(SUBSÍDIO TEOLÓGICO) 5ª LIÇÃO- ABRAÃO, LÓ E AS CAMPINAS DO JORDÃO


Amando ao Senhor, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e te achegando a ele; pois ele é a tua vida e a longura dos teus dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque e a Jacó, que lhes havia de dar.
- Deuteronômio 30.20

O caminho que Abrão teria que percorrer traçado por Deus não era um caminho sem as dificuldades próprias que surgem na caminhada. Mas seria um caminho sob a égide de Deus, e Abrão não teria o que temer, porque Deus cuidaria dele e tudo quanto possuía. Entretanto, Abrão se deixou dominar pelo sentimentalismo familiar e permitiu que seus parentes interferissem na sua caminhada traçada por Deus para a “Terra Prometida”.
Quando Deus o chamou, fez-lhe um desafio em que a obediência seria o ponto-chave do sucesso do projeto de Deus na sua vida. Esse projeto revelado a Abrão acerca da Terra Prometida não incluía seus parentes, mas Abrão não conseguiu dizer não para os seus familiares, e estes criaram várias dificuldades ao longo da sua peregrinação desde que saiu de Ur dos Caldeus (Gn 12.1). Havia um sobrinho chamado Ló que tinha família formada e estava instalado naquela terra. Ele era ambicioso e sonhador, por isso, sem que Abrão pudesse explicar que o plano não o incluía, Ló juntou seus pertences, levando mulher, filhos, servos e servas, seu gado e tudo quanto poderia carregar em seus animais seguindo a mesma rota do caminho de Abrão. Na realidade, o plano original de Deus para Abrão foi interceptado por aqueles parentes que lhe trouxeram muitos problemas. Essa interferência foi mantida por muitos anos, mas Deus, paciente e amoroso, soube esperar o momento certo para agir e liberar Abrão e Sarai daquelas amarras familiares.
No capítulo 13, Abrão ainda era identificado pelo nome de família, Abrão”, bem como sua esposa, “Sarai”. Depois alguns anos, desde que saiu de Harã, já com 99 anos de idade, Deus promove um encontro pessoal com Abrão, lhe faz promessas e muda o seu nome de Abrão para “Abraão”, com o significado de “pai de uma multidão de nações”. Também trocou o nome de Sarai para “Sara”, cujo significado é “mãe de nações”, e lhe promete um filho em sua velhice (Gn 17.1,4,5,15). Da semente de Abrão formaram-se muitas nações.
Entretanto, essa história vem demonstrar ao povo de Deus hoje, a Igreja, que as interferências humanas e materiais podem prejudicar os projetos de Deus para a nossa vida. Abrão deveria, tão somente, obedecer e fazer a vontade de Deus e, então, todas as coisas fariam seu curso normal porque Deus garante o que diz. Embora Deus determine todas as coisas, Ele o faz respeitando a vontade do homem, seu livre-arbítrio. Por isso, cada um de nós é responsabilizado pelas decisões que tomamos. Deus tem sua vontade soberana e pode determinar o que quiser, mas, ao mesmo tempo, Ele faz valer suas misericórdias quando não correspondemos plenamente o que Ele nos ordena fazer. Por isso, Deus não desistiu de Abrão porque sabia que ele o amava e queria fazer a sua vontade. Deus sabia também que Abrão, como homem, tinha as limitações próprias que poderiam criar algumas dificuldades.

0 CUIDADO COM NOSSAS ESCOLHAS Interferência de Provações Imprevisíveis
Nossas escolhas podem influenciar nossas decisões para bem e para o mal. Muito das nossas escolhas tem a ver com a questão da vontade, a nossa vontade e o confronto com a vontade de Deus. Todos queremos fazer a vontade de Deus, mas sabemos que fazer a vontade de Deus, quase sem exceção, envolve riscos, ajustes, decepçóes, sucessos e derrotas e, também, mudanças. Normalmente amamos tudo aquilo que for familiar e conhecido por nós; gostamos em especial das coisas que podemos controlar. Nossas escolhas pessoais envolvem esses elementos. Em relação a Deus, queremos entregar a Ele nossos desejos e alinhá-los com o seu querer. Porém, quando temos de escolher um caminho de renúncia que Ele nos mostra para percorrer, temos dificuldades com a aceitação desse desafio. Abrão, mesmo percebendo a dureza do caminho que lhe mostrara, creu em Deus, mas, como homem, cometeu alguns deslizes que resultaram em consequências ruins.
Há momentos na vida de um servo de Deus que se tornam difíceis, principalmente quando se precisa tomar decisões. A fé nas promessas de Deus era o estímulo maior para a peregrinação de Abrão à Terra Prometida. Entretanto, ele teria que se manter fiel ao plano original de Deus e saber que as provações seriam inevitáveis.
Ao deparar-se com “a fome na terra”, deixou de buscar de Deus a direção para a sua vida e tomou a decisão de ir para o Egito, terra que tinha pastagens para o seu gado e muita riqueza. Ele baixou seus olhos para as coisas da terra e, então, fraquejou na fé quando, mesmo com o empobrecimento da terra onde estava vivendo, não lhe faltava nada. Ele mudou a visão da Terra Prometida por uma visão limitada e materialista. Foi dominado por um sentimento de ambição material ao ouvir da prosperidade da terra do Egito. Decidiu então sair de terra de Canaã e tomar o caminho do Egito sem consultar a Deus. Abrão permitiu que a força da carne o dominasse e seu coração se enchesse de ambição. Dominado por essa força carnal, ele decidiu quebrar seus princípios éticos e morais e, para sobreviver sem ser incomodado, mentiu e usou de engano (Gn 12.11). No Egito, Abrão não levantou um altar ao Senhor como sempre fez desde que havia saído de Harã. Por pouco não perde tudo, inclusive com a ameaça de morte.
O caminho fora da vontade de Deus induz aos caminhos tortuosos e pecaminosos. Sem dúvida, Abrão entristeceu a Deus e não o consultou sobre qualquer decisão que tomou naquela terra. Mesmo assim, Deus, que o amava, não desistiu de dele. Pelo poder soberano divino, o Senhor interferiu naquele momento histórico em que Abrão e Sarai corriam o risco de serem mortos por terem enganado o próprio rei do Egito. O Senhor enterneceu o coração de Faraó para que o casal não fosse punido no Egito. O cuidado de Deus ainda estava com o casal quando Abrão entendeu que precisava começar tudo de novo e pedir o perdão de Deus pelo seu descaminho.
Abrão, então, deixou o Egito e voltou para Betei, e naquele lugar onde Deus o abençoara tão abundantemente, ele lembrou-se do Senhor e, mais uma vez, levantou um altar de pedras ao Senhor” (Gn 12.4). Quando havia saído de Betei e tomou o caminho do Egito, Abrão não ofereceu culto algum a Deus. Apesar dessa fraqueza de atitude, Deus não o abandonou e manteve seu propósito com ele. Porém, Abrão ainda enfrentou algumas dificuldades.

Interferência no Plano de Deus
Depois que Abrão decidiu voltar, também Ló o acompanhou de volta a Canaã. Ambos progrediram e aumentaram seus gados e riquezas, mas começou a haver conflito entre os pastores de ambos porque o espaço geográfico ficou pequeno para eles. Abrão, desde que voltara do Egito, mais que nunca, entendeu que Ló não fazia parte do plano de Deus e ainda estava provocando problemas.
A lição difícil que se aprende nessa história é que o fruto da desobediência é sempre amargo. Abrão estava vivendo essa experiência por ter se deixado dominar por situações que poderia ter evitado quando se dispôs sair da sua terra em Ur dos Caldeus. A interferência de Ló começou a provocar problemas de ordem social dentro da família. O tempo todo o seu sobrinho Ló havia saído com tudo o que possuía, gados e pessoas para servi-lo e, onde chegavam, os seus pastores procuravam as melhores pastagens em prejuízo do gado de Abrão. Começou a haver choque de interesses, e Ló não teve o menor respeito por seu tio Abrão quando seus pastores começaram a contender com os pastores os dele.
Ao deparar-se com o problema, Abrão entendeu a gravidade do conflito e entendeu que era a hora de definir a situação. Então, procurou fazer isso da melhor forma possível, confiando na provisão e promessa de Deus que lhe daria sabedoria para solucionar esse conflito. Essa interferência não invalidou a promessa de Deus para Abrão, mas ele entendeu que, se não podia voltar ao início de tudo, pelo menos podia amenizar o problema confiando que Deus o perdoaria. É sempre perigoso quando permitimos interferências no plano de Deus para a nossa vida.

Interferência de Sentimentalismos
Quando alguém toma consciência do plano de Deus, deve desven- cilhar-se de qualquer coisa relacionada à sua vida pessoal que possa vir a ser um obstáculo ao plano divino. No caso de Abráo foi o sentimento familiar que bloqueou sua decisão de apenas obedecer a Deus e sair do meio de seus parentes indo para a terra que o Senhor lhe havia prometido. Ao estabelecer esse requisito a Abráo, ele deveria ter saído imediatamente daquela terra.
O desafio e a promessa envolviam a conquista de uma terra de leite e mel (Gn 12.1), mas ele ficou empolgado e revelou o projeto de Deus à família. A revelação do projeto fez pulsar a ambição de toda a familia, a partir do próprio pai Tera, além de Ló, sobrinho de Abrão, filho de seu irmão Naor. Então Abraão, pressionado por seus parentes e, principalmente, pelo pai Tera, não conseguiu sair so com sua esposa. Ele não conseguiu desvencilhar-se de seus parentes. Sentimentos familiares interferiram no plano original e ele não conseguiu dizer para a família que não estavam incluídos. Quando permitimos que os nossos sentimentos pessoais interfiram no plano de Deus para a nossa vida, não conseguimos evitar as consequências dessa atitude.

Interferência no Espaço e Geográfico que Era Destinado para Abrão
A vontade de Deus para Abrão era uma vontade específica que deveria, tão somente, ser obedecida sem permitir que interferências a impedissem de ser concretizada. Entretanto, as interferências no plano original de Deus para Abrão foram várias, a começar pelos parentes; depois, pelo espaço físico que deveria pertencer apenas a Abrão e sua mulher. Mas o texto de Génesis 13.6 diz literalmente que: “E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos , entáo, começaram a surgir os conflitos dentro desse espaço.
Há uma lei na ciência da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Metaforicamente entendemos que Deus havia estabelecido um espaço dentro do seu plano para Abrão e, portanto, aqueles familiares no contexto do plano original de Deus eram excedentes e não faziam parte do plano divino. Na realidade, toda essa situação tornou-se uma intromissão no plano de Deus, e Abrão se viu obrigado a aceitar, trazendo-lhe péssimos resultados. Não se tratava apenas de um espaço físico comprimido entre Abrão e Ló, mas significava uma intromissão no espaço que Deus havia destinado apenas para Abrão e sua esposa Sarai.
Em nossos tempos, no meio cristão, especialmente no seio da igreja, desenvolvem-se desacordos e contendas por causa de campo de trabalho eclesiástico. Se não houver uma solução cristã capaz de neutralizar a contenda, parte-se para a separação de interesses.

Conflitos Modernos nos Espaços Eclesiásticos
 Lamentavelmente, existem interferências e invasões de igrejas em campos alheios em que a ética parece ter sido aposentada na cabeça de algumas lideranças, que justificam suas atitudes em nome do crescimento da igreja. Não respeitam limites nem agem com bom senso, sem levar em conta pelo menos um limite geográfico que respeite o campo de trabalho do outro. Essas interferências não têm respaldo bíblico nem apoio do Espírito Santo, porque tais atitudes promovem conflitos que não glorificam a Deus.

RUPTURAS GERADAS POR ESCOLHAS MAL FEITAS
Em meu livro Abraão, a Experiência de nosso Pai na Fé (CPAD), apresentei como resultado negativo do conflito entre Abrão e Ló algumas rupturas que culminaram com a quebra de relações familiares e a separação inevitável entre ambos. Além das interferências circunstanciais a que havia se submetido, as rupturas provocadas pela contenda com Ló fizeram com que Abrão, mais uma vez, levantasse um altar e ali invocasse o nome do Senhor a fim de obter de Deus a graça para saber administrar aquela situação entre ele e Ló. Abrão não queria cometer nenhuma injustiça, mas sabia que, inevitavelmente, a decisão que tomaria traria pesar e separação entre ambos. Ao oferecer sacrifício ao Senhor, Abrão foi fortalecido em sua fé (Gn 12.8). Anteriormente, Abrão já havia experimentado o dissabor da sua estada no Egito, mas agora, o Senhor desperta a sua mente para o reinicio de sua caminhada de fé para a conquista final do plano original. Entretanto, esse reinicio seria palmilhado por algumas rupturas produzidas por aquela contenda. Destacamos, pelo menos, três rupturas.

A Primeira Ruptura Foi Social
Não foi fácil para Abráo decidir a separação, porque ele tinha um coração generoso a despeito da atitude egoísta de Ló, sua família e seus pastores. Mas ele precisou decidir, mesmo sabendo do que iria incidir como resultado daquela decisão. É natural que, quando tomamos uma decisão que atinge o nosso emocional, nos assaltem duvidas e hesitações que poderiam imobilizá-lo. Eram dúvidas que respondiam a temores íntimos e que poderiam impedi-lo de agir com convicção. São os medos interiores que embargam nossas ações e podem prejudicar o nosso futuro. Mas Abrão foi capaz de superar esses medos, e mesmo com o coração partido, ele precisou escolher a separação do seu sobrinho.
A separação entre ambos foi, na verdade, produzida pela contenda entre os seus pastores, de Ló e de Abrão, por causa das pastagens e água que não eram suficientes para os dois. Abraão tinha consciência de que seu erro iniciou quando saiu de Harã para ir a terra que Deus havia lhe prometido. Ló começou a agir de forma egoísta a ponto de perder o respeito ao seu tio Abráo. Aceitou os argumentos de seus pastores de ovelhas e cabras e permitiu que a contenda agisse como um vírus que contagiou a relação com os pastores de Abrão. Brigaram por causa dos poços abertos sob a sua tutela e queriam se apossar desses poços. Abraão entendeu que seria impossível viver pacificamente com seu sobrinho quando os interesses estavam acima do respeito familiar e do temor a Deus.

A Segunda Ruptura da Concessão
Para evitar maiores confusões, Abrão estava consciente de que o que estava acontecendo era o fruto de sua falha em ter permitido que Lo o acompanhasse. Mas, acima de tudo, Abráo estava debaixo da bênção de Deus e estava disposto a pagar o preço pelo erro passado. Quando ofereceu sacrifício ao Senhor em Betei, Abrão estava em paz consigo mesmo porque naquele monte ele havia renovado seu pacto com Deus (Gn 13.4). A partir de então, ele estava pronto para assumir as responsabilidades de seus atos e decidir sobre coisas que não mais restringiriam sua obediência completa ao plano original feito por Deus.
Abraão sabia que sua decisão implicaria na concessão de coisas, mesmo com perdas, para que o plano divino não fosse obstruído por qualquer outra circunstância. Para que não houvesse mais constrangimento entre ambos, eles deveriam separar-se geograficamente (Gn 13.8,9). Partiu de Abrão a oportunidade oferecida de escolha. Em sua decisão, Abrão preferiu fazer concessões que propiciassem a paz entre ambos, mesmo que se separados geograficamente.

A Terceira Ruptura Foi a Cobiça de Ló
Com essa concessão do velho Abrão para o seu sobrinho Ló, percebe- -se que a cobiça de Ló foi um dos motivos da contenda entre ambos. À sombra da prosperidade de Abrão, o seu sobrinho Ló ia tirando proveito com o aumento de sua fazenda e de sua riqueza, mas Ló não tinha visão espiritual do projeto de Deus que só Abrão sabia e conhecia. Não foi leal com seu tio quando não puderam mais conviver na mesma terra. Por isso, com a opção da escolha concedida por Abrão, Ló expôs sua ambição carnal e material, e não teve a menor consideração pelo seu tio Abrão.
A palavra “cobiça” pode ser identificada na Bíblia como “avareza, avidez, ganância”. Na verdade, a cobiça que dominou a mente e o coração de Ló era tão forte que ele não teve escrúpulos em tirar proveito do seu tio Abrão. Mas o velho Abrão temia ao Senhor, e sabia que Deus cuidaria dele e o abençoaria onde ele colocasse os pés. Essa ruptura da cobiça aconteceu nas relações familiares e entre seus pastores, porque ela sempre produz contenda e infecciona todo um ambiente de paz (Pv 17.14; Fp 2.3,4). A cobiça de Ló o tornou ardiloso e insensível; por isso, seu coração endureceu e a contenda provocada trouxe muitos espinhos que feriram as relações de convivência entre as famílias.
Um dos mandamentos de Deus para o povo de Israel, alguns séculos depois, destacava a cobiça como algo que deveria ser punido no meio do povo. Era o décimo mandamento que condenava e proibia a cobiça de tudo quanto é coisa que envolvesse a casa do vizinho, sua esposa, servos, gado ou qualquer outra coisa alheia (Êx 20.17). Existe uma história no Antigo Testamento acerca do rei Acabe que, cobiçando a vinha de Nabote, não teve qualquer escrúpulo juntamente com sua diabólica mulher Jezabel em mandar matá-lo para possuir a vinha de Nabote, que era uma herança de seus pais (1 Rs 21.1-16). No Novo Testamento, a cobiça é condenada como uma forma de idolatria (Cl 3.5, NTLH). Na Carta aos Romanos 7.7, Paulo fala da cobiça como uma força da carne que precisa ser bloqueada para obter uma vida cristã vitoriosa. Jesus condenou a cobiça, quando fala de “avareza” em um dos seus discursos: “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem” (Mc 7.21-23). Em 1 Timóteo 6.10, o apóstolo Paulo declara que “o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males”. Foi o caso de Ananias e Safira, que mentiram por causa da cobiça e avareza de seus corações (At 5.1-11). No caso de Ló, sua cobiça o fez perder o bom senso e o respeito pelo seu tio.

DUAS ESCOLHAS
Abrão chegou a um ponto no qual não podia mais voltar atras; tinha que escolher uma decisão que pudesse resolver o problema do conflito entre ele e Ló. Na história da Literatura sul-americana, no Chile, o poeta Pablo Neruda declarou certa ocasião: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. Ele disse, ainda: “Escrevo isso porque acredito mesmo que podemos decidir sobre aquilo que é melhor para nós”. Uma vez que as nossas escolhas definem as consequências que teremos que viver mais a frente.

A Escolha de Ló
Saber fazer as escolhas é sinal de sabedoria. Por outro lado, devemos entender que tudo o que escolhemos fazer gera consequências para nós e atinge as pessoas do nosso convívio. Até que ponto a nossa escolha afetara as pessoas ao nosso redor. Parece-nos que Ló, dominado pela avareza em seu coração, não percebeu o mal que estava fazendo para si mesmo e acabaria atingindo as pessoas do seu convívio.
O texto diz que levantou Lo os seus olhos e viu toda a campina do Jordão”. Pela ética familiar, o direito de escolha era de Abrão, mas Abrão preferiu oferecer a Lo a oportunidade de escolher. Abrão subiu a um lugar alto e mostrou a Ló os dois lados das terra à vista, do lado oriental e do lado ocidental (Gn 13.10,11). A visão egoísta e materialista, sem pestanejar, focalizou as melhores terras do lado Oriente, onde estavam as campinas do Jordão, próximas das cidades de Sodoma e Gomorra. Havia grandes e vastos campos para o seu gado e para o plantio. Abrão não duvidou da promessa de Deus e olhou o outro lado onde havia enormes montanhas e que não inspiravam qualquer sonho para a terra de Canaã e habitou ali (Gn 13.12).
Ter atitude de respeito, compreensão, contribuição, cooperação, amizade, amor, tolerância e gratidão são elementos positivos que encurtam o caminho de quem faz a vontade de Deus. A escolha egoísta de Ló, não muito depois daquela decisão, com poucos anos naquela terra que havia escolhido em prejuízo de seu tio Abrão, converteu-se em morte e destruição para as cidades de Sodoma e Gomorra. Ao escolher o que entendia ser a melhor parte, nas campinas do Jordão, não podia imaginar o dedo de Deus naquele lugar onde perdeu tudo o que tinha, inclusive a família. Diz a Bíblia que Ló armou as suas tendas até Sodoma e passou a habitar naquela cidade (Gn 13.12). As consequências inevitáveis aconteceram e, mesmo que Ló procurasse ter uma vida de retidão onde vivia, não conseguiu dominar o ímpeto de sua família, perdendo a autoridade sobre sua mulher e suas filhas, as quais se corromperam com o estilo de vida depravado daquela cidade (Gn 19.14,16,17). Lo escolheu segundo o espírito do mundo representado por Sodoma e Gomorra.

A Escolha de Fé de Abrão
Abrão, um homem de fé, confiou na provisão de Deus e, por isso armou as suas tendas, e veio, e habitou nos carvalhais de Alanre, que estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao Senhor”. Nos lugares que lhe restaram na terra de Canaã, não havia campinas verdejantes nem terra fértil para o plantio. As fontes de água eram poucas, porque era uma região pedregosa e montanhosa, mas Abrão sabia que, aquilo que parecia ser o pior, era, de fato, o melhor, porque, ao depender de Deus, o aparente prejuízo foi transformado em lucro.
No Egito, Abrão teve que viver por “vista”, e não “por fé”. Por isso, sua visão apenas horizontal para a prosperidade das terras egípcias roubou a sua visão vertical para Deus. No Egito, ele enfrentou dissabores morais e espirituais que marcaram a sua vida. Ló, enquanto estava à sombra de seu tio Abrão, tinha a bênção de Deus, mas buscou liberdade para reger sua própria vida, a prosperidade conquistada não durou muito tempo. Naquelas belas campinas do Jordão, Ló perdeu sua família, seus bens e até a honra, mas Abrão recebeu a promessa de uma família que encheria a terra. Quando Deus é o primeiro em nossa vida, não importa quem é o segundo ou o último. O que parecia perda com a escolha gananciosa de Ló, na verdade, converteu-se em lucro para o patriarca.

CONCLUSÃO
Jesus, em um dos seus discursos, fez uma séria advertência aos seus discípulos, lembrando a triste e decadente história de Ló e sua família em meio a uma geração corrompida, como foi a de Sodoma e Gomor- ra. Com poucas palavras, apenas disse: “Lembrai-vos da mulher de Ló” ( Lc 17.32). Em nossos dias, muitos cristãos se deixam levar pela avareza e tornam seus corações ambiciosos, porque se deixam dominar pelo espírito do mundo moderno, mas Jesus adverte-nos, dizendo: “E olhai por vós, para que não aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia” (Lc 21.34).
Abraão creu no invisível e foi abençoado pelo Senhor. A terra que ele teve que escolher era inóspita e pedregosa, e não parecia produzir riqueza alguma, mas Abrão aprendeu a depender de Deus, que o fez prosperar e crescer. Nessa história, a despeito de algumas situações de fraqueza a que se rendeu Abrão, em nenhum momento deixou de temer ao Senhor. Se, por um pouco, oscilou na fé e se descuidou da relação com Deus, seu caráter passou por uma drenagem e limpeza para que ele aprendesse a não depender de ações temperamentais. A partir de então, ele pôde iniciar a retomada do caminho da fé. As decisões erradas de outrora seriam apenas lembranças de algo que ele não cometeria mais. Seu caminho estava agora livre para alcançar a vitória do Senhor.

Deus deu o livre-arbítrio ao homem para que, com inteligência e temor em seu coração, saiba escolher e decidir sobre sua vida.

FONTE: ODeus de Toda Provisão Esperança e sabedoria divina para a Igreja em meio às crises

Elienai Cabral

Iª Edição DA CPAD

Rio de Janeiro 2016