícias da sua terra. Ouviu que o Senhor havia derramado de suas misericórdias para com o seu povo e que a terra recebeu chuvas, e o plantio de sementes de trigo e cevada frutificou, dando outra vez pão ao seu povo (Rt 1.6). Ora, Noemi, viúva, não estava só, porque suas noras moabitas, Orfa e Rute, também viuvas, ainda estavam com ela.
Noemi resolve voltar à sua terra na Judeia, pois a notícia de que a sua terra estava outra vez produzindo grãos em abundância encheu de esperança a Noemi. Até então, foram dez anos de luta e escassez na terra de Moabe. Tudo o que lhe restara era tomar o caminho de volta à sua terra na Judeia.
Noemi estava envelhecida; por isso, resolveu liberar suas noras Orfa e Rute para que voltassem às suas famílias de origem em Moabe (Rt 1.8). Orfa aceitou a liberação de sua sogra Noemi e voltou para sua família, mas Rute resolveu ficar com sua sogra (Rt 1.14-17). Noemi, não entendendo as razões do seu sofrimento até então, acreditava que Deus a estivesse castigando com todas as suas agruras vividas, mas não podia imaginar o plano presciente de Deus em todas aquelas circunstâncias. Aprendemos com o apóstolo Paulo que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28, ARA).
Roger C. Palms, um associado das cruzadas de Billy Graham, contou a experiência de “um homem que foi forçado a aposentar-se antes do tempo, devido a problemas cardíacos; porém, tinha absoluta consciência de que Deus sabia exatamente o que estava acontecendo e ainda tinha suas mãos divinas sobre ele. Entendeu que Deus o estava libertando de compromissos a fim de trabalhar com enfermos hospitalizados e com pessoas idosas. Foi o início de um ministério inteiramente novo, e ele se sente muito feliz”. Noemi não podia entender o que Deus estava reservando para a sua vida dali para a frente, porque Deus não nos abandona em circunstâncias adversas. Nem ela nem Rute podiam perscrutar o futuro reservado por Deus para suas vidas.

Rute Renuncia aos Deuses dos Moabitas e se Converte ao Deus de Israel
Foi uma reviravolta na vida de Rute. O seu amor por Noemi a fez conhecer o Deus verdadeiro, poderoso e invisível a quem Noemi servia. Ela não podia imaginar que seria mãe dos melhores reis de Israel, destacando-se Davi, na mesma linhagem que revelou Jesus, filho de Davi. Seu amor pela sogra e sua dedicação a ela tinham a ver com o conhecimento que tivera do caráter de Noemi, a despeito de todo o sofrimento que havia passado; ela fez parte da família. Quando Noemi a liberou para voltar ao seio de sua família, Rute declarou de coração aberto a ela: “o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16). Rute teve um gesto de amor exemplar para com Noemi. Sua convivência com Noemi a levou a conhecer o Deus de Noemi. Rute descobriu que o Deus de sua sogra era um Deus Vivo, que é Espírito e Verdade, e que supre as necessidades dos seus servos. Rute se apegou à sua sogra não só pelos laços familiares, mas também pela fé no Deus de Noemi.

FÉ E TRABALHO NUMA NOVA PERSPECTIVA DE VIDA
Noemi decidiu retornar à Palestina, a Belém, levando consigo Rute. As duas empreenderam uma viagem difícil para aquele tempo que distava do lugar onde habitavam uns 160 quilómetros. Tiveram que atravessar montanhas íngremes e de difícil acesso. Viajaram, não se sabe por quais meios de transporte, e suportaram as intempéries climáticas seguindo em frente. Mesmo com as dificuldades da viagem, Noemi e Rute não desanimaram até chegar a Belém Efrata (Rt 1.19).

A Bíblia diz que “o justo viverá da fé” (Rm 1.17; Hc 2.4) para que aprendamos a confiar inteiramente em Deus. Quando Noemi e Rute empreenderam a viagem para a Judeia, havia uma nova esperança em seus corações. Era uma esperança de restauração de vida e de fé. Rute se tornara uma mulher de fé e disposta a superar a crise de subsistência com confiança em Deus.

Noemi e Rute Chegam à Terra do Pão
Quando Noemi e Rute chegaram a Belém, era o começo da colheita da cevada e do trigo, e Noemi pôde constatar que o Senhor havia visitado o seu povo, dando-lhe pão em abundância. Entenderam as duas mulheres que não passariam mais fome, mas que, de algum modo especial, elas estariam provisionadas de trigo e cevada.
Entretanto, a chegada das duas mulheres viúvas alvoroçou a cidade de Belém, e os antigos conhecidos de Noemi queriam saber o que havia acontecido com sua família. Noemi ainda era uma mulher amarga com as duras experiências passadas em Moabe e preferia ser chamada “Mara”, cujo significado no hebraico é “amarga” (cf. Ex 15.23). Noemi sabia que a sua volta como mulher pobre, sem marido, era o fruto do pecado de tomar decisões precipitadas sem consultar a Deus. Além de ter permitido seus filhos se casarem com mulheres pagãs. Ela tinha consciência do seu pecado, mas nunca foi capaz de reconhecer isso e confessá-lo a Deus.
Noemi sabia apenas reclamar, considerando-se vítima daquela situação; por isso, achava-se ser uma pessoa de vida amarga que havia saído com recursos financeiros, mas volta completamente pobre. Sua queixa se resumia a declarar que o Todo-Poderoso, o “El-Elyon”, o “EI -Shaddai”, o Deus Onipotente, parecia tê-la abandonado. Entretanto, o Deus El-Elyon não é vingativo nem se compraz no sofrimento do seu povo. Acima de tudo e apesar de tudo, Ele estava no comando da vida de Noemi para um propósito maior do que ela jamais podia imaginar. Sua humilhação e tristeza foram transformadas em alegria e recuperação das perdas até então.


Rute Ajuda Noemi a Recuperar sua Autoestima
A grande bênção na vida de Noemi foi ter Rute consigo nessa trajetória da vida. Quando elas chegaram a Belém, toda a cidade se comoveu por elas por causa da sua pobreza. Noemi ainda estava cabisbaixa e com sinais de amargura, culpando a Deus pelo seu estado de pobreza (Rt 1.20), ainda que soubesse que estava colhendo o fruto de seus erros juntamente com seu marido quando foram para Moabe (Rt 1.21).
Porém, Deus permitiu que a estrangeira convertida ao Deus de Israel se tornasse a o canal da bênção de recuperação para Noemi. Rute deu uma demonstração de carinho e amor por Noemi que a fez entender que ainda havia esperança. Elas haviam chegado no “principio da sega das cevadas” (Rt 1.22), ou seja, quando a colheita de cevada estava começando.
Em Moabe a situação era precária; mas agora, em Belém, havia esperança de “não faltar nada” para ambas. Rute usou sua perspicácia para suprir a necessidade da casa sem precisar roubar ou matar. Ela apenas agiu com ética e respeito, e fez Noemi entender que Deus cuidaria delas e não faltaria nada. Sua atitude de ânimo contribuiu para que Noemi levantasse a cabeça e melhorasse sua autoestima.

Rute Trabalha com Afinco Apanhando Espigas
Não há dúvidas de que a providência divina daria às duas mulheres a oportunidade de restaurar a situação precária com que chegaram à cidade. Noemi e Rute não sabiam que faziam parte de um projeto divino, com o qual se cumpririam as promessas de Deus feitas a Abraão (Gn 12.1-3). Com a experiência dessas mulheres aprendemos que, se quisermos que Deus trabalhe em nossa vida e participe de todas as nuances imprevisíveis da nossa trajetória, precisamos cumprir os requisitos que viabilizam os seus propósitos.
Rute aprendeu que a relação com Deus envolve fé, e a fé sem obras é morta (Tg 2.20). Ela acreditava que Deus a amava porque o recebeu como Deus e Senhor de sua vida, então supriria suas necessidades. Sendo estrangeira, ela estava numa posição bastante vulnerável. Por isso, precisava agir com cautela quando resolveu ir para um campo de cevada que pertencia a um parente de Elimeleque. Ela tinha que agir reconhecendo-se pobre, e, por isso, podia ajuntar espigas que os segadores deixavam para trás na sua colheita. Era uma prática permitida e concedida aos pobres pela lei mosaica (Dt 24.19-21).
Nosso país vive um momento de crise económica, e a falta de trabalho, ou seja, emprego, é uma realidade vivida pelo povo. Mas as pessoas que querem trabalhar buscam, de algum modo, algum trabalho que lhes dê condições de sobrevivência.
Rute não cruzou os braços esperando que os alimentos lhe viessem às mãos. Ela, com fé e disposição para trabalhar, saía cedo de casa e passava o dia inteiro juntando espigas até juntar um tanto suficiente que pudesse levar para casa. Sua diligência no trabalho e sua perseverança em ajuntar espigas e grãos chamou a atenção de Boaz, o dono daquele campo. Boaz ficou admirado com simpatia e a disposição daquela jovem que não media esforços para conseguir grãos para ela e sua sogra Noemi. O trabalho dignifica o trabalhador, e Rute demonstrou sua lealdade e beneficência para com sua sogra.

Rute É Honrada pelo Trabalho no Campo de Boaz
Ainda que viúva, Rute era uma mulher livre e desimpedida. Ela podia casar-se outra vez. Numa manhã, quando foi ao campo para juntar espigas depois que os colheiteiros tivessem colhido o principal da colheita daquele campo, Rute, confiante e disposta para um dia de trabalho, não podia imaginar que encontraria o dono do campo, que se chamava Boaz. Ele ficou admirado por essa mulher e até certo ponto enamorou-se dela, mesmo não tendo dito qualquer palavra. Era um homem respeitável, e ela tinha atitude modesta, mas achou graça perante ele Rt 2.2,10,13).
Boaz era um homem bom e temente a Deus. Procurava ser justo com seus empregados (Rt 2.4). Ao perceber o esforço daquela mulher, Boaz perguntou aos seus trabalhadores quem era ela. Ao ter informações acerca de Rute, discretamente Boaz procurou ajudá-la, ordenando aos seus homens que fossem amáveis com e não a aborrecessem, porque se tratava de alguém especial.
Rute se dispôs a trabalhar pelo seu sustento e da sua sogra Noemi (Rt 2.7), e foi convidada por Boaz a que colhesse o seu trigo e cevada seguindo os homens e outras mulheres que trabalhavam para ele, mas
colhesse apenas do seu campo, não fosse a outro. Foi um convite a que descansasse na casa de descanso dos seus trabalhadores. Ela foi abençoada por ser uma mulher de iniciativa e persistência, porque acreditava na força do trabalho para conseguir o que buscava. Ela não teve medo de correr riscos (Rt 2.2), mas foi determinada e disposta para alcançar o sucesso desejado. Por isso, Boaz, ao descobrir essa estrangeira simpática e generosa, e tendo conhecimento da generosidade dela para com Noemi, ofereceu seu campo, sua proteção e se tornou o provedor de Noemi e Rute.
Nos desígnios divinos, não foi por acaso que Rute entrou no campo que pertencia a Boaz. Havia um direcionamento de Deus na sua vida porque ela aprendera a confiar no Deus de Israel e já conhecia a história de um passado de escassez, mas que tinha naquele momento de sua vida a volta da bênção da prosperidade a Israel.

RUTE ENCONTRA 0 REMIDOR DA FAMÍLIA Rute Descobre o seu Remidor
A descoberta do remidor da herança familiar de Noemi é uma demonstração da graça de Deus, especialmente, para Rute. Ela, como mulher estrangeira, pobre e viúva, não tinha condições de reivindicar qualquer tipo de direito a quem quer que fosse, porque sua posição era inferior na sociedade da época. Mas Rute, antes de tudo, alcançou graça para com Boaz, porque era homem justo e bom para com as pessoas em torno de si. Procurava ajudar a todos. Era um homem diferente. Na             tipologia bíblica, Boaz é apresentado como um tipo de Cristo na sua relação com a Igreja, um tipo de Rute. Ela era uma estrangeira, pobre e carente até encontrar Boaz, que se tornou o seu remidor, assim como Cristo é o nosso Redentor que, sendo rico, se fez pobre para nos fazer ricos e herdeiros das suas riquezas (2 Co 8.9).
Quando Rute se dispôs a apanhar restos das espigas deixadas pelos empregados de Boaz, descobre que Boaz era parente de Elimeleque e, por lei, ele podia redimir essa herança para que a mesma ficasse dentro da família e a viúva não ficasse desamparada. Rute gozou da confiança de Boaz e comeu até fartar-se de sua mesa, mas não se esqueceu de Noemi. Ao voltar para casa, trouxe consigo muito mais do que havia colhido, porque Boaz lhe concedeu algumas medidas a mais. Noemi ficou feliz, mas perguntou-lhe onde havia colhido tanto. Rute contou-Ihe tudo quanto havia acontecido e a benevolência de Boaz, senhor daquele campo. Ela havia se comportado com prudência e delicadeza sem que nada a desabonasse moralmente.

Boaz se Dispõe Remir a Rute, a Moabita

Havia alguns entraves para que Boaz pudesse remir aquela herança à sua origem porque a mesma estava nas mãos de outra pessoa. Seguindo os costumes do povo na tomada de decisões que requeriam consenso, Boaz foi para a porta da cidade, onde se reuniam os anciãos do povo na forma de um júri, os quais julgavam as causas do povo. O remidor por direito era outro homem, porque aquela parte da terra que pertencia a Elimeleque havia sido vendida e não pertencia a Boaz. No entanto, interessado em Rute, Boaz se dispôs a casar-se com ela para adquirir o direito de remissão daquela parte da herança. Visto que Rute era viúva do filho de Elimeleque, Boaz explicou aos anciãos da cidade e os convenceu desse direito, solicitando que o antigo dono vendesse aquela terra a Boaz. Mais que isso, Boaz redime à Rute a herança, pagando o preço daquela terra e o direito de resgate da viúva. Boaz se casa com Rute, e o antigo remidor entendeu que a redenção do campo e o direito de viúva do filho falecido de Noemi era conquistado por Boaz.

Rute Deseja Ser Remida por Boaz
No livro de Levítico, foi estabelecida por Moisés a lei do parente resgatador (Lv 25.23-34) e em Deuteronômio 25.5-10 foi estabelecida a lei sobre o casamento de levirato. Segundo a Escritura relata, o objetivo dessas leis era o de preservar o nome e proteger a propriedade familiar. Para não haver exploração das terras, especialmente pelos ricos, que poderiam se aproveitar dos pobres e das viúvas, essas leis foram estabelecidas. Eram leis que garantiam o nome da família do homem que morreu depois de sua morte. Por isso, a propriedade não seria vendida para pessoas que não fizessem parte da família. Lamentavelmente, Israel, algumas vezes esqueceu-se de Deus e de suas leis, desrespeitando essas leis e buscando apenas o interesse próprio. Muitos do povo não respeitavam mais qualquer direito adquirido (1 Rs 21; Is 5.8-10; Hc 2.9-12; 2 Cr 36.21).
Quando Noemi ouviu os fatos sobre o interesse de Boaz por Rute e que a tratou com tanta bondade, apelou, então, para uma tradição sobre costume do “parente remidor”. Seria um modo de Boaz remir a ambas da pobreza (Rt 3.1-18). Noemi instruiu Rute para que se preparasse com vestes e perfumes e, discretamente, sem que Boaz soubesse, fosse deitar-se aos pés dele sem que percebesse a sua presença. Cerca de meia-noite, Boaz estremeceu em sua cama quando viu que Rute estava deitada aos seus pés (Rt 3.8,9). Não se constitui nenhum ato delituoso nem sensual, porque ela estava protegida pelas leis que regiam o costume que envolvia o papel do remidor para com aquela mulher que estava viúva, e o seu marido era parente de Boaz. Pedir que ele estendesse uma aba de sua coberta sobre ela significava que ele a estaria protegendo.
Entretanto, ele teria que negociar com o outro homem que era o dono daquela parte da terra que pertencera a Elimeleque e seus filhos. Depois de buscar conselho com os anciãos da cidade, Boaz negociou com o homem, comprando aquela terra, pagando o preço justo conforme prescreviam as leis que regiam sobre o resgate de propriedades.
No capítulo 4 do livro, Boaz se casa com Rute, tornando-se o seu remidor e ainda mantendo sob proteção a Noemi. Legitimamente, Boaz e Rute se casaram sob as bênçãos de toda a comunidade de Belém. No devido tempo, Deus deu a Boaz e Rute um filho, a quem deram o nome Obede, e este gerou a Davi, o grande rei de Israel.
Rute, a moabita, entra na genealogia de Jesus. Ora, de uma mulher moabita, convertida ao Deus de Israel, veio a se tornar bisavó de Davi. Quando Jesus foi manifestado na terra, tornou-se conhecido como o “filho de Davi” (Mt 1.3-6), formando os elos da linhagem do Messias desejado por todos os judeus até o dia de hoje.

CONCLUSÃO
Essa mulher gentia obteve fé suficiente para servir de exemplo aos que aspiram a um emprego nesses tempos difíceis. Rute teve perdas enormes: o sogro, o cunhado e o marido. Além dessas perdas, sua sogra Noemi tornou-se uma mulher amargurada, mas ela soube superar essas perdas sem perder a esperança de que sua felicidade poderia se construída sobre valores maiores do que riqueza material. Rute náo se deixou seduzir pelo fascínio de ser mulher bonita e conquistar marido rico, mas firmou sua mente na busca de um trabalho honesto que lhe desse tranquilidade. Deus honrou seu trabalho, do qual sustentou a si mesma e a casa de sua sogra Noemi.


A história de Rute é uma historia que referenda o trabalho, a fé e a persistência como elementos de realização pessoal e vitória espiritual.

Ele porém disse: Ah! Senhor! envia por mão daquele a quem tu hás de enviar.

Era um assentimento muito relutante. Era quase como dizer: "Já que tu
determinastes enviar-me, e preciso assumir a missão, que assim seja; mas eu preferia que fosse outro, e só irei porque sou compelido". Fugimos tantas vezes do sacrifício ou da obrigação a que Deus nos chama, que até pensamos estar caminhando para nossa destruição. Procuramos todas as razões para escapar da vontade divina, sem perceber que Ele está nos lançando fora de nossos lares tranqüilos, para uma carreira que inclui, entre outras coisas, uma canção de vitória às margens do mar Vermelho; dois períodos de quarenta dias de peregrinação solitária em conversa com Deus; um rosto brilhante; uma visão da glória; um sepultamento pela mão de Miguel; e a honra suprema de estar ao lado do Senhor no monte da Transfiguração.

Guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.

Salmos 23.3
Ele sempre tem um propósito ao nos dirigir. Ele sabe onde estão as porções verdes dos pastos e dirige seu rebanho até lá. O caminho talvez seja duro, mas é o caminho certo que leva à pastagem. As "veredas da justiça" podem não ser retas, mas são veredas que conduzem a algum lugar - para o lugar certo. Muitas veredas dos desertos são enganosas. Elas começam limpas e planas, mas logo se perdem na areia.
Vão a lugar nenhum. Mas as veredas da justiça têm um alvo e a eles se dirigem sem erro.

Os olhos deles estavam como que fechados.

Lucas 24.16
Abriram-se-lhes então os olhos. Lucas 24.31 Há um significado muito precioso nisso. Muitas vezes, o Senhor está presente em nossas vidas, nas coisas em que, nem por sonho, pensamos haver algum significado. Estamos falando com Deus a respeito de alguma coisa que necessite de sua ação poderosa, e o próprio instrumento por intermédio do qual Ele irá atuar está ao nosso lado, talvez há semanas e meses e anos, totalmente anônimos, até que algum dia ele cresce, luminoso e glorioso, com a presença do Senhor, tornando-se um instrumento cheio de poder em seu trabalho vitorioso. Ele tem prazer em mostrar sua mão por meio do inesperado. Muitas vezes, ele não nos deixa ver seu caminho até o último instante, antes de abri-lo. E, então, assim que o descerra,descobrimos que Ele estava andando ao nosso lado em todos os passos, muito antes de ao menos desconfiarmos do significado disso.

(SUBSÍDIO TEOLÓGICO) JOSÉ, SABEDORIA EM TERRA ESTRANHA

José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus ramos correm sobre o muro.
— Génesis 49.22

Nos desígnios de Deus, a história de José ganha um sentido especial. Naturalmente, não cremos que essa história tenha algum caráter determinista, mas cremos que desde o seu nascimento (Gn 30.22-24) o dedo de Deus orientou os seus caminhos para que se cumprissem no tempo próprio esses desígnios. Portanto, a história de José é uma das mais belas histórias registradas na Bíblia Sagrada. É uma história salpicada pelo amor de um pai ancião, a rejeição de seus irmãos invejosos e a beleza dos seus sonhos que revelavam o futuro de sua família. Do capítulo 30, quando se inicia a sua história, não há informações sobre o desenvolvimento físico c mental de José até chegar aos 17 anos de idade. A partir do capítulo 37 até o capítulo 50, a história ganha em 13 capítulos um espaço especial no livro de Génesis nos quais se revelam os desígnios de Deus na sua vida e na vida de sua família, a qual se proliferou e se tornou um grande povo. Alguns fatos, alguns bons e outros ruins, contribuíram para que os desígnios divinos se concretizassem na vida de José, o qual se tornou um instrumento de bênção para toda a sua família.
Nessa história, somos atraídos pela sabedoria de José extremamente- útil nas várias circunstâncias de sua vida. José experimentou desde jovem adolescente a inveja dos seus irmãos porque gozava de regalias que os demais filhos não tinham. Era um modo errado de tratamento de Jacó, o pai, com os demais filhos. Por causa dessas regalias de José, seus irmãos o odiaram e o quiseram distante deles. Por isso, eles o prenderam e o jogaram num poço, mas passando um grupo ismaelita que negociava escravos, venderam o irmão, que foi conduzido como escravo e levado para o Egito. Naquela terra, vendido como escravo a um senhor egípcio, não perdeu sua fé em Deus. Na casa de Potifar, o seu senhor, José fez prosperar os negócios desse homem, mas foi alvo da sensualidade sua mulher, que o tentou para um caso sexual. Não aceitando a oferta sensual da mulher de Potifar, foi injustamente acusado de assédio sexual e levado à prisão. Na prisão, sua fidelidade ao Deus do seu pai o fez um líder capaz de interpretar sonhos dos outros presos. Não demorou muito para que fosse descoberto como alguém especial para interpretar os sonhos de Faraó, vindo a conquistar sua confiança. Faraó, rei do Egito, ficou tão impressionado com José que o fez o grande e mais inteligente governador do Egito. José deixou uma lição de sabedoria ao saber conduzir-se nas mais difíceis situações amparado pela providência de Deus, mas, acima de tudo, de fidelidade a Deus. Nessa história, trataremos especialmente de aspectos da sua fidelidade a Deus em meio às crises por que passou.

ASPECTOS DA VIDA DE JOSÉ
Antes do nascimento de José, seus pais experimentaram algumas crises que eclodiram trazendo dissabores e tristezas para Jacó. A despeito de Jacó fazer parte do projeto de Deus, sua vida familiar, ainda que próspera, não foi das mais felizes, porque ele não soube administrar os assuntos familiares com sabedoria. Do capítulo 30 até o 37, alguns fatos foram marcantes para o velho Jacó com a perda de três pessoas importantes em sua vida: Débora, a ama de Rebeca (35.8); sua amada esposa Raquel, no parto de Benjamim (35.16-20), e seu pai Isaque, que morreu com 180 anos de idade e foi sepultado por seus filhos Esaú e Jacó junto à sepultura de Abraão na cova de Macpela (35.27-29). José acompanhou o nascimento de seu irmão Benjamim e teve uma vida de adolescente até aos 17 anos cheia de sonhos e ambições como é típico dessa idade.

Quem Era José
José não foi um personagem comum da história bíblica. Sua vida é o testemunho vibrante de um homem de enorme integridade que foi capaz de superar as maiores adversidades ao longo de sua vida dando exemplo de amor, inteligência e perdão. Sua história é uma inspiração, e não pode nunca ser esquecida. Ora, entendemos que a Bíblia é a revelação de Deus e sua vontade para a vida humana e, como disse o apóstolo Paulo aos Romanos 15.4: “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. A palavra dantes abrange todas as verdades inseridas nas histórias bíblicas. São verdades que ensinam no presente e são uma esperança para o futuro. Por isso, a vida de José é uma grande inspiração de fé e esperança.
Portanto, do seu nascimento até aos 17 anos (Gn 30.24—37.2), a sua família era constituída pelos filhos de Lia (ou Leia), pelos filhos das concubinas Zilpa e Bila, e, por último, por seu irmão Benjamim, filho de Raquel (Gn 30.22-24; 35.16-18). A partir dos 17 anos até os 30 anos, iniciou-se um segundo ciclo da sua vida (Gn 37.2-41.46).

José, Objeto de uma Crise de Família
Nesse segundo período de sua vida, o descontrole familiar por parte de Jacó privilegiou uns em detrimento de outros. Jacó não percebeu que sua atitude para com os filhos deu início a um antagonismo dos irmãos de José por causa dos seus privilégios para com o pai. O fruto desse antagonismo familiar para com José resultou em inveja, escravidão, prisão injusta e humilhação que estiveram presentes na sua vida.
A partir dos 30 anos de idade até a sua morte (Gn 41.46-50.26), em especial os oito últimos anos, foram marcados pelo cuidado de Deus à sua vida e houve muita prosperidade no sentido material, político, social c espiritual. Foi a recompensa pela sua fidelidade a Deus e a capacidade tle administrar sua vida de modo inteligente, que fosse bom para si mesmo e para a glória de Deus. Foi nesse período que José deixou a maior lição de perdão aos seus irmãos, superando todos os ressentimentos e vivendo uma vida de paz e harmonia entre todos. Nesse tempo, o Senhor permitiu que visse o rosto de seu pai e ainda trouxesse toda a família para o Egito, perdoando-os, abençoando-os e protegendo-os. Fazendo um retrocesso para entender melhor a história de um vencedor de crises, vamos considerar alguns elementos vitais dessa historia.

José, uma Bênção Transformada em Crise
É interessante perceber na Bíblia que as pessoas que Deus escolheu para manifestar a sua glória e fazer delas o direcionamento de sua vontade nunca foram perfeitas. Pelo contrário, sempre foram pessoas normais, com valores e defeitos, mas que, de algum modo, Deus viu nelas a capacidade de reconhecerem a sua soberania. Foi o caso do pai de José, o velho Jacó. Em termos de qualidade familiar, Jacó não soube administrar muito bem a seus filhos e a sua casa. Porém, há algo especial que Jacó passou para seus filhos: o seu temor a Deus.
Quando nasceu José, foi considerado como “o filho da sua velhice”, o primeiro de Raquel. Sua paixão por Raquel o fez trabalhar 14 anos para que ela fosse liberada e concedida em casamento com ele. Depois dos primeiros anos trabalhados por Raquel, o velho Labão, seu sogro, o enganou e lhe deu Leia (Lia), a irmã de Raquel, e com Lia (Leia) teve sete filhos. Mas sua paixão por Raquel o fez trabalhar outros sete anos na fazenda de seu sogro Labão, para ter a mão de Raquel em casamento.
Casando-se com Raquel, ficou decepcionado porque ela era estéril e não pôde lhe dar filhos imediatamente, mas ele não deixou de amá-la. A esterilidade era o maior estigma para a mulher naquela antiga cultura e, por isso, Raquel sentia-se humilhada, porque não ter filhos se constituía uma desgraça para ela e seu marido. Mas o Senhor interferiu no útero de Raquel e a capacitou para engravidar de José, para sua alegria e de Jacó. Portanto, a alegria desse filho de Raquel fez com que Jacó o amasse tanto que acabou criando uma situação incómoda dentro da família. Sua dedicação a José o tornou rejeitado pelos irmãos. Para aumentar ainda mais o ódio de seus filhos, o velho Jacó privilegiou José dando-lhe uma túnica de várias cores, enquanto os demais continuavam com suas roupas de linho branco áspero. Essa atitude negativa de Jacó provocou não somente inveja e ciúme dos irmãos de José, mas o desejo de se livrarem dele.
Dentro de uma família, todos devem ser amados por igual, independentemente das diferenças de temperamento que cada filho tenha. Jacó foi um mau exemplo de paternidade, porque não soube administrar com sabedoria os sentimentos de sua família.

José, o Alvo de uma Crise de Relações entre seus Irmãos
Duas razões principais podem ser percebidas no comportamento dos irmãos de José. O ódio cresceu em seus corações como uma planta venenosa porque eles não conseguiam admitir o tratamento que seu pai dava a José em detrimento dos demais irmãos.
Uma das razões do ódio de seus irmãos restava da denúncia que José fazia ao pai das más ações cometidas por seus irmãos quando estavam longe da vista do pai. Seus irmãos o viam como um traidor deles porque era o favorito de seu pai e porque a esposa favorita de seu pai era Raquel, sua mãe (Gn 37.3). E difícil entender por que uma família com vários conflitos e com pessoas cheias de ódio, inveja, falsidade e mau comportamento estaria nos desígnios de Deus para a formação de um grande povo. Mas Deus não pensa como nós e nem julga pelos mesmos critérios que nós humanos julgamos. A justiça de Deus é perfeita e seus desígnios estão acima da nossa capacidade de julgar.
A outra razão desse conflito familiar contra José estava no fato de ele ser um sonhador que sempre despontava como líder. Quando José aparecia, de repente, para ver como estavam os seus irmãos, eles diziam uns para os outros: “Lá vem o sonhador!” (Gn 37.19, ARA). No seu último sonho, ao contar para seus irmãos, o enredo do sonho irritou tanto a eles que resolveram entre si dar cabo da vida de José. Mas, ouvindo um dos irmãos mais velhos, decidiram não matá-lo, mas vendê-lo para mercadores de escravos. José contou o sonho aos irmãos, quem sabe por uma inocência de malícia, mas o sonho provocou ainda mais o ódio deles, porque entendiam que José se colocava sempre superior a eles (Gn 37.5-8). Quando José lhes contou o sonho dos feixes de grãos que, atados, estavam em torno do seu feixe, que era o principal, e se inclinavam perante ele, essa história foi o suficiente para que o odiassem ainda mais (v. 8).
Certamente, nem eles, nem José, podiam imaginar que se tratava de uma visão futura que aconteceria dentro dos desígnios divinos, mas não sabiam como interpretar (Gn 42.6; 46.29,30). Sem poderem entender o futuro que lhes reservava, ao ouvirem o sonho de José, preferiam considerar que se tratava de uma ambição e presunção daquele adolescente. Na verdade, nos desígnios de Deus, era uma antevisão do tempo em que ele estaria no Egito como governador e que seu pai e seus irmãos teriam que se inclinar perante ele, o feixe maior (Gn 45.1-8) Nem o seu velho pai aceitou bem o sonho de José, pois o via como presunção da parte dele. Por causa dessa situação, José foi odiado e maltratado por seus irmãos, premeditando até mesmo matá-lo para se verem livres dele (Gn 37.17-20).

JOSÉ SUPERA A CRISE DE HUMILHAÇÃO A Humilhação da Rejeição de seus Irmãos
Rúben, o filho primogénito de Jacó, não deixou que seus irmãos cometessem um assassinato com seu próprio irmão (Gn 37.21,22). Mesmo sabendo que o plano irrefletido de seus irmãos traria maldição sobre suas vidas, Rúben sugeriu que jogassem José numa cisterna velha sem água (Gn 37.24). Antes de o lançarem na cisterna, tiraram sua túnica de cores e a encharcaram de sangue de um cabrito morto para levarem ao pai a túnica rasgada e tingida de sangue e, assim, passarem a ideia de que José tivesse sido atacado por algum animal violento (Gn 37.31). Cheios de ódio contra José, depois de o terem lançado numa cisterna, viram uma caravana de ismaelitas de caminho para o Egito e o venderam para essa gente (Gn 37.28).

A Humilhação da sua Venda aos Ismaelitas
Os ismaelitas eram um povo descendente de Ismael, filho de Abraão e Agar, a escrava egípcia que servia a Sara, sua esposa do patriarca. Naturalmente, tanto Ismael quanto Isaque eram velhos e formaram suas famílias. Ismael cresceu e se desenvolveu no deserto, e Isaque, na terra de Canaã. Muitos anos se passaram e os seus filhos, sem perceberem suas origens abraâmicas, se encontram. Os ismaelitas que passavam por aquela região em que se encontravam os filhos de Jacó eram mercadores, tanto de joias quanto de escravos. Segundo a história bíblica, semelhante às 12 tribos de Israel, também havia uma promessa de Deus sobre os filhos de Ismael, que formariam doze tribos com a sua gente (Gn 17.20; 25.12- 16). Portanto, os ismaelitas, além de meio-irmãos dos filhos de Abraão, eram tribos que viviam no deserto e que negociavam com outros povos. Nesse encontro casual, os filhos de Jacó não perderam a oportunidade de negociar com aqueles mercadores a venda de seu irmão José. Eles o venderam como escravo aos ismaelitas, que lhes deram 20 moedas de prata (Gn 37.28).

A Humilhação da Mentira da Túnica Tingida de Sangue
A ideia de encharcarem a “túnica de cores” que José vestia para enganar o velho pai Jacó é típica de ações modernas de lideranças, não só no mundo dos homens, na vida política, mas até mesmo no seio da igreja. São ações mentirosas e falsas para esconder a verdade. Que Deus nos guarde dessas ações falsas!
Na história dos irmãos de José, a tentativa era de amenizar suas consciências e enganar a Jacó, o pai. Imaginaram ter se livrado de José sem o terem matado, e que essa ação os livraria de uma culpa de assassinato e amenizaria a culpa por terem vendido o próprio irmão. Ao apresentarem a túnica de cores cheia de sangue de cabrito com o intuito de enganar a seu pai Jacó, fizeram-no chorar por muitos dias de tristeza, pois imaginava ter perdido seu filho José para sempre. O velho Jacó não sabia das peripécias enganosas de seus filhos. O ciúme e a inveja de irmãos de José foram de uma crueldade sem precedentes, que encheram o coração do velho pai com grande tristeza (Gn 37.31- 35). Esse estado de coisas ruins foi experimentado por Jacó por causa de má administração familiar. Lamentavelmente, isso não teria acontecido se Jacó tivesse sido mais justo com os seus irmãos na formação do caráter deles. Toda esta situação foi fruto da passividade de Jacó no trato com seus filhos.

JOSÉ SUPERA A CRISE DE SUA ESCRAVATURA NO EGITO
Tão logo chegaram ao Egito, os ismaelitas conduziram José ao mercado de escravos. Seu corpo jovem, forte e bonito chamou a atenção de compradores. Não demorou a aparecer compradores. Surgiu um homem, eunuco de Faraó, capitão da guarda do Palácio de Faraó, e o comprou para servir na sua própria casa. A partir de então a história da vida de José ganha um sentido especial na presciência divina.

José Supera as Adversidades de sua Humilhação
O que é uma adversidade? Significa “contrariedade, revés, infortúnio, aborrecimento, crise”. José experimentou vários reveses que o fizeram sofrer, mas ele foi capaz de não perder o “bom senso” nem se deixou dominar por sentimentos de mágoa e ressentimento. Da terra de Canaã, José foi comprado pelos mercadores ismaelitas e levado ao Egito. No Egito, José foi conduzido ao mercado de escravos e, mais uma vez, foi vendido para um oficial da corte real de Faraó. O oficial, que se chamava Potifar, levou José para a sua casa. Ao perceber que o jovem escravo tinha características diferentes e superiores aos demais escravos, Potifar o colocou como mordomo sobre toda a sua casa, bem como sobre seus negócios. Mesmo sendo escravo, José era privilegiado pela sua inteligência e caráter, e continuou a acreditar nos seus sonhos, ainda que em circunstâncias que pareciam contradizê-los.

José, Elevando de Simples Escravo à Função de Mordomo
Potifar percebeu que José era um serviçal diferente. Tinha ideias e contribuía com seu senhor para fazer prosperar a sua fazenda. Porfiar percebeu, também, que José era um jovem com qualidades morais invejáveis. Por isso, não teve dúvidas em elevá-lo de simples escravo à função de mordomo, gerindo sobre todos os negócios da sua casa. Deus o honrou porque manteve sua fé no Deus de seu pai. Os negócios geridos por José na casa de Potifar prosperaram grandemente, e Deus era com ele.
Ele poderia, quem sabe, ter vivido uma crise de identidade e ser um homem triste e sem esperança, mas foi capaz de romper com essa adversidade mantendo-se fiel a Deus. José foi um exemplo de superação nas crises porque não perdeu o foco de Deus na sua vida. Uma importante lição que aprendemos com essa situação vivida por José é que se antes ele podia exibir uma túnica de cores que lhe dava a imagem de superioridade, no Egito, nos seus primeiros anos, “a arrogância devia ceder ao caráter, a autoconfiança à dependência e confiança em Deus apenas , escreveu Lloyd John Ogilvie. A mão de Deus estava com ele em tudo que fazia. Os seus sonhos seriam concretizados no tempo de Deus, mas convinha que ele enfrentasse todas aquelas adversidades para reconhecer a soberania divina. Em seu serviço a Potifar, em sua fazenda, Jose manteve sua fé em Deus, e os traços de seu caráter se manifestaram em sua lealdade ao seu senhor e fidelidade ao seu Deus.

José Resistiu à Tentação Sexual da Mulher de Potifar
José estava sob a guarda de Deus. Os planos divinos não foram desfeitos na vida de José por causa daquela circunstância de sua escravatura. Pelo contrário, José sabia que os sonhos eram de Deus e não seriam frustrados. O Diabo é o inimigo dos servos de Deus e procura sempre criar embaraços para a efetivação da vontade divina. Tribulações provocadas e tentações que poderiam obstruir o plano de Deus surgem, e não foi diferente na vida de José.
O registro da história nesse episódio diz que “José era formoso de aparência e formoso à vista” (Gn 39.6). Fisicamente, era um jovem bonito, com porte atlético que chamava a atenção. A mulher de Potifar não tinha escrúpulos nem decência moral. Por isso, atraída pela beleza física de José, procurou seduzi-lo para um caso extraconjugal. Queria levá-lo para a cama de qualquer maneira. Ela tramou situações pelas quais pudesse atrair o jovem mordomo. Mas José, fiel a seus princípios de temor a Deus e de respeito próprio e pelo seu senhor, rejeitou a proposta dessa mulher. Ela armou ciladas para levar José para sua a cama, usando de artifícios ate pegá-lo a força e segurando pela roupa de José, mas ele foi forte o suficiente para escapar das suas mãos a ponto de ficar com parte das vestes rasgadas (Gn 39.12). Antes do ataque dessa mulher, José argumentou com ela que não podia praticar tal ato de traição ao seu senhor, que confiava nele. Ela se fez de vítima e acusou José de tentativa de sedução e estupro (Gn 39.14-18). Potifar ouviu a acusação mentirosa de sua mulher contra José e o mandou para a prisão, onde estavam os presos da casa real de Faraó. Ele venceu a tentação, mas teve que, mais uma vez, sofrer humilhação, indo para a prisão.
Temos dificuldades em entender os propósitos divinos quando Deus permite que passemos por situações embaraçosas para podermos chegar ao que Ele quer. Mesmo que mantenhamos conduta respeitável e sejamos fiéis aos princípios cristãos da Palavra de Deus, Ele espera que sejamos amadurecidos e moldados no crisol da experiência para chegarmos ao ponto ideal da vontade de Deus. Talvez José tivesse dificuldades para entender por que tinha de sofrer aquelas humilhações mesmo sendo fiel a Deus. Mas ele não se deixou vencer por essas circunstâncias, porque, no fundo do seu coração, sabia que havia algo maior para a sua vida.

JOSÉ SOUBE SE CONDUZIR COM SABEDORIA DENTRO DA PRISÃO José Foi Abençoado por Deus dentro da Prisão
A tendência natural de todos nós quando sofremos injustiças é a perda do bom senso e o desejo de vingança em algumas circunstâncias. José, pelo contrário, não perdeu o bom senso quando injustamente foi para a prisão, porque tinha a consciência limpa e não havia perdido a fé em Deus que o ajudaria mais uma vez. Em vez de ficar na passividade, ele procurou reagir com atitude disciplinada de não se deixar dominar pela ira, pelo rancor, podendo alimentar ideias de vingança. José procurou agir com coerência, tomando o controle da situação em que estava. Era um preso igual aos outros, mas que podia fazer diferença caso se mantivesse equilibrado e confiante em Deus. Na verdade, ele se tornou uma vítima da injustiça, porque o seu senhor nem quis ouvir a verdadeira história que envolveu a mulher de Potifar. Por algum tempo, mesmo tendo conquistado a confiança do oficial responsável pelos presos, ele estava preso e esquecido.
No mundo em que vivemos, existem tantas histórias de injustiças de pessoas punidas por algo que não praticaram. No Novo Testamento, o apóstolo Pedro parecia estar se referindo a esse tipo de injustiça quando escreveu: “Porque é coisa agradável que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus” (1 Pd 2.19,20). Esta escritura revela a todos nós que Deus age, também, através das circunstâncias adversas para que o conheçamos e nos inteiramos de seu projeto para nós.
José sabia que havia um propósito maior para a sua vida. Ele sabia como Deus trabalha para um propósito, mesmo que não o compreendamos inicialmente. Deus disse ao profeta Isaías: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.8). Portanto, para José, os sonhos que tivera quando ainda estava na casa de seu pai não eram meras figuras sem sentido, mas continham a revelação de que Deus faria com ele algo muito superior a qualquer circunstância adversa. Eram os sonhos que tivera ainda na casa do pai em Canaã. Ele sabia que, de algum modo, Deus cuidaria dele naquela adversidade dentro da prisão (Rm 2.4; SI 36.7; 119.76). Talvez ele pudesse declarar como Davi no Salmo 124.2-4: “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos, quando a sua ira se acendeu contra nós; então, as águas teriam transbordado sobre nós, e a corrente teria passado sobre a nossa alma; então, as águas altivas teriam passado sobre a nossa alma”. Lá dentro da prisão, José, inteligentemente alcançou graça e simpatia com o carcereiro-mor, que viu nele qualidades de um homem reto, ético e autêntico, e não um bandido.

José Alcançou Graça perante o Capitão da Guarda dentro da Prisão
Naquela prisão, José foi sustentado pela benignidade de Deus. Ele poderia ter sido afetado psicologicamente com a lembrança ruim de algumas experiências que teve quando foi tratado de modo injusto por seus irmãos. Lembrança da intenção dos seus irmãos de querer matá-lo e, não podendo concretizar o plano de assassinato, o venderam como escravo. Ele poderia, no interior daquela prisão, sentir-se só, abandonado, esquecido de todos. Mas, pelo contrário, José não se deixou vencer pelo negativismo; ele foi capaz de manter seu espírito pronto para superar mais uma vez aquela situação. Logo, o capitão da guarda da prisão agra- ciou-se tanto de José que o fez líder dentro da prisão. Estavam presos naquela prisão dois funcionários especiais da cozinha da casa de Faraó, o copeiro-mor e o padeiro-mor, com os quais o rei havia se aborrecido e mandou prendê-los. José fez amizade com os dois presos da casa do rei e ganhou a confiança deles. Pela providência divina, aqueles dois presos da casa do rei tiveram sonhos e contaram a José, que os interpretou (Gn 40.5-13). Inteligentemente, José interpreta o sonho do copeiro-mor, afirmando-lhe que seria restaurado à sua posição para com o Faraó. Então, José pediu a esse copeiro-mor que, quando estivesse servindo ao rei o seu vinho, lembrasse dele perante o rei. Posteriormente, a interpretação se confirmou com o destino dos dois presos. O padeiro-mor foi enforcado, mas o copeiro-mor foi restaurado à sua posição. Contudo, diz o texto que “o copeiro-mor [...] não se lembrou de José; antes, se esqueceu dele” (Gn 40.23). Por algum tempo, José continuou preso, esperando apenas em Deus a interferência no momento certo. Dois anos se passaram desde que o copeiro do rei voltou ao seu serviço, até que o Faraó teve um sonho, e o copeiro lembrou-se de José (Gn 41.12-14).

JOSÉ REVELA SABEDORIA E HUMILDADE DIANTE DE FARAÓ
Por algum modo especial, a mão de Deus estava sobre José. Ficou dois anos esquecido no seu cubículo dentro da prisão, tendo oportunidade para pensar, refletir e comungar com Deus sobre todas as coisas na sua vida desde que saiu de casa aos 17 anos de idade. Sua experiência com Deus lhe propiciou a oportunidade de adquirir conhecimento e aguçar sua inteligência para usá-la no momento certo. Depois de dois anos desde que o copeiro do rei fora liberto e voltara à sua posição anterior, não havia se lembrado ainda de José. Então, Faraó teve sonhos que lhe tiraram o sono da noite. Querendo a interpretação dos sonhos e não a tendo pelos seus adivinhos e astrólogos, surge o copeiro, que, ao servir o vinho ao rei, lembrou-se de José. A partir de então, uma nova jornada na vida de José se inicia.

José Foi Lembrado perante Faraó
José tinha o coração íntegro. Embora as nuances daquele momento que vivia na prisão pareciam desmoronar sobre sua vida, mas ele não perdeu a esperança. A providência divina, que age no momento certo, propiciou-lhe a oportunidade da mudança de situação. Deus concedeu dois sonhos tão contundentes e significativos que desestabilizaram completamente o Rei.
Pela cultura egípcia, os sonhos eram supervalorizados e interpretados como presságios bons ou ruins às pessoas que tinham esses sonhos. Não conseguindo entender o que os seus sonhos representavam, Faraó ficou com o espírito angustiado em busca do entendimento desses sonhos. Convocou seus magos, adivinhos e astrólogos para que os interpretassem, mas nenhum deles conseguiu convencer o rei acerca do significado daqueles sonhos. Esses astrólogos e adivinhos viviam à mercê do palácio e, naquele momento, não conseguiam dar nenhuma interpretação que convencesse o rei das suas pretensas interpretações (Gn 41.8). Então, quando o copeiro do rei lhe servia o vinho, vendo a perturbação do seu coração, já havia se passado dois anos, quando se lembrou de José. Então o copeiro falou ao rei sobre o que acontecera com ele e o padeiro-mor, tendo-se cumprido fielmente a sua interpretação. O rei ficou pasmado com a exatidão do cumprimento dos sonhos do padeiro e do copeiro, e ordenou que trouxessem José à sua presença. O que podia parecer esquecimento e atraso no plano divino era, de fato, o momento exato da interferência divina para que José saísse do seu sofrimento. Os homens podem esquecer facilmente, mas Deus não nos esquece. Tudo quanto José havia passado era, na verdade, uma oportunidade de ser preparado para a grandeza. De experiências sombrias em grande parte da sua vida, José agora experimenta a mão de Deus o conduzindo para um lugar ao sol.

José Foi Conduzido à Presença de Faraó
Ninguém podia ir à presença do rei como um escravo, mal vestido e com imagem de maltrapilho (Gn 41.14). Ele foi preparado para entrar na presença do rei e, quando entra na sala do rei, mesmo estando com vestidos novos e nobres, José não entrou na sala do trono com arrogância, mas com humildade e temor a Deus. Ele sabia que fora Deus quem o fizera chegar à sala do trono. O rei disse da informação que teve a seu respeito como alguém que sabia interpretar sonhos. José, de imediato, respondeu ao rei: “Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó” (Gn 41.16). O rei contou o sonho para José ouvir. Depois de atentamente ter ouvido o rei, José mais uma vez falou: “Esta é a palavra que tenho dito a Faraó; o que Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó” (Gn 41.28).
Esse episódio nos leva a refletir que o sofrimento, quando tratado de modo equilibrado, pode moldar uma vida e levá-la à grandeza. Sem dúvida, as lutas e cicatrizes da vida formam o fundamento para conquistas maiores quando sabemos administrar essas adversidades. Temos dificuldades em admitir que os sofrimentos podem nos ensinar a lidar com circunstâncias adversas. Cada episódio na vida de José, desde sua saída da casa de seu pai, está dentro dos desígnios de Deus. Agora, depois de tantas humilhações, José é abençoado pelo Senhor caindo na graça de Faraó.

José Ouviu e Interpretou os Sonhos de Faraó
Sem dúvida, o ponto crítico desse encontro de José com Faraó foi o seu sonho. José não podia imaginar que nesse dia, como qualquer outro dia na cela da sua prisão, repentinamente ele foi levado perante o rei. Foi o começo de algo maravilhoso preparado por Deus para a vida de José. Aquele dia especial foi precedido por um sonho perturbador que o rei tivera, mas Deus o conduziu àquele momento especial.
O rei contou os sonhos a José, e o Espírito de Deus abriu o seu entendimento para dar a interpretação. José declara ao Faraó que o Deus de seus pais, o seu Deus, daria a resposta de paz ao coração do rei (Gn 41.16). Com graça e revelação, a mente de José foi iluminada pelo Espírito Santo, e ele interpretou os sonhos afirmando que os dois sonhos se resumiam num só, pois dentro de pouco tempo o Egito passaria por uma grande escassez de alimentos. Para evitar a crise, o rei deveria prover os reservatórios e celeiros de alimentos para os tempos difíceis. José achou graça diante de Faraó, que ficou impressionado com a sua habilidade e facilidade argumentativa sob a égide do Espírito Santo, a ponto de falar com tanta clareza acerca dos sonhos. A graça de Deus foi uma demonstração da soberania divina sobre sua vida. O Faraó, imediatamente, entendeu que José tinha inteligência e habilidade administrativa para ser o seu governador sobre todo o Egito, estando abaixo apenas do próprio Faraó (Gn 41.33-57).


CONCLUSÃO

José foi exaltado em todo o Egito e ninguém era maior que ele. Como governador, José soube ser leal ao Faraó e administrar todo o Egito com muita lucidez e graça diante de Deus. Por isso, José é um testemunho de que Deus nunca nos esquece. Todas as dificuldades pelas quais passamos na vida, especialmente quando estamos dentro de um plano divino, são modos distintos de aprendermos a lidar com as várias situações. Antecipadamente, Deus preparou o espírito de José para as crises que enfrentaria quando lhe falou por meio de sonhos. José não se esqueceu de que Deus estava com ele, não só nas humilhações, mas também quando exaltado diante dos homens para que a glória de Deus fosse lembrada.

As crises existenciais são superadas por uma fé genuína em Deus.


Fonte: Livro O Deus de Toda Provisão
Esperança e sabedoria divina para a Igreja em meio às crises

Elienai Cabral


CPAD

Rio de Janeiro 2016